Terço da Esperança: A Esperança de Maria, resposta para o nosso tempo

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Estamos percorrendo nesses dias o momento cume da vida cristã. Acompanhamos o Senhor Jesus na sua paixão, morte e ressurreição. Passamos com ele pelo lava-pés e pela instituição da Eucaristia. O acompanhamos na agonia da noite, na qual suou sangue. Caminhamos com Ele pelo caminho do calvário. O contemplamos em sua morte na Cruz, ápice da sua entrega de amor.

Como os apóstolos vivenciaram a “morte de Deus”? Naquele dia as trevas reinaram. A tristeza imperou. A dúvida, certamente, tomou o coração de muitos. Eles haviam seguido a Cristo, presenciaram milagres, viram a cura de cegos, graves doentes. Viram a ressurreição de Lázaro. Contudo, seu Mestre, seu amigo, seu Cristo havia morrido.

Dor, desânimo, desesperança. O quanto nós também não vivenciamos isso no nosso tempo. Olhando ao redor quantas vezes a desesperança, o medo, a dúvida não nos acometem e nos questionam: Onde está Deus?

Nosso tempo de guerras, corrupções, injustiças, desvalores, pode minar essa virtude tão importante para a caminhada Cristã. Virtude Teologal, dádiva de Deus que nos aproxima Dele. A esperança nos salva.

Por isso necessitamos dirigir o nosso olhar para aquela que foi mestra da esperança. Aquela que experimentou tamanha dor de ver seu Filho crucificado. Aquela que teve a alma traspassada por uma espada, mas manteve-se firme, ao lado da Cruz até o último momento.

Nessas meditações vamos acompanhar Maria e pedir que ela nos acompanhe, nos ensinando, como grande pedagoga, o caminho da verdadeira esperança, que sobrevive a dor e a morte e se concretiza no amor e na entrega.

Primeiro mistério: Dor e alegria ao pé da Cruz.

Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena .Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: Mulher, eis aí teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa. (Jo 19,25-27)

Quão grande, naquele momento, era a dor de Maria e João, o discípulo amado. Olhando para Cristo, machucado, desfigurado, banhado de sangue. Maria via morrendo o filho que pegou no colo, que cuidou, que tantas vezes velou seu sono. Dor indescritível. Mas naquele mesmo momento Cristo já aponta que sua morte não é o fim. Entrega Maria como mãe de seu discípulo e este como filho dela. Já nessa atitude do Senhor Jesus vislumbra-se o continuar da caminhada. Maria, mãe de Deus, agora é mãe de todos nós. Maria, aquela que desde o princípio é modelo de Esperança, é a que acompanhará os apóstolos, ajudando-os a também viver a esperança, mesmo em meio a dor. Nas trevas daquele momento, Maria é a estrela que ilumina e aponta o caminho para os discípulos, para nós.

Segundo mistério: Jesus nos braços de Maria

Depois disso, José de Arimatéia, que era discípulo de Jesus, mas ocultamente, por medo dos judeus, rogou a Pilatos a autorização para tirar o corpo de Jesus. Pilatos permitiu. Foi, pois, e tirou o corpo de Jesus. (Jo 19, 38)

Maria vê seu filho morto. O coloca em seu colo. Diante dela o Amor está imóvel. Quantas imagens, cenas, momentos perpassaram pela mente de Maria! Seu filho amado morreu. Quantas mães e pais também não passam por essa dolorosa via. Nesse mistério rezemos por todos aqueles que vivem a desesperança fruto da perda. Rezemos principalmente por tantos pais que perdem seus filhos para as drogas, violência, crime, guerras. Ao mesmo tempo, olhemos para Maria e aprendamos com ela a, no silêncio do nosso coração, nos voltarmos para as promessas de Cristo, alcançando a esperança por uma fé inabalável naquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida.

Terceiro mistério: O sepultamento de Jesus.

Tomaram o corpo de Jesus e envolveram-no em panos com os aromas, como os judeus costumam sepultar. No lugar em que ele foi crucificado havia um jardim, e no jardim um sepulcro novo, em que ninguém ainda fora depositado. Foi ali que depositaram Jesus por causa da Preparação dos judeus e da proximidade do túmulo. (Jo 19, 40-42)

Jesus é enterrado. Cristo não desceu da Cruz. Quantos não viviam a esperança de que Cristo descesse do madeiro e libertasse o povo de Israel escravizado. Essa era a esperança deles, a esperança de um Cristo feito à medida dos homens. Quantas vezes não caminhamos para essa esperança falsa. O filósofo católico Josef Pieper dizia que a esperança somente é uma virtude teologal quando é uma imperturbável direção para a plenitude do ser, quer dizer, para o bem, para a felicidade sobrenatural em Deus. Podemos nos perguntar: Esperamos um Cristo que seja à nossa medida, que atenda as nossas necessidades? Maria não vivia essa vã esperança. Vivia a esperança de um Deus de amor, que sofre por aqueles que viram as costas ao amor, mas que jamais desiste do ser humano. Aprendamos de Maria a viver a verdadeira esperança, fundamentada em Cristo e que sempre nos apontará a viver cada dia mais o amor.

Quarto mistério: A esperança de Maria.

Após tamanho sofrimento Maria acompanha João. Juntos retornam para o lar. Agora ela é mãe dos discípulos. Nesses momentos de trevas, onde a esperança se tornou uma “criança tão frágil”, Santa Maria foi a estrela guia. Como mãe, Maria sempre é o sinal de Esperança, essa tão pequena e gigante virtude tão bem descrita pelo poeta francês Charles Péguy:

Mas a Esperança, disse Deus
Isso sim admira-me,
admira até a Mim mesmo. Que estes pobres filhos vejam como hoje caminham as coisas, e creiam que amanhã tudo irá melhor,
isto sim que é assombroso e é, com muito, a maior maravilha da nossa graça.
E eu mesmo me assombro com isso.
Que será necessário que seja minha graça
(e qual a força dessa minha graça)
para que esta pequena Esperança, vacilante ante o sopro do pecado,
trêmula ante os ventos, agonizante ante o menor sopro,
siga estando viva,
impossível de apagar?
Esta pequena Esperança que parece coisa de nada,
esta pequena filha Esperança. Imortal.
Pelo caminho escarpado, arenoso e estreito,
arrastada de braços dados
com suas duas irmãs maiores,
segue a pequena Esperança
como uma criança sem forças para caminhar.
Mas na realidade é ela
quem faz andar às outras duas,
e que as arrasta e que faz andar o mundo inteiro,
e a que arrasta.

Quinto mistério: Maria, testemunha da Ressurreição.

Ditas estas palavras, voltou-se para trás e viu Jesus em pé, mas não o reconheceu. Perguntou-lhe Jesus: Mulher, por que choras? Quem procuras? Supondo ela que fosse o jardineiro, respondeu: Senhor, se tu o tiraste, dize-me onde o puseste e eu o irei buscar. Disse-lhe Jesus: Maria! Voltando-se ela, exclamou em hebraico: Rabôni! (que quer dizer Mestre). Disse-lhe Jesus: Não me retenhas, porque ainda não subi a meu Pai, mas vai a meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus. Maria Madalena correu para anunciar aos discípulos que ela tinha visto o Senhor e contou o que ele lhe tinha falado. (Jo 20, 14-18)

Nos relatos evangélicos Maria não está entre aquelas que primeiro encontraram Jesus após a Ressurreição. Contudo, nos é lícito acreditar que aquela que disse “Fazei tudo aquilo que Ele vos disser” tenha encontrado com seu Filho Ressuscitado antes que todas as demais pessoas. No seu silêncio viveu a esperança. Não vemos nenhuma palavra de Maria durante a paixão, morte e ressurreição do Senhor. Vemos que ela, pacientemente, como se já soubesse a conclusão de tudo, acompanha. Uma espera ativa, viva, que nos alimenta na nossa caminhada. Uma esperança que nos dá certeza, essa é a esperança de Maria. Uma esperança, tão permeada de fé que já é prova daquilo que ainda virá, como nos aponta São Paulo. Sejamos como Santa Maria, vivamos a esperança da Ressurreição, a esperança de que o amor, por mais rejeitado que possa ser, jamais sucumbe e que a verdadeira revolução que mudará este mundo é a Revolução do Amor.

Membro do Sodalício de Vida Cristã desde 1996. Nascido no Peru em 1978, mora no Brasil desde 2001. Por muitos anos foi professor de Filosofia na Universidade Católica de Petrópolis. Atualmente faz parte da equipe de formação do Sodalício, é diretor do Centro de Estudos Culturais e desenvolve projetos de formação na Fé e evangelização da cultura para o Movimento de Vida Cristã.

5 COMENTÁRIOS

    • Bom dia! Pode rezá-lo como o terço tradicional. Medita um mistério deste terço e reza em seguida o Pai Nosso e 10 Ave Marias. Abraço e que Deus abençoe!

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