Caminho para Deus 208 – A Conformação com o Senhor Jesus

1983

Ao falar da conformação com o Senhor Jesus, tocamos o que talvez seja o coração da vida cristã. Como discípulos de Jesus nossa máxima aspiração é ser com Ele. Não se trata somente de procurar imitar suas condutas, mas sim de fazer nossos seus sentimentos, pensamentos e ações. Configurarmos-nos com Ele é, pois, nos abrir desde o mais profundo de nossa realidade a ação do Espírito Santo para que nos transforme interiormente segundo a medida de Cristo, o Senhor.

A espiritualidade sodálite busca encarnar na própria existência este horizonte da vida cristã vivendo intensamente o caminho da piedade filial. Sabemos bem que o mesmo Senhor Jesus nos deixou sua Mãe na Cruz, e nos convida a amar-la com seu mesmo amor. É este um belo caminho pelo qual vamos sendo conduzidos pela força do Espírito, da mão de Maria, a um encontro mais pleno com o Senhor Jesus. Vemo-nos, pois, remitidos ao essencial da ação da graça que irá nos convertendo cada vez mais até que encarnemos esse apaixonante horizonte que expressa o Apóstolo quando diz: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim.” (1)

O dom do Batismo

Como cristãos nosso caminho de conformação com o Senhor Jesus começa quando recebemos o dom do Batismo. Nem sempre somos conscientes da grande benção que é ter sido batizados. Este sacramento realmente nos transformou interiormente. Passamos da morte para a vida. Somos feitos participantes, de um modo misterioso mas absolutamente real, da mesma Morte do Senhor Jesus –para morrer ao pecado e todas as suas obras- e da sua gloriosa Ressurreição, recebendo assim o dom da filiação divina, feitos novas criaturas nEle.

O Batismo, ensina o Catecismo, perdoa todos os pecados (2), “faz também do neófito “nova criatura” (2Cor 5,17), um filho adotivo de Deus (cf. Gl 4, 5-7) que foi feito “participante da natureza divina” (2Pe 1,4), membro de Cristo (ver 1 Cor 6,15; 12,27), co-herdeiro com Ele (Rm 8,17) e templo do Espírito Santo (cf. 1 Cor 6,19)” (3), e nos incorpora à Igreja, Corpo Místico de Cristo. A pessoa humana, pois, encontra nas águas do Batismo a fonte da vida nova na que bebe sua verdadeira identidade. Como disse São Gregório de Nissa: “Nos enterremos com Cristo pelo Batismo, para ressuscitar com Ele; descendamos com Ele para ser ascendidos com Ele; ascendamos com Ele para ser glorificados com Ele” (4).

Este maravilhoso chamado a uma vida plena desde nosso Batismo se vê muitas vezes ofuscado, postergado por nosso pecado e fragilidade. Por isso é bom que nos deixemos questionar pela força interpelante de São Paulo: “Ou não sabeis que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, é na sua morte que fomos batizados? Portanto pelo batismo nós fomos sepultados com ele na morte para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova (…) Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus em Cristo Jesus.”(5)

O que significa viver essa vida nova? Como fazê-lo no dia a dia? Ao dom recebido em nosso Batismo, corresponde uma resposta generosa de cada um de nós. A vida cristã, neste sentido, é o desenvolvimento da semente de vida eterna que se planta no coração do cristão no sacramento batismal. Constantemente somos alentado e fortalecidos pela graça do Senhor para avançar por esse caminho de vida verdadeira, que não é outro que nos configurarmos com o Senhor Jesus. Contudo, sabemos bem que devemos travar um combate espiritual. Sem uma livre opção por abrir o coração a essa força divina, sem a qual nada podemos, não avançaremos. É indispensável nossa resposta generosa e sustentada, como dizia o Papa João Paulo II: “A efusão do Espírito no Baptismo introduz o crente como ramo na videira que é Cristo (cf. Jo 15, 5), constitui-o membro do seu Corpo místico (cf. 1 Cor 12, 12; Rom 12, 5). Mas a esta unidade inicial, deve corresponder um caminho de assimilação progressiva a Ele que oriente sempre mais o comportamento do discípulo conforme à “lógica” de Cristo: « Tende entre vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus » (Fil 2, 5). É necessário, segundo as palavras do Apóstolo, « revestir-se de Cristo » (Rom13, 14; Gal 3, 27).” (6)

Viver no Senhor Jesus

Já que ser cristão significa antes de tudo viver em Cristo Jesus e com Ele viveu, talvez a primeira exigência a qual estejamos convidados é a de conhecer cada vez mais ao Senhor Jesus. “Não se pode amar aquilo que se ignora” diz Santo Agostinho. E é verdade. Se quisermos nos conformar com Jesus, se queremos amá-lo cada vez mais, devemos buscar conhecê-lo cada vez mais.

Contudo, de que conhecimento se trata? Certamente, não de um que se limite a dimensão meramente intelectual, ou emocional ou a um redutivo ativismo. É mais, um conhecimento integral, no e desde o amor: “e quem me ama será amado por meu Pai. Eu o amarei e me manifestarei a ele” (7). Conhecer Jesus é encontrar-se com Ele, porque Ele está vivo. Não é algo que alguém conhece; é Alguém com quem se encontra. E como podemos ver nos testemunhos evangélicos, é um encontro que muda a vida para sempre.

O que podemos fazer para seguir aprofundando nesse caminho de conformação com o Senhor Jesus? Sem pretender esgotar as múltiplas ocasiões que a vida cristã nos oferece para avançar neste horizonte, sinalizemos alguns elementos fundamentais.

Em primeiro lugar, buscar com reverência e constância os Sacramentos, particularmente o Sacramento da Eucaristia. Ali encontramos ao próprio Senhor Jesus, realmente presente, que nos espera e nos convida a entrar em comunhão com Ele (8). É, pois, um canal de graça inesgotável, fonte da verdadeira vida. Para isso devemos estar adequadamente preparados, buscando o Sacramento da Reconciliação, e procurando viver em estado de graça. Ao mesmo tempo, a Adoração Eucarística é ocasião privilegiada para crescer nesse amoroso encontro configurante com Jesus Eucaristia.

Em segundo lugar, a leitura e meditação da Palavra de Deus. A Igreja nos convida a ler a Sagrada Escritura no mesmo espírito com que foi escrita (9), ou seja, abertos à ação do Espírito Santo que inspirou a escritura dos livros sagrados. Esta leitura se da sempre sob a guia da Tradição e do Magistério da Igreja. Deste modo, a meditação da Escritura é lugar de encontro com o Verbo de Deus, o único que tem palavras de vida eterna (10).

Em terceiro lugar, nos esforçarmos em cultivar nosso amor filial a nossa Mãe Maria. A piedade filial é sempre cristocêntrica, tem a Jesus como centro, pois vem de Jesus e nos conduz a uma configuração mais plena com Ele. Todo exercício de amor filial é, por tanto, sempre uma ocasião concreta de encontro com o Senhor. E é que nossa Mãe nunca deixará de nos educar e guiar ao encontro do seu Filho: “Fazei tudo o que ele vos disser” (11).

Finalmente, em tudo quanto façamos em nossa vida cotidiana temos a ocasião de nos colocarmos na presença de Deus, procurando nos abrir a sua graça para que informe nossos pensamentos, sentimentos e ações, e desta forma possamos oferecer-lhe o fruto de nossa vida e apostolado. Neste sentido, o Papa Bento XVI, se fazendo eco da exortação paulina, nos convida “a ter os mesmos sentimentos que tinha Jesus, conformar nossa maneira de pensar, de decidir, de atuar com os sentimentos de Jesus” (12). O encontro com o Senhor Jesus, a configuração com Ele, nos leva a dar testemunho d’Ele com toda nossa vida.

Aprender de Maria

En este camino de transformación interior acudamos siempre a la intercesión maternal de María nuestra Madre. Ella mejor que nadie nos puede educar y guiar en el sendero de la conformación con su Hijo. En este tiempo en que gozosos celebramos con la Iglesia universal la beatificación del Papa Juan Pablo II, aprendamos de su testimonio vital, del que el entonces Cardenal Ratzinger dijo: «El Santo Padre (Juan Pablo II) encontró el reflejo más puro de la misericordia de Dios en la Madre de Dios. Él, que había perdido a su madre cuando era muy joven, amó todavía más a la Madre de Dios. Escuchó las palabras del Señor crucificado como si estuvieran dirigidas a él personalmente: «¡Aquí tienes a tu madre!». E hizo como el discípulo predilecto: la acogió en lo íntimo de su ser (Jn 19,27): Totus tuus. Y de la madre aprendió a conformarse con Cristo»[13].

Neste caminho de transformação interior recorramos sempre à intercessão maternal de Maria nossa Mãe. Ela melhor que ninguém pode nos educar e guiar no caminho da conformação com se Filho. Neste tempo em que gozosos celebramos com a Igreja universal a beatificação do Papa João Paulo II, aprendamos de seu testemunho vital, do qual o então Cardeal Ratzinger disse: “O Santo Padre (João Paulo II) encontrou o reflexo mais puro da misericórdia de Deus na Mãe de Deus. Ele, que tinha perdido a sua mãe quando era muito jovem amou ainda mais a Mãe de Deus. Escutou as palavras do Senhor crucificado como se estivessem dirigidas a ele pessoalmente: “Eis a tua mãe!” (Jô 19, 27): Totus tuus. E da mãe aprendeu a conformar-se com Cristo” (13).

CITÇÕES PARA MEDITAR

  • Conformar-nos com o Senhor Jesus é a fonte da vida verdadeira: Jo 14,6; Rm 8,9-11; Gl 2,20
  • O Batismo e o dom da filiação adotiva: Jo 3,1-21; Rm 6,1-11; 8,15-17; Gl 4,4-7
  • Vida nova em Cristo: Ef 4,21-24; Col 2,6-8; 3,1-4
  • A amorização caminho de conformação com o Senhor Jesus: Jo 19,25-27
  • Conhecer ao Senhor Jesus: Jo 12.20-21; 14,6-10.21; 17,3; 2Pe 3,18

PERGUNTAS PARA O DIÁLOGO

  1. O que significa estar chamado a conformar-se com o Senhor Jesus?
  2. Qual é a importância do Batismo no meu caminho de configuração com Jesus?
  3. O que posso fazer na minha vida diária para viver mais a conformação com o Senhor?
  4. Como posso aprofundar minha devoção eucarística? O que posso fazer para meditar melhor na Palavra de Deus?
  5. Que dificuldades encontro para viver um amor filial mariano mais intenso? O que posso fazer para crescer nesse caminho de amorização?


[1] Gl 2,20 em: http://www.bibliacatolica.com.br

[2] Cf. Catecismo da Igreja Católica, 1263

[3] Catecismo da Igreja Católica, 1265

[4] São Gregório de Nissa, Orat. 40,9

[5] Rm 6,3-4.11 em: http://www.bibliacatolica.com.br

[6] S.S. João Paulo II, Rosarium Virginis Mariae, 15 em http://www.vatican.va

[7] Jo 14,21 em: http://www.bibliacatolica.com.br/

[8] Cf. Ap 3,20

[9] Cf. Dei Verbum, 12

[10] Cf. Jo 6,68

[11] Jo 2,5

[12] S.S. Bento XVI, Audiência geral, 26/10/2005

[13] Cardeal Joseph Ratzinger, Homilia na Missa de exéquias do falecido Pontífice João Paulo II, 08/04/2005

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