Este ensaio é fruto de uma grande surpresa. Melhor: de uma grata surpresa. Minha mente e coração se abriram à importância impressionante e pouco conhecida do tempo de gestação de um bebê e do imenso poder que a mãe tem como CO-geradora de uma nova vida. E claro, não só da mãe, embora especialmente dela. Também do pai, que deveria sentir-se também “grávido”, e do meio ambiente onde transcorrem os meses de crescimento intra-uterino.
Pensar e escrever sobre a estimulação precoce desde o ventre materno não é fácil, não só porque existe muitíssimo material como também porque são pesquisas recentes e, no meu caso, porque é um tema tão surpreendente e novo que eu poderia ficar horas e horas lendo e escutando entrevistas a respeito.
Acredito que a proposta principal dentro das teorias sobre a vida no ventre materno se resume em afirmar que desde a concepção o ser humano em formação é influenciado diretamente por todo o ambiente que envolve a mãe e pelas pessoas que a cercam. Os pais devem esforçar-se por influenciar positivamente seu filho, desde antes de ficarem “grávidos”, pois ele beberá desta vivência e quase que condicionará todo seu ser.
Pois bem, o mundo de hoje não nos prepara para nascer e a educação pré-natal ainda é muito precária. Mas surge uma nova consciência que pode trazer muitos frutos. De fato, a epigenética, que está por detrás desses estudos, talvez seja mais importante que a própria genética, pela percepção que se começa a ter do influxo do ambiente no bebê gerado.
Como diz a psicóloga Wendy Anne McCarty (2014)
As descobertas da psicologia pré-natal e perinatal sugerem que somos seres conscientes e sensíveis desde o início da vida e que existimos como seres sensíveis desde antes de nossa vida física e que assim foi desde o começo da existência humana (Tirado do Blog A Vida Intra-uterina, desde maio de 2011)
Se somos seres conscientes e sensíveis desde o início da vida, devemos inculcar nas mães e nas pessoas que rodeiam a gravidez, que transmitam valores, emoções e experiências boas, pacíficas, eloquentes, ricas, harmoniosas e outras mais nessa linha, que edifiquem e contribuam para formar um novo ser humano verdadeiro e fiel a sua natureza. Tudo isto dependerá da vida plena e cheia de sentido que a mãe já venha vivendo. Não poderia existir nada forçado, posto que o bebê também perceberá que o que recebe não é autêntico. Por isso mesmo, a reflexão também levanta questões sobre a afetividade e a sexualidade, sobre a vida em família, sobre o tipo de matrimônio que se vive, sobre a abertura ou resistência para a gravidez e outras realidades que estão no coração da mãe, que as transmitirá ao filho concebido.
Talvez a proposta mais chamativa e consistente que encontrei até agora sobre estas realidades tão importantes seja a da psicóloga brasileira-americana Laura Uplinger. Ela se dedica a percorrer o mundo e especialmente o país que tanto quer, o Brasil, motivando as mães a despertarem para o imenso poder (entendendo poder como serviço e possibilidade) de trazer para o mundo homens e mulheres que façam a diferença, e que tal poder se começa a viver e desenvolver desde o momento em que se os pais se dão conta da gestação.
Em uma entrevista concedida à jornalista Antonella Zugliani (2015) do jornal , “O Globo” (Recuperado de http://oglobo.globo.com/sociedade/conte-algo-que-nao-sei), Laura permite compreender que para que exista um mundo novo e melhor deve-se melhorar a gestação humana. Ela diz que “se a mãe está feliz, o bebê cresce melhor” e que os 27 primeiros meses de vida são aqueles em que se deve cuidar com maior esmero da criança, talvez mais que os restantes: os 9 meses antes de ficar grávida, os 9 meses de gestação e os 9 meses depois de nascer.
Considero como certo, então, que a mãe tem um grande poder, entendido como serviço. O que come, o que lê, o que escuta, os diálogos que desenvolve, o ambiente de alegria, de tristeza, sua compreensão da vida, sua vida de oração, tudo repercutirá no crescimento físico, emotivo e mental do filho que leva dentro de si.
No ventre da mãe, o bebê é um puro “escutar”. Existe entre os dois uma conexão e uma comunicação inigualável. É diferente do que usualmente se pensava e que agora já é um mito ultrapassado: que a placenta funcionava como uma espécie de amparo que isolaria o bebê do mundo exterior. Hoje se conhece que não é assim. A placenta é um órgão de recepção. O sangue da mãe não só transmite nutrientes à criança, mas também produtos químicos carregados de sentimentos e emoções. Transmite-lhe a mente, o coração e a ação da mãe. Daquilo que a mãe “se nutrir” em toda sua existência, nutrirá também seu filho. Se a mãe acolher com amor e entusiasmo esta nova vida, isso se refletirá nele. Se a mãe for batalhadora, também transmitirá essa forma de enfrentar as dificuldades a seu filho e, com muita probabilidade, também lhe ensinará a encarar os desafios, permitindo que até os momentos mais exigentes e dolorosos tragam muitos frutos para sua existência.
Como diz também Claude Imbert:
Acredito que antes de nascer e depois, o bebê é um ser supraconsciente cujo funcionamento é a base de todo o resto de sua vida. Se se sente compreendido em suas necessidades de amor e de união, permanecerá neste estado de consciência, mesmo que depois mude o contexto. Se, pelo contrário, depara-se com a desconfiança e a incompreensão, o bebê ‘sobreviverá’, mas congelará uma grande parte de suas potencialidades.
As potencialidades, então, dependerão do que é transmitido pela mãe. É claro que a genética é muito importante, mas não estaríamos diante de um determinismo genético. E mais, esse é outro mito que os estudos recentes derrubam. Parecia que a verdade era que estamos determinados pela genética e que “aconteça o que acontecer durante a gestação, isso não vai fazer mal ao bebê, e tampouco significa que o fará crescer mais ou fará com que o seu cérebro se desenvolva melhor”. Pois parece que isto não é verdade, porque até as moléculas que revestem as células primárias “decidem” que aspectos “calar” e que aspectos “abrir” segundo o estímulo positivo e/ou negativo da mãe.
Conclusão: estamos diante de um tema apaixonante e que se abre um horizonte de compreensão da gestação e do papel da mãe e do que a cerca, maravilhoso. Deus confia especialmente a uma mulher a missão de ajudá-lo a trazer para o mundo outro filho que possa fazer a diferença. As mães, acompanhadas por seus maridos e por todos os que possamos ajudar, devem ter consciência da influência que o bebê recebe durante a gestação. Talvez o futuro da humanidade passe também por estes meses de gravidez, que em espanhol são conhecidos como meses de “boa esperança”.
Pe. Andrés E. Machado