Introdução: Meditaremos hoje na virtude da moderação nos mistérios luminosos do Santo Rosário. Por essa virtude, vivida de modo excelente pelo Senhor Jesus e Santa Maria, nos tornamos senhores de nós mesmos e desapegados dos bens objetivos para nós e de tudo aquilo que nos traz alguma satisfação.
Primeiro mistério: O Batismo no Jordão
“Nesse tempo, veio Jesus da Galileia ao Jordão até João, a fim de ser batizado por ele. Mas João tentava dissuadi-lo, dizendo: “Eu é que tenho necessidade de ser batizado por ti e tu vens a mim?” Jesus, porém, respondeu-lhe: “Deixa estar por enquanto, pois assim nos convém cumprir toda justiça” E João consentiu” (Mt 3,13-15).
Meditação: João Batista, homem justo e moderado, sabia que não merecia nem sequer desatar as sandálias de Jesus, muito menos batizá-lo. “Deixa estar”, disse-lhe Jesus, abrindo mão, com moderação, do reconhecimento que realmente merecia. Quantas vezes nós nos entristecemos porque não recebemos o reconhecimento por alguma obra boa que praticamos! A moderação nos ajudará a ser mais sóbrios no cumprimento das nossas responsabilidades, a receber o reconhecimento com tranquilidade e alegria quando ele vier, mas a não busca-lo como fim principal dos nossos atos. O importante é “cumprir toda justiça”, como o Senhor e como o Batista, independentemente do reconhecimento que recebamos.
Segundo mistério: A auto-revelação nas Bodas de Caná
“Então a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho”. Respondeu-lhe Jesus: “Que queres de mim, mulher?” Minha hora ainda não chegou”. Sua mãe disse aos serventes: “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2,3b-4).
Meditação: Com quanta discrição, moderação e abertura ao Plano de Deus é feito o pedido de Maria a Jesus para que ele realizasse o milagre de transformar a água em vinho! Assim também nós devemos pedir, com docilidade e confiança, sabendo que Deus nunca deixará faltar o que realmente necessitamos para nossa santidade. Ele, aliás, vai muito além, porque é bom, generoso e compassivo, como nos mostra em Caná, ao atender ao pedido de sua Mãe por um bem acessório, como é o vinho, mas que era muito importante para a celebração de uma boda, no contexto da cultura judaica da época.
Terceiro mistério: O anúncio do Reino
“Estando ainda a falar às multidões, sua mãe e seus irmãos estavam fora, procurando falar-lhe. Jesus respondeu àquele que o avisou: “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? E apontando para os discípulos com a mão, disse: “Aqui estão a minha mãe e os meus irmãos, porque aquele que fizer a vontade de meu Pai que está nos Céus, esse é meu irmão, irmã e mãe” (Mt 12,46-50).
Meditação: Como filhos de Maria, que a amamos e temos um grande carinho e devoção a Ela, quanto gostaríamos que esta passagem fosse diferente, que Jesus realmente tivesse interrompido seu discurso para atender a sua Mãe. Certamente foi para Maria, um daqueles momentos em que, com exemplar modéstia e auto-domínio, guardou e meditou o acontecido no coração. As palavras de Jesus, duras em aparência, transformam-se num belo elogio para o coração cheio de Fé: ela é Mãe de Jesus não só por tê-lo dado à luz, carregado no colo e criado em Nazaré, mas, sobretudo porque Ela, como ninguém, acolhe a Palavra de Deus e a pratica.
Quarto mistério: A transfiguração
“Seis dias depois, Jesus tomou consigo a Pedro, Tiago e João, e os levou, sozinhos, para um lugar retirado sobre uma alta montanha. Ali foi transfigurado diante deles. Suas vestes tornaram-se resplandecentes, extremamente brancas, de uma alvura tal como nenhum lavadeiro na terra as poderia alvejar. E lhes apareceram Elias com Moisés, conversando com Jesus” (Mc 9,2-4).
Meditação: Muitas vezes em nossas vidas passamos por tempos de dificuldades e provações. Nessas ocasiões nos sentimos como uma frágil embarcação que atravessa um mar revoltado. A virtude da moderação nos permite manter o rumo da nossa embarcação firme, sem deixar-nos levar pelos ventos que nos atacam. Ela também nos ajuda a prestar atenção aos sinais de Deus no caminho, que alentam nossa esperança. A transfiguração foi sem dúvidas um desses sinais para os apóstolos, uma delicadeza de Deus para aqueles que passariam por uma prova duríssima, ao ver seu Mestre crucificado e morto na sexta-feira da Paixão.
Quinto mistério: A instituição da Eucaristia
“Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, tendo-o abençoado, partiu-o e, distribuindo-o aos discípulos, disse: “Tomai e comei, isto é o meu corpo”. Depois, tomou um cálice e, dando graças, deu-lho dizendo: “Bebei todos, pois isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, que é derramado por muitos para a remissão dos pecados. Eu vos digo: desde agora não beberei deste fruto da videira até aquele dia em que convosco beberei o vinho novo no Reino do meu Pai” (Mt 26,26-29).
Meditação: O sacrifício da Eucaristia e o da Cruz são um só: o da entrega do Senhor Jesus, que tendo amado os seus, os amou até o extremo, dando-nos o máximo exemplo de moderação. Pode-se perceber o auto-domínio do Senhor no uso que ele faz da palavra durante todo o processo da Paixão, que nos mostra realmente que ninguém tira a vida dEle, mas Ele a dá livremente para salvar-nos. E Maria acompanha Jesus em todo momento, ficando de pé na hora da Cruz, escutando dos lábios do Filho o seu testamento espiritual: “Eis a tua Mãe!” Como na apresentação no Templo, Ela seguramente renovou nessa ocasião essa entrega do próprio Filho a Deus, esse Sim infatigável ao Plano de Deus.