Os adultos de hoje

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Não é muito difícil aceitar que os adultos de hoje são diferentes dos adultos de ontem. Muitas coisas mudaram e com uma velocidade inédita na história da humanidade. No início do século XX, a filosofia ainda buscava um humanismo, mas depois das duas guerras mundiais, até o ser humano parece ter desaparecido. A revolução técnica-científica parece impor ao mundo uma mudança atrás da outra. Nossos pais, quando crianças, não tinham celular, não jogaram computador, não escutavam música no spotify. As consequências disso para a fase adulta são muito estudadas e muitas vezes fica no campo da especulação. Gostaria apenas de colocar nesse texto alguns desafios que essa geração enfrenta, seguindo as reflexões de um filósofo francês chamado Fabrice Hdjajd.

“A grande novidade do nosso tempo, com efeito, é a consciência extrema da finitude da espécie humana. É possível que a primavera não aconteça. (…) Nós não acreditamos muito em nossa própria posteridade. (…) Kolyma, Auschwitz, Hiroshima. O primeiro marcou o fim da utopia social, o segundo, o fim da utopia estética (O filósofo tem o nazismo principalmente por uma tentativa de fazer um mundo mais “esteticamente bonito”), o terceiro, o fim da utopia técnica”.

Os adultos de hoje cresceram nesse mundo que parece não ter sentido. Um mundo que já mostrou que as tentativas humanas de fazer desse lugar um lugar melhor, não deram os resultados esperados. Muito pelo contrário, os resultados mostraram que a humanidade é capaz de coisas terríveis que ela nem suspeitava a pouco tempo atrás. Diante dessa situação, até se compreende o sucesso de seriados como “Vida depois das pessoas” do History Channel. Realmente a sensação que se tem é que não fazemos muita diferença nesse mundo e que, talvez, ele esteja melhor sem a presença humana.

Diante dessa situação, o homem maduro fica em uma encruzilhada. Se ele não aceita essa história de um jardim do éden sem o homem, ele se depara com duas forças muito fortes: A tecnocracia ou a teocracia. Na primeira, o importante é o agora, o que a técnica pode fazer para facilitar a nossa sobrevivência nesse pequeno instante que temos na terra e que chamamos vida, colocando até mesmo o homem como um meio para isso e não como um fim em si mesmo. O segundo coloca seus olhos para o além dessa vida. Diante de um mundo consumista e superficial, aparece o fascínio por algo mais profundo, mais verdadeiro. Mas não nos deixemos enganar. Essa não é a religião verdadeira. A teocracia se fecha para esse mundo enquanto Deus, pelo contrário, vem a esse mundo para nos salvar. Essa teocracia tem medo da verdadeira fé, que significa “crer em um Deus criador e, portanto, amar como Ele a cada uma de suas criaturas, amar também a carne e o tempo histórico, que não são inimigos do Eterno, já que são obras dEle mesmo.

Fabrice Hadjad propõe então uma saída para essa situação que vai em duas direções. Um esforço por conservar o mundo em resposta a todos que o quere transformar sem nenhuma direção. Conservar a memória de que somos criaturas de um Deus de amor. Conservar a tradição viva que nos guiou até aqui e que é sistematicamente atacada para não se colocar nada no lugar. Por outro lado, se o futuro secularizado não dá nenhuma esperança, o apocalipse cristão dá. Apocalipse significa desastre e revelação. Significa crise que leva ao discernimento das coisas essenciais. O apocalipse nos leva de volta a tudo o que é essencial, passando por esse mundo material até chegar a Deus em uma esperança teologal.

Certamente as questões mais profundas do homem sempre estiveram presentes, mas na atualidade ela toma contornos específicos que precisam ser distinguidos para serem melhor enfrentados. Em uma época que até o ser “ser humano” se questiona, é preciso “seres humanos” de verdade que mostrem de que estamos feitos e para que estamos nesse mundo. Jesus é o Homem perfeito e aqueles que se dizem cristãos, são o testemunho daquele Homem-verdade para esse mundo que vive no “pós-humano” e na “pós-verdade”.

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