Quando eu tinha 16 anos, às vésperas de completar 17, contraí uma rara doença autoimune chamada Síndrome de Guillain-Barre. Numa semana, eu estava lançando a bola no que acabaria por ser meu último jogo de beisebol da temporada, e na semana seguinte, eu estava hospitalizado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), quase completamente paralisado do pescoço para baixo. Uma promissora temporada de beisebol chegou ao fim, e meu segundo ano do ensino médio terminou um mês antes do que deveria. Eu era apenas um garoto normal, com sonhos em meu horizonte sobre o que meu futuro me reservava, curtindo a vida tranquila que eu levava com muito poucos problemas.
Eu ainda me lembro da experiência de choque que minha doença provocou nas pessoas, especialmente naqueles de quem eu era mais próximo. Muitas perguntas surgiram sobre como algo assim poderia acontecer. “Como Deus poderia permitir que isso acontecesse ao Craig?” Lembro-me de um amigo meu perguntar. Algumas dessas mesmas questões surgiram também na minha mente, resultando em um pouco de confusão por minha parte. Muitas perguntas foram feitas e, aparentemente, poucas respostas foram dadas a essas questões profundas com as quais todos somos confrontados algumas vezes em nossas vidas, relacionadas ao significado do sofrimento e às coisas “ruins” que nos acontecem. Essas experiências podem causar uma profunda crise em uma pessoa, dependendo da visão que esta possui sobre tais ocorrências e do significado que é capaz de encontrar nesse sofrimento.
Hoje, eu tenho 28 anos e, após quase 12 anos desde que essa situação transformadora aconteceu, refleti profundamente sobre o significado da experiência pela qual tive que passar quando era tão jovem. Devo confessar que, de modo algum, eu entendo plenamente o significado do que eu passei, pois experiências como esta possuem uma dimensão de mistério em si próprias. No entanto, eu acredito que Deus lançou um pouco de luz sobre essa experiência para me permitir entender um pouco melhor o significado do meu sofrimento. Esta luz me permitiu atravessar a superfície da minha situação para vislumbrar a profundidade que ela contém, como alguém que atravessa a superfície do oceano e vê um minúsculo fragmento da quantidade insondável de tesouros que existem além do alcance do olho humano. Por isso, desejo compartilhar algo que aprendi, tanto pela experiência da doença que passei quanto com outras situações da minha vida, que considero fundamental na vida cristã.
No décimo segundo capítulo de sua segunda carta aos Coríntios, São Paulo recorda uma experiência pessoal que havia ocorrido 14 anos antes, na qual ele foi “arrebatado ao terceiro céu” e recebeu visões e revelações do Senhor. Para evitar que ele se tornasse orgulhoso por ter essas revelações, foi-lhe dado um espinho na sua carne, o qual ele implorou ao Senhor para que retirasse. O Senhor, no entanto, respondeu a São Paulo dizendo: “Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que a força manifesta todo o seu poder”, levando Paulo a proclamar que “por isto, me comprazo nas fraquezas, nos opróbrios, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por causa de Cristo. Porque quando sou fraco, então é que sou forte”.
Se alguém fosse ler estas palavras de São Paulo de uma perspectiva sem fé, pode-se acreditar que São Paulo enlouqueceu, e que ele estava fora de si quando escreveu esta carta. Como poderia ser que na fraqueza, o poder é perfeito e que, quando um está fraco, ele é então forte? Parece contraditório, um verdadeiro paradoxo que não faz sentido. No entanto, acredito que, se pudermos mais uma vez atravessar a superfície e olhar além do que nos é visível desde o princípio, poderemos descobrir a verdade contida nessas palavras e o fato de que talvez estas palavras possuem a chave de um baú de tesouro escondido que está esperando para ser aberto.
Quando eu penso nas muitas doenças distintas que existem e que eu poderia ter tido, fico impressionado com o fato de que Guillain-Barre é praticamente a doença “perfeita” para exemplificar o que é fraqueza. Esta é uma doença em que os anticorpos atacam os nervos no corpo, causando paralisia parcial ou muitas vezes completa no doente, levando muitos a ficarem muito fracos para simplesmente respirar por conta própria. No meu caso, não chegou ao ponto de não poder respirar sozinho, mas perdi a habilidade de fazer quase todo o resto. Lá estava eu, deitado numa cama de hospital na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), totalmente dependente dos outros para fazerem tudo por mim. Eu era fraco, e era uma fraqueza que penetrou no cerne de quem eu era.
Na minha fraqueza, no entanto, frutos muitos bonitos começaram a ser produzidos, não só na minha vida, mas também na vida dos outros. Através da minha fraqueza, percebi uma força oculta que começou a se manifestar e que tinha uma intensidade diferente de que qualquer força humana era capaz de possuir. Eu mesmo experimentei uma paz interior que até hoje não consigo explicar sem reconhecer o fato de que era um presente do Espírito Santo, consequência das orações de comunidades inteiras que se reuniram para rezar por mim. Isso, em troca, provocou reflexões profundas em muitas pessoas, fazendo-os questionar coisas sobre si mesmas, sobre o que realmente importa e sobre o significado da vida.
O crescimento que foi originado através desta experiência, tanto para os outros quanto para mim, portanto, não teve relação alguma com a força que tive durante essa provação. Eu fui fraco, e o poder de Deus foi aperfeiçoado na minha fraqueza. Essa experiência me ajudou a entender melhor a lógica de Deus, e como, às vezes, é somente através da fraqueza humana que o poder divino pode ganhar vida. Algumas vezes experimentamos dificuldades em nossas vidas e sentimos que não podemos ir mais longe porque somos tão fracos, porém isso não é razão para se desesperar, mas sim uma oportunidade de dizer “Senhor, sozinho, não tenho esperança; Mas na minha fraqueza, manifeste sua força”. No final, não foi isso que aconteceu no Calvário 2000 anos atrás?