Caminho para Deus 109 – A vida sacramental

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«Os sacramentos são  “forças que saem” do Corpo de Cristo, sempre vivo e vivificante; são ações do Espírito Santo operante no Corpo de Cristo, que é a Igreja»1.

Ao nos propormos viver a vida cristã, junto com muitas realidades profundas e entusiasmantes experimentamos também a nossa fragilidade: experimentamos que sozinhos não podemos, que necessitamos da força da família, da comunidade ou de um grupo de amigos no Senhor que, em comunhão de ideais, percorram conosco o mesmo caminho, irmãos na fé nos quais podemos nos apoiar com confiança, que sejam capazes de nos sustentar quando parece que vamos cair, e de nos levantar se cairmos, aos quais nós mesmos sejamos capazes de sustentar ou  ajudar a levantar se são frágeis. A amizade e a comunhão com as pessoas com as quais podemos compartilhar e viver a nossa vida cristã é uma enorme bênção, apoio firme para podermos perseverar em nosso empenho por sermos santos e em nossos trabalhos apostólicos.

1. “Sem mim, nada podeis fazer”

Mas isto ainda será insuficiente se eu não me nutro da força que vem do Alto. Neste sentido, cada um de nós é —usando a comparação do Senhor Jesus— como um ramo da videira, a qual é Ele. Separado da videira, o ramo se priva da seiva vivificante que impulsiona seu crescimento e desdobramento, e com o tempo seca e  é lançado ao fogo2. Não são poucas as vezes que, lá no fundo, embora com meus lábios diga outra coisa, penso que minha santidade é fruto apenas de meu próprio esforço, e me sinto desanimado diante das minhas próprias  fraquezas. Tampouco são escassas as vezes que ao pensar que “produzir frutos” de apostolado só depende do meu empenho, de minhas habilidades e de meus talentos. Ao confiar somente em minhas próprias forças e capacidades, pelos fracassos que experimento não demoro para cair na frustração, no desânimo, no desalento. Acabo “convencendo-me” de que “embora a santidade seja um ideal muito bonito, para mim é impossível alcançá-la”. Quantas vezes, quando nos separamos do Senhor, nos experimentamos assim, secando-nos e murchando interiormente, vazios, tristes e sozinhos!

Destas experiências de fraqueza e fragilidade, devemos aprender a ser humildes e a confiar mais n’Ele que em nossas próprias forças. O Senhor diz também a nós, como disse a São Paulo: «Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que a força manifesta todo o seu poder»3. Quem permanece em Cristo nutre-se dessa graça e assim se torna forte. A partir desse esse dom e da própria cooperação livre com a graça, que é indispensável, cada um se desdobra e —apesar da sua fragilidade e pequenez— dá frutos abundantes de conversão, de santidade e de apostolado. Junto com isso, experimenta una alegria transbordante em seu coração4.

 2. A graça

O Senhor Jesus é, portanto, a fonte de uma força sobrenatural que no caminho da vida cristã nos sustenta e fortalece, nos nutre e vivifica, nos transforma interiormente —sempre contando com a nossa livre e indispensável cooperação— e nos ajuda a “amorizar-nos” pelo caminho da piedade filial. Esta força do Senhor, que é derramada em nós pelo seu Espírito, é o  que chamamos graça. A graça é como essa seiva vital que nos é comunicada tanto por meios ordinários como também por meios extraordinários. Os meios ordinários são os sacramentos que, instituídos pelo próprio Senhor e confiados à sua Igreja para sua administração5, nos comunicam indefectivelmente a graça que significam.

 3. A Eucaristia

Além do nosso Batismo,  sacramento primeiro que é a porta de entrada para todos os outros sacramentos, o meio por excelência para nutrirmo-nos da força divina no processo contínuo de conversão e amadurecimento que estamos chamados a percorrer diariamente é a Eucaristia. Nela é o próprio Cristo que se faz realmente presente, quando pelas palavras de consagração do sacerdote e da ação do Espírito Santo um simples pão e um pouco de vinho são transformados em seu próprio Corpo e Sangue. Desta maneira,  tornam-se para nós alimento e bebida que nos nutrem e fortalecem em nosso peregrinar. A Eucaristia nos enche da força de Cristo, porque nos enche do próprio Cristo! Por ela, entramos em comunhão com o Senhor, pois como Ele disse, «quem come a minha Carne e bebe o meu Sangue, permanece em mim, e eu nele»6. E quem além disso coopera generosamente com esta graça que recebe em abundância na Comunhão experimenta em si uma vitalidade que o impulsiona a viver a perfeição da caridade, e o lança incansavelmente ao apostolado, a anunciar Cristo, a quem carrega dentro de si. Assim, permanecendo em comunhão com o Senhor e celebrando com a graça recebida, «dá muito fruto»7.

A participação plena, consciente e ativa8 na celebração da Santa Eucaristia, de maneira especial no Domingo, Dia do Senhor, assim como também em qualquer outro dia da semana, nos fortalece e alenta na vida cristã e em sua expressão no apostolado. Não esqueçamos também que as visitas ao Senhor realmente presente no Tabernáculo são para nós um exercício espiritual fundamental mediante o qual, nutrindo-nos no encontro assíduo e reverente com quem é Deus e Senhor, nos desdobramos na vida ativa.

4. A Reconciliação

Como a Igreja ensina, «só Deus perdoa os pecados9. Por ser Filho de Deus, Jesus diz de si mesmo: “O Filho do homem tem poder de perdoar pecados na terra”10 e exerce esse poder divino: “Teus pecados estão perdoados!”11. Mais ainda: em virtude de sua autoridade divina, transmite esse poder aos homens12 para que o exerçam em seu nome»13. Cristo ressuscitado outorgou à sua Igreja um dom incomparável: a missão e o poder de perdoar verdadeiramente os pecados, por meio do ministério dos apóstolos e de seus sucessores. Os sacerdotes receberam um poder sagrado que vai além de sua própria indignidade: poder para servir ao povo de Deus no ministério da reconciliação14.

O recurso freqüente ao sacramento da Reconciliação é de grande importância no empenho por responder ao chamado que o Senhor nos faz a sermos santos. A graça, quando encontra nossa dócil e necessária cooperação, realiza nossa transformação e conformação com o Senhor Jesus, homem perfeito e modelo de perfeita caridade. O sacramento da reconciliação, além de oferecer o dom do perdão dos pecados cometidos desde a última confissão, nos outorga uma graça que nos fortalece para resistir e evitar futuras quedas. Desta maneira,
«o Espírito socorre a nossa fraqueza»15.

Citações para a oração

  • O Senhor escolhe vasos frágeis: Jr 1,6; 2Cor 4,7-9; Rm 7,15.
  • Do Senhor nos vem a força para responder à missão: Jr 1,7-8; 1Rs 19,7-8; Is 12,2; Sem o Senhor nada podemos: Jo 15,4; Com Ele, tudo podemos: Fl 4,13; porque Ele nos dá sua força: 2Cor 12,9-10; Cl 1,29; Ef 6,10; 1Tm 1,12; 2Tm 4,17; é a graça do Senhor que nos mantém fortes: 2Tm 2,1.
  • A graça para a luta nos é dada ordinariamente pelos sacramentos da Eucaristia…: O Senhor Jesus anuncia o Mistério da Eucaristia: Jo 6,51.59; Quem come a sua Carne, tem a vida eterna: Jo 6,54.57-58; aquele que come sua Carne, permanece nele: Jo 6,56; Aquele que permanece nele, dá muito fruto:  Jo 15,4; Jesus institui o Mistério da Eucaristia: Mt 26,26-28; Lc 22,19-20; e o confia aos seus apóstolos: 1Cor 11,23-26.
  • …e da Reconciliação: O Senhor Jesus tem o poder de perdoar os pecados: Lc 7,47-50; Mc 2,1-12; por sua Cruz nos obtém o perdão dos pecados: Mt 26,28; Ef 1,7; o Senhor ressuscitado institui este Sacramento ao delegar a seus apóstolos o poder de perdoar os pecados: Jo 20,19-23.

Perguntas para o diálogo

  1. O que são os sacramentos, e o que podemos obter por eles?
  2. O que é a graça? Como é possível obtê-la?
  3. Como você avaliaria a sua participação na Eucaristia dominical? Que meios concretos colocaria para melhorá-la?
  4. O Senhor Jesus está sempre disposto a nos escutar, a se encontrar conosco. E o faz de uma maneira muito particular no Santíssimo Sacramento. Com que freqüência você o visita?
  5. Que significado tem para você saber que o Senhor Jesus sempre perdoa os seus pecados? Ao  chamado que Ele lhe faz para “aliviar as suas cargas”, como você costuma responder?

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Notas

Catecismo da Igreja Católica, 1116.

2 Ver Jo 15,5.

2Cor 12,9.

4 Ver Jo 15,11-12.

5 Ver Catecismo da Igreja Católica, 1114ss.

Jo 6,56.

Jo 15,5.

8 Ver Sacrosanctum Concilium, 14.

9 Ver Mc 2,7.

10 Mc 2,10.

11 Mc 2,5; Lc 7,48.

12 Ver Jo 20,21-23.

13 Catecismo da Igreja Católica, 1441.

14 Ver 2Cor 5,18ss.

15 Rm 8,26.

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