Tenho mania de limpeza

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Os hábitos de higiene e asseio pessoal são parte importante da nossa formação humana. Eles não têm somente um impacto sobre a nossa saúde física, mas também são expressão do cuidado que temos com a nossa vida espiritual, a reverência para com as pessoas e inclusive para com Deus. A limpeza da Igreja, por exemplo, das vestes do sacerdote e dos coroinhas, e dos demais paramentos litúrgicos, deve ser a mais adequada possível à dignidade do Mistério que celebramos na Eucaristia e nos demais Sacramentos.

Nós mesmos, chamados a ser apóstolos do Senhor, mensageiros da Sua Palavra, devemos cuidar para que nada em nossa pessoa atrapalhe a acolhida da mensagem de Cristo. Isso abrange, certamente, o cuidado com o nosso asseio pessoal e a nossa higiene.

Trata-se, porém, de valores que podem ser relativizados em certas circunstâncias. O próprio Jesus respondeu aos fariseus, que julgavam os seus discípulos por comerem sem lavarem as mãos. A excessiva preocupação com a pureza ritual fazia com que os fariseus se esquecessem do mais importante, que é a pureza do coração. Com palavras duras, em certa ocasião, disse Jesus aos fariseus que eles eram como sepulcros caiados, fazendo referência à podridão interior, que contrastava com a limpeza exterior.

Certamente, não é deste tipo de cuidado com a limpeza que falamos aqui. O problema aparece quando a excessiva preocupação com a limpeza exterior nos impede de viver a caridade e o serviço aos irmãos.

E não é preciso ir tão longe como Santa Madre Teresa de CalcutáSão Francisco de Assis ou São Damião, o apóstolo dos leprosos. Às vezes é necessário abrir mão de uma casa limpa e organizada para acolher nossos familiares e amigos, para favorecer a comunhão e a partilha no âmbito familiar.

A abertura à vida, a uma família numerosa, implica muitas vezes a renúncia a esse ideal de uma casa na qual todas as coisas estão sempre no seu lugar. Não se trata, claro está, de “abandonar-se” à bagunça e desorganização, até porque, como vimos acima, fazem parte da educação das crianças os hábitos de higiene pessoal e a ajuda na limpeza da casa. Mas um pouco de “bagunça” é saudável. Refiro-me à bagunça da comunhão, da partilha, da vida. Quando uma casa é ordenada demais, quiçá falta nela um pouco de vida, de alegria.

* A preocupação excessiva com a ordem e a limpeza pode assumir características patológicas. É o caso dos transtornos obsessivo-compulsivos (TOC), do qual padecem cerca de 2,5% dos brasileiros em algum momento da sua vida.

Alguns sintomas deste transtorno são, de acordo com o site da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul: que consumam “um tempo razoável (por exemplo, tomam mais de uma hora por dia) ou causem desconforto clinicamente significativo, ou comprometam a vida social, ocupacional, acadêmica ou outras áreas importantes do funcionamento do indivíduo”. É preciso estar atento a estes sintomas para acudir à ajuda de um profissional.

Membro do Sodalício de Vida Cristã desde 1996. Nascido no Peru em 1978, mora no Brasil desde 2001. Por muitos anos foi professor de Filosofia na Universidade Católica de Petrópolis. Atualmente faz parte da equipe de formação do Sodalício, é diretor do Centro de Estudos Culturais e desenvolve projetos de formação na Fé e evangelização da cultura para o Movimento de Vida Cristã.

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