Caminho para Deus 219 – Por que rezar o Terço?

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O Terço é um ato de amor a Santa Maria.  Por que rezá-lo?  Porque amamos Maria e com o Terço podemos dar-lhe uma demonstração singela, mas profunda, de nosso amor filial.

A tradição da Igreja recomendou esta oração desde que ela apareceu no peregrinar do Povo de Deus como expressão concreta da piedade filial.  Ela foi motivo de numerosas recomendações pastorais de bispos e Papas.  Entre elas, duas próximas a nós: a Exortação Marialis cultus[1] do Papa Paulo VI e a Carta Rosarium Virginis Mariae[2] do Beato João Paulo II.  Talvez neste mês de maio — que em muitos lugares está dedicado a Santa Maria — seja uma boa ocasião para revisá-las e nos nutrir de seus ensinamentos e orientações.

Uma oração Mariana centrada em Jesus

O Terço é uma oração Mariana que imediatamente centra nossa mente e coração no Senhor Jesus.  Esta singela prece nos introduz em um ritmo meditativo que «põem-nos em comunhão viva com Jesus – poderíamos dizer– através do Coração de Sua Mãe»[3].  Em cada Pai Nosso rezamos com as palavras que Jesus mesmo nos ensinou e por ação do Espírito nos unimos à voz do próprio Filho; em cada Ave-Maria reconhecemos «o maior milagre da história»[4], a Encarnação do Verbo, e repetimos, fazendo nossa, a confissão de fé de Isabel: “Bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o fruto de vosso ventre, Jesus”; ao término de cada dezena damos glória ao Pai através do Filho em comunhão com o Espírito Santo.

Por outro lado, os mistérios que vamos enunciando antes de cada dezena permitem-nos ir meditando em acontecimentos da vida do Reconciliador de mãos dadas com a Mãe.  Na escola de Maria mergulhamos na vida do Senhor Jesus.

Por que rezar o Terço?  Porque com a Mãe nos aproximamos mais de Jesus.  E conhecendo e amando mais Jesus procuramos amar mais intensamente a sua Mãe.  Sob esta ótica, o Terço é uma prática espiritual que nos ajuda muito a ir realizando o ideal de viver como verdadeiros filhos de Maria por intermédio do processo de amorização: “Por Cristo a Maria e por Maria mais plenamente ao Senhor Jesus”.

É importante assinalar que o Terço nos dispõe para uma participação nos Sacramentos mais ativa e frutífera, particularmente na Santa Eucaristia.  Como ensina o Papa Paulo VI, «A meditação dos mistérios do Terço, de fato, ao tornar familiares à mente e ao coração dos fiéis os mistérios de Cristo, pode constituir uma ótima preparação, e vir a ser, depois, um eco prolongado da celebração dos mesmos mistérios nos atos litúrgicos»[5].  A ideia é que o Terço esteja integrado harmonicamente no contexto da oração comum de toda a Igreja.  «Na realidade — diz o Papa Bento XVI — o Terço não se opõe à meditação da Palavra de Deus e à oração litúrgica; pelo contrário, representa um complemento natural e ideal, em particular como preparação e como ação de graças à celebração eucarística. O Cristo encontrado no Evangelho e no Sacramento, contemplamo-lo com Maria nos vários momentos da sua vida, graças aos mistérios gozosos, luminosos, dolorosos e gloriosos. Na escola da Mãe, aprendemos assim a conformar-nos ao seu Filho divino e a anunciá-lo com a nossa própria vida»[6].

Entretanto integrar a reza do Terço à oração litúrgica da Igreja não significa mesclá-lo ou pô-lo por cima.  Isto recordava o Papa Paulo VI quando assinalava o engano presente em alguns lugares de rezar o Terço durante as celebrações litúrgicas, por exemplo durante a Missa.  Cada coisa a seu tempo e lugar, segundo sua própria natureza.

Uma oração serena

A oração do Terço tem como uma de suas características o ritmo sereno e pausado.  Com a prática, vamos desenvolvendo uma cadência interior que favorece a meditação e é extremamente benéfica, especialmente neste tempo em que não poucas vezes nos vemos imersos em diversas atividades.  Como não encontrar nesta prática espiritual um precioso remanso espiritual?

Todos nos damos conta de que o Terço é uma oração repetitiva em sua forma.  Para alguns isto pode ser um obstáculo que os afasta de rezá-lo.  Não poucas vezes se escuta dizer “é muito chato… é uma oração monótona… não posso evitar de me distrair”.  Entretanto, essa forma externamente repetitiva esconde um grande benefício.  Na oração vocal há uma grande riqueza espiritual que favorece a meditação.  O Beato João Paulo II assinalava uma interessante relação do Terço com a chamada “oração a Jesus” ou “oração do coração” que se pratica no oriente cristão.  Esta consiste na repetição contínua de uma frase dirigida ao Senhor procurando estar em comunhão com Ele, como por exemplo: “Senhor Jesus, Filho de Deus, tenha piedade de mim pecador”.  O Papa destacava como o ritmo típico destas preces é muito adequado para a interiorização e o recolhimento.  Nesse sentido, longe do aborrecimento, converte-se em um caminho muito singelo e prático de aprofundamento no conhecimento do Senhor Jesus.  No caso do Terço com maior razão, pois «ninguém melhor do que Ela [Maria] conhece Cristo, ninguém como a Mãe pode introduzir-nos no profundo conhecimento do seu mistério»[7].

É verdade que muitas vezes no debulhar das contas do Terço podemos nos distrair.  Junto com a necessária luta para manter a concentração deve-se fazer também o exercício do silêncio de mente que nos ajudará a manter a mente e o coração centrados no Senhor e em nossa Mãe.  Istorequer paciência e compreensão com nós mesmos.  Distrair-se ou perder a concentração não invalida nossa oração.  Retomemos o ritmo e reafirmemos o propósito de oferecer esta prática espiritual como um ato concreto de amor a Maria.  Além disso, devemos recordar — como dizia o Beato João Paulo II— que o nosso coração pode incluir nestas dezenas do Terço todos os fatos que formam a vida do indivíduo, da família, da nação, da Igreja e da humanidade. Acontecimentos pessoais e do próximo, e de modo particular daqueles que nos são mais familiares e que mais estimamos. Assim a simples oração do Terço marca o ritmo da vida humana[8].

Oração pessoal e comunitária

O Terço não requer grandes preparativos nem materiais especiais.  Isto faz com que seja fácil rezá-lo de maneira pessoal ou junto com outras pessoas.  Os modos nos quais se costuma rezá-lo são variados e se adequam facilmente às necessidades pessoais ou grupais: «quer privadamente, recolhendo-se aquele que ora na intimidade com o Senhor; quer comunitariamente, ou em família, ou por vários fiéis reunidos em grupo, para criar condições para uma particular presença do Senhor (cf. Mt 18,20), ou, ainda, publicamente, em assembléias para as quais é convocada qualquer comunidade eclesial»[9]Na Igreja a prática cotidiana desta oração é incentivada desde a antiguidade, sendo considerada como um momento especial da jornada.  Longe de ser uma obrigação, pouco a pouco se vai convertendo em um momento especial para estar com Maria.  E com Ela, deixar-nos conduzir a Jesus.

É muito significativo o incentivo dos Papas à oração do Terço em família.  «Em continuidade de intenção com nossos Predecessores — dizia Paulo VI —, queremos recomendar vivamente a reza do Santo Terço em família.  O Concílio Vaticano II pôs bem em evidência que a mesma família, qual célula primeira e vital da sociedade, “deve mostrar-se, pela mútua piedade dos membros e pela oração dirigida a Deus em comum, como um santuário familiar da Igreja”[10]»[11].  Conscientes de que hoje o ritmo de vida muitas vezes não favorece os momentos nos quais a família pode estar reunida, reconhece-se entretanto no esforço por fazer um espaço de encontro familiar para rezar o Terço uma grande riqueza que terá efeitos muito positivos na vida espiritual de seus membros e na própria vida familiar. 

Convém recordar finalmente que esta prece Mariana está enriquecida com a possibilidade de obter indulgências plenárias.  «confere-se uma indulgência plenária se o Terço for rezado em uma igreja ou em um oratório público ou em família, em uma comunidade religiosa ou associação pia»[12].  Para isso devem ser cumpridas, evidentemente, as condições próprias para lucrar a indulgência[13].

 

Citações para a oração

É necessário rezar sem desfalecer: Lc 18,1ss; Rm 12,12; 1Tim 2,1.8; 1Tes 5,17.

A Igreja nascente orava em companhia de Maria: At 1,14; 2,42.

As citações bíblicas dos mistérios do Terço podem ser encontradas em: http://www.vatican.va/special/rosary/documents/misteri_po.html

Perguntas para o diálogo

  1. Que lugar o Terço ocupa em minha vida espiritual?
  2. Como posso ajudar outras pessoas para que conheçam o Terço? O Terço tem uma dimensão apostólica?
  3. Conheço suficientemente os ensinamentos e recomendações do Magistério da Igreja sobre esta forma de oração?
  4. Que meios posso colocar para rezar esta oração com maior fruto espiritual?

 


Trabalho de interiorização

1.   «O Terço, quando descoberto no seu pleno significado, conduz ao âmago da vida cristã, oferecendo uma ordinária e fecunda oportunidade espiritual e pedagógica para a contemplação pessoal, a formação do Povo de Deus e a nova evangelização.» (S.S. Juan Paulo II, Rosarium Virginis Mariae, 3).

À luz deste texto:

a)      O que significa dizer que esta oração nos conduz ao âmago da vida cristã?

b)      Como esta prática espiritual nos pode ajudar na nova evangelização?

2.   Faça uma lista de meios que, segundo sua condição e possibilidades, possam ajudá-lo a melhor aproveitar este exercício espiritual Mariano.

3.   O culto à Virgem Maria, «tal como sempre existiu na Igreja, embora inteiramente singular, difere essencialmente do culto de adoração, que se presta por igual ao Verbo encarnado, ao Pai e ao Espírito Santo, e favorece-o poderosamente. Na verdade, as várias formas de piedade para com a Mãe de Deus, aprovadas pela Igreja, dentro dos limites de sã e reta doutrina, segundo os diversos tempos e lugares e de acordo com a índole e modo de ser dos fiéis, têm a virtude de fazer com que, honrando a mãe, melhor se conheça, ame e glorifique o Filho, por quem tudo existe (cfr. Col. 1, 15-16) e no qual «aprouve a Deus que residisse toda a plenitude» (Col. 1,19), e também melhor se cumpram os seus mandamentos» (Lumen gentium, 66).

Segundo este texto do Concílio Vaticano II:

a)      Como o texto citado ajuda a entender que o culto à Virgem Maria, e em concreto o Terço, está sempre orientado para Cristo?

b)      Segundo o texto, como você responderia às pessoas que dizem que os católicos agem mal quando “adoram” a Virgem, porque só a Deus se deve adoração?


[1] Especialmente nos nn. 42-55.  O documento encontra-se em: http://www.vatican.va/holy_father/paul_vi/apost_exhortations/documents/hf_p-vi_exh_19740202_marialis-cultus_po.html

[2] O documento encontra-se em http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/apost_letters/documents/hf_jp-ii_apl_20021016_rosarium-virginis-mariae_po.html

[3] S.S. João Paulo II, Rosarium Virginis Mariae, 2.

[4] S.S. Juan Pablo II, Rosarium Virginis Mariae, 33.

[5] S.S. Paulo VI, Marialis cultus, 48.

[6] S.S. Bento XVI, Angelus, 16/10/2005

[7] S.S. João Paulo II, Rosarium Virginis Mariae, 14.

[8] Ver S.S. Juan Paulo II, Rosarium Virginis Mariae, 2.

[9] S.S. Paulo VI, Marialis cultus, 50.

[10] Apostolicam actuositatem, 11

[11] S.S. Paulo VI, Marialis cultus, 52.

[12] Enchiridium de indulgencias, 17.  Ver S.S. Paulo VI, Marialis cultus, 48; S.S. João Paulo II, Rosarium Virginis Mariae, 37.

[13] Ver o documento: O dom da indulgência, n. 4 que pode ser encontrado em: http://www.vatican.va/roman_curia/tribunals/apost_penit/documents/rc_trib_appen_pro_20000129_indulgence_po.html).  Para refletir sobre a doutrina das indulgências ver: Catecismo da Igreja Católica, nn. 1471‑1479.

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