«Quero amar à medida do Senhor» – Entrevista ao Pe. Christian Yamanija

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Lima, 19/07/12. Notícias sodálites – Peru. Ainda comovido pela experiência da sua recente Ordenação Sacerdotal, conversamos, poucos dias após a sua primeira Missa, com o Padre Christian Yamanija, que nos conta como a sua experiência de vida cristã o levou a consagrar a sua vida a Deus no Sodalício, servindo à comunidade mediante o ministério sacerdotal.

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“Quero amar à medida do Senhor”

Entrevista com o Pe. Christian Yamanija

A menos de um mês da sua Ordenação Sacerdotal, que se realizou em 28 de junho na Paróquia Nossa Senhora da Reconciliação, tivemos a oportunidade de entrevistar o Pe. Christian Yamanija SCV, para que compartilhasse conosco a experiência do seu processo de discernimento vocacional e de consagrar totalmente a sua vida a Deus, como sacerdote sodálite.

– Padre Christian, conte-nos um pouco sobre as suas origens…

– Eu me chamo Christian David Yamanija Yraha. David significa para mim um nome símbolo da minha própria vida, por referir-se ao rei David, o menor de todos mas ao mesmo tempo engrandecido por Deus. Como esclarece meu sobrenome, sou descendente de japoneses. Meus avós foram imigrantes, que chegaram aqui do Japão, em tempos de crise, depois da Segunda Guerra Mundial. Por isso tenho uma tradição familiar japonesa.

– Como foi a sua escolha vocacional?

– Vinculei-me ao Movimento de Vida Cristã depois de ir a um retiro, a partir do qual participei de um agrupamento de jovens. Dessa experiência de fé, surgiu em mim a necessidade de transmitir o que estávamos vivenciando, que realmente tocou nossos corações e nos mudou para o bem. Por querer transmitir o Senhor, encontrei-me com gente que sofria, sofrimento que foi ocasião também para que o Senhor tocasse meu coração e me chamasse a uma necessidade de maior entrega pela felicidade das pessoas. Descobrir minha vocação foi todo um processo, no qual vi como o Senhor foi me chamando, oferecendo-me constantemente Sua graça para ver com maior clareza, para poder Lhe responder, para poder ser apoiado também pelo testemunho de muitos irmãos e confirmar que a felicidade consistia em responder a Ele. Assim acontece na minha vida sodálite, na minha vida sacerdotal, na minha vida comunitária e apostólica.

– Para o senhor, o que significa ser sacerdote?

– O sacerdócio para mim é sobretudo um presente imerecido de Deus, porque diante do Senhor sei que não mereço tão grande dom de ser Ele mesmo para os demais. Ao mesmo tempo creio que é uma manifestação de quanto Deus nos quer, a mim, à comunidade sodálite, à nossa família espiritual e a toda a Igreja. Creio que o sacerdote, sendo ponte entre Deus e os homens, é justamente uma pessoa eleita por Deus para poder administrar a Sua graça, que é gratuita, que anima, que realmente dá vida, que fortalece e que nos enche de esperança. Diante deste dom imerecido, espiritualmente me ponho de joelhos diante dEle, e Lhe agradeço de todo o coração que me tenha escolhido. É uma experiência de encontrar o meu ser sodálite e o meu ser sacerdote nesta vocação com que Deus me presenteou.

– Como o senhor vive o seu sacerdócio no Sodalício?

– Para mim a comunidade é essencial, pois não me entendo a mim mesmo, nem minha vocação e muito menos meu serviço sacerdotal fora do Sodalício, fora desta comunhão que vivemos e desta ação do Espírito na nossa comunidade. Descubro realmente que Deus escolheu a comunidade para ser o ambiente onde suscita através do Seu Espírito estas vocações e a minha própria vocação. Portanto meu âmbito de encontro com o Senhor é sempre a comunidade sodálite. Ir sempre acompanhado pelos meus irmãos, sustentado pelas suas orações, pelo seu testemunho, pela sua amizade, pela comunhão de ideais, pelo ideal da santidade e o sonho de fazer o bem às pessoas. Experimento que a minha vocação sacerdotal só tem sentido dentro da minha comunidade, porque acompanhado pelos meus irmãos realmente vou não somente descobrindo e confirmando o meu chamado, mas sendo capaz de responder a ele, porque creio que o Espírito Santo quis isso para mim e para a comunidade sodálite.

– Agora o senhor é sacerdote para sempre. Como vai viver esta experiência?

– Trata-se de um sonho que posso realizar aprendendo a amar através do processo de amorização, acompanhado pela Virgem, aproximando-me do Coração do Senhor que me ama tanto e que ao mesmo tempo me impulsiona a querer amá-lO mais. Descubro que a única força capaz de me fazer amar como desejo é Ele. E creio que este é o horizonte do meu sacerdócio. Como símbolo do meu sacerdócio escolhi a figura do lava-pés de Pedro. Não é somente o Senhor que lava os seus pés, senão que é Pedro que se deixa lavar os pés. Muitas vezes nos custa deixar-nos lavar pelo Senhor, deixar-nos purificar por Ele. É algo que quero viver e que me enche de esperança, porque se trata da promessa do Senhor de converter meu coração de pedra num coração de carne, de ser capaz de amar sem medida. Isto é o que marca o meu sonho sacerdotal: amar à medida do Senhor. Creio que sim, é possível, não por mim nem pelas minhas capacidades, mas pela ação do Espírito em mim.

– Que papel desempenhou a sua família na sua vocação?

– Nós somos dois filhos e minha irmã pertence à Fraternidade Mariana da Reconciliação. Para os meus pais principalmente, mas também para os meus tios, meus primos, assim como para muitos dos meus amigos, é motivo de alegria, inclusive de santo orgulho, e o que mais me alegra é que se trata de uma experiência de fé. É também um sinal e uma bênção para eles. Tempos atrás meus pais me viam muito entusiasmado, e apesar do temor próprio da minha imaturidade juvenil, tiveram a coragem de me acompanhar e de confiar em mim, pelo que estou profundamente agradecido a eles.

Hoje me alegra muitíssimo que a minha resposta vocacional tenha sido ocasião também para que muitos na minha família possam se aproximar do Senhor. Uma irmã consagrada, como eu, meus pais integrantes do Movimento de Vida Cristã, uma vida cristã perseverante, são coisas que não tínhamos antes na família. E muitos dos meus familiares e amigos também foram se aproximando de Deus, pelo que estou imensamente agradecido a Ele.

– Padre, o senhor está vindo recentemente do sul do Peru, o que nos pode contar de lá?

– Vivi pouco mais de um ano em Ayaviri e foi uma experiência belíssima, uma verdadeira bênção do Senhor. Nunca me imaginei viver em Puno, a 4.000 metros de altura, onde se encontra gente muito sedenta de Deus. Muitos crêem que só necessitam do econômico, e conseguindo isto percebem com mais clareza que não é só nem fundamentalmente isso. É muito comovedor chegar a uma comunidade camponesa levando a eles a Eucaristia, percorrendo longos caminhos de trilhas, onde se tem que andar bastante, e pensar que se vai encontrar no alto da montanha com apenas 20 pessoas reunidas, que vivem muito isoladas, a quilômetros de distância, mas que chegaram a este lugar para encontrar-se com o Senhor, para escutar a palavra de Deus, para que alguém lhes fale de Deus. Isto realmente enche o coração de Deus, de alegria e de ânsia de ser cada vez mais santo, para ajudar as pessoas que precisam de Deus. Quando alguém lhes leva a Palavra de Deus e a Eucaristia, encontra uma experiência não somente de felicidade e alegria, mas também de maior comunhão.

– O que o senhor destacaria da experiência religiosa nessa zona andina?

– Vive-se muito mais a religiosidade popular. Recordo-me em particular das festas, das procissões, que são muito freqüentadas e constituem os eventos principais da cidade, concretamente em Ayaviri. Lembro com muito carinho a procissão da Sexta-Feira Santa à noite, que é uma procissão muito popular onde quase todo mundo sai acompanhando o Senhor e a Virgem com muito carinho. Lembro-me também da devoção à Virgem e aos santos. São modos como Deus vai atuando no meio deles, gente simples mas com uma fé muito profunda.

– Devem ser muitas as experiências, o senhor recorda alguma em particular?

– Posso contar um fato que realmente significou muito para mim, abrimos uma capela de adoração perpétua do Santíssimo Sacramento. No princípio tivemos um pouco de dúvida porque fazia décadas que a devoção ao Santíssimo Sacramento não havia sido muito divulgada nem promovida. Por outro lado, a 4.000 metros de altura faz muitíssimo frio. Dissemos, “façamos, ainda que possa ser um pouco difícil por causa destas condições”. Porém a pessoa encarregada desta capela nos disse: “Não devemos nos preocupar, porque não somos nós que vamos chamar estas pessoas, mas sim o Senhor Quem vai trazê-los”. E efetivamente foi muito comovedor ver as pessoas muito simples, crianças, camponeses que vinham do trabalho, inclusive pessoas que publicamente tinham uma vida moral duvidosa, que na sinceridade do encontro com o Senhor eram capazes de derramar lágrimas abundantes de conversão e a partir deste momento mudar de vida, como consta dos testemunhos. Nessa capela vê-se como o Senhor realmente toca o coração das pessoas e se produz uma mudança radical na vida delas, porque se enchem de amor e de esperança.

Lembro-me muito bem que uma pessoa partilhava comigo que durante 25 anos não havia ido à igreja comungar, mas que bastou uma hora no Santíssimo para animar-se à Confissão, e a partir deste momento experimentou uma paz imensa, e começou simplesmente a anunciá-la, a fazer apostolado. Queria partilhar uma experiência muito profunda que lhe brotava do coração cheio do amor de Deus e que nutria a sua vida de esperança, o que ajudou a muitíssimas pessoas.

– Padre, o senhor viveu em outros lugares também…

– Vivi no Brasil durante nove anos, nas cidades de São Paulo e Petrópolis, trabalhando muito no Movimento de Vida Cristã. Também vivi no Callao durante quatro anos, e servi em Lima evangelizando em San Juan e Miraflores e em La Victoria, nos diversos lugares onde estava presente o Movimento. Por isso também considero que o meu sacerdócio é um dom não somente para mim, mas também para toda a Família Espiritual.

– Finalmente, como o senhor irá viver o seu sacerdócio?

– O meu sacerdócio, como já disse, é a ação de Deus na Igreja. Se bem que o meu apostolado como sodálite vá ser específico e particular, trata-se de um dom de santificação para a Igreja inteira, e creio que se permaneço um sacerdote fiel, para o que peço as orações de todos, posso contribuir nesta santificação com a minha cooperação para que a ação da graça seja mais eficaz, mais ampla, e que a santidade do Senhor resplandeça no rosto da Igreja.

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