Pela sabedoria cristã agimos em coerência com o Evangelho em cada situação concreta da nossa vida. Hoje meditamos sobre esta importante virtude nos mistérios dolorosos do Santo Rosário, em companhia de Maria.
Primeiro mistério: a agonia do Senhor no horto das Oliveiras
Meu Pai, se é possível, que passe de mim este cálice, contudo que não seja como eu quero, mas como tu queres (Mt 26,39b).
Meditação: A sabedoria cristã ou gnose é a virtude que leva Jesus a pronunciar seu faça-se no horto das oliveiras, que expressa sua plena confiança no Pai e seu amor reconciliador por todos nós. Esse “faça-se” de Jesus lembra-nos também o “faça-se” de Maria, no mistério da anunciação-encarnação. Sempre que rezamos a oração do Fiat ou oração do ideal expressamos o nosso desejo de possuir essa mesma sabedoria, para discernir e cumprir o Plano de Deus em cada situação concreta da nossa vida.
Oração do Fiat
Santa Maria, ajuda-me a esforçar-me
Segundo o máximo das minhas capacidades
E o máximo das minhas possibilidades
Para assim responder ao Plano de Deus
Em todas as circunstâncias concretas
Da minha vida
Amém.
Segundo mistério: a flagelação
“Quem é da verdade escuta a minha voz”. Disse-lhe Pilatos: “Que é a verdade?” E tendo dito isso, saiu de novo e foi ao encontro dos judeus e lhes disse: “Nenhuma culpa encontro nele. É costume entre vós que eu vos solte um preso, na Páscoa. Quereis que vos solte o rei dos judeus? Então eles gritaram de novo, clamando: “Esse não, mas Barrabás!” Barrabás era um bandido. Pilatos, então, tomou Jesus e o mandou flagelar (Jn 18,37c-19,1).
Meditação: Em Pilatos vemos a antítese do gnóstico cristão. Diante da evidência da inocência de Jesus ele se lava as mãos e o entrega para ser flagelado e depois crucificado. Não está disposto a arriscar-se pela verdade, sacrificar-se para agir corretamente, e cede às pressões dos judeus. A sabedoria ou gnose nos ajuda a perceber que a verdade não é algo abstrato, que esteja longe de nós, mas algo acessível à pessoa honesta, sincera, que “é da verdade” porque está disposta a sacrificar-se por ela, tornando-se assim capaz de ouvir e reconhecer Jesus.
Terceiro mistério: a coroação com a coroa de espinhos
Pilatos lhe disse: “Então, tu és rei?” Respondeu Jesus: “Tu o dizes: eu sou rei” (…) Os soldados, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-na em sua cabeça e jogaram sobre ele um manto de púrpura (Jn 18,37.19,2).
Meditação: Uma das características da pessoa que possui a virtude da sabedoria prática ou gnose é a sua humildade, que implica andar em verdade. Quando questionado pela sua realeza, Jesus responde afirmativamente, assim como respondeu afirmativamente à pergunta de Caifás sobre se Ele era o Messias. A coroa de espinhos e o cartaz com a inscrição “Rei dos judeus”, fazem referência a essa realidade, na forma de escárnio que na Ressurreição se volta contra os escarnecedores.
Quarto mistério: o caminho até o Calvário carregando a cruz
Então disse Jesus aos seus discípulos: “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16,24).
Meditação: Não há cristianismo sem Cruz. Esta frase que se diz com tanta facilidade expressa todo um programa de vida. Não significa que busquemos o sofrimento pelo sofrimento, mas que estejamos dispostos a sempre seguir Jesus, mesmo quando esse caminho é exigente. A sabedoria cristã ou gnose nos permite identificar os momentos em que os critérios mundanos, opostos ao Evangelho, buscam nos afastar desse caminho.
Quinto mistério: a morte na Cruz
Estava ali um vaso cheio de vinagre. Fixando, então, uma esponja embebida de vinagre num ramo de hissopo, levaram-na à sua boca. Quando Jesus tomou o vinagre, disse: “Está consumado!” E, inclinando a cabeça, entregou o espírito (Jn 19,29-30).
Meditação: “Está consumado”, últimas palavras do Senhor no alto da Cruz, expressam que tudo o que ele fez e disse ao longo da sua vida teve um sentido na missão que o Pai lhe confiou. Assim também nós, pela sabedoria prática ou gnose, damos a cada ação, e a nossa vida como um todo, o maior dos sentidos possíveis: dar glória a Deus com a própria santidade.