Tentemos acolher o que a Palavra de Deus traz para nós para nos inserir no mistério da Páscoa, da morte e Ressurreição do nosso Senhor. Na verdade, a Liturgia da Palavra durante a Quaresma vem fazendo isso. Podemos percebê-lo muito claramente nos Evangelhos Dominicais.
Jesus se revela como o mestre que interpreta a Palavra de Deus e vive dela (1º Domingo da Quaresma), Jesus manifesta a luz escondida no mistério da sua Paixão (2º Domingo), Jesus se revela como a Fonte de Água Viva (3º Domingo), Jesus manifesta que Ele é a Luz do Mundo e faz o sinal ao cego de nascença (4º Domingo), Jesus revela que Ele é a Ressurreição e a Vida e faz o sinal da ressurreição de Lázaro (5º Domingo).
Além de destacar o sentido batismal desta sequência, vejamos como ela nos introduz no mistério da Páscoa, especialmente no que celebraremos no Tríduo Pascal.
Paremos um pouco aqui e meditemos no itinerário que Deus fez conosco através desta Quaresma. Examinemos como chegamos ao momento presente (muitos de nós até surpresos, e um pouco confusos).
Tendo meditado sobre esse caminho pessoal em direção à Páscoa, proponho uma possibilidade de oração, de diálogo com Deus. Chamo a atenção sobre o capítulo 12 do Evangelho segundo São João. Sobretudo, o versículo 27: “Agora, a minha alma está perturbada. Mas que direi?… Pai, salva-me desta hora… Mas é exatamente para isso que vim a esta hora”.
Tendo feito o percurso que a Liturgia da Palavra propôs nesta Quaresma e estando prestes a participar dos relatos da Paixão (no Domingo de Ramos será proclamada a Paixão segundo Mateus). Chamo a atenção sobre a imagem da Agonia de Jesus.
Os Evangelhos indicam um processo no qual Jesus vai tomando consciência da Paixão. Talvez nós, de forma análoga, fomos tomando consciência da situação atual. Não apenas como algo externo com as notícias que fomos recebendo (que já é muita coisa), mas também como algo interno. Descobrimos várias coisas em nós mesmos ao estar mais tempo em casa, em silêncio, com nossos próximos mais próximos. Ao sentir e perguntar por várias coisas, às vezes confrontando a Deus e, às vezes, a nós mesmos.
Os Evangelhos explicitam a experiência humana de Jesus de uma agonia/angústia na frente desse caminho. Quem sabe, também nós experimentamos angústia e tristeza no nosso coração. Jesus não quis ser alheio a elas.
São João 12,27 pode ser comparado com a Agonia no Horto das Oliveiras nos Sinóticos, passagem que proclamamos todo ano no Domingo de Ramos. Expressa em forma de discurso o que o outro texto expressa de forma narrativa: a consciência da morte e a angústia que a Cruz significa.
Agora que percorreremos junto de Jesus o caminho que o leva a sua Paixão e Morte, e depois à sua Ressurreição e Ascensão ao Pai, peçamos a docilidade de coração para sermos conduzidos por esse caminho Pascal. Que ali o Pai continue formando em nós a imagem do seu Filho.