Hoje li uma matéria que falava da falta de professores na rede pública da Grande São Paulo. Questionado sobre esse problema e suas causas, o secretário de educação apontava que o magistério não era mais uma opção atrativa para os jovens.
Seria interessante realizar uma pesquisa mais profunda para entender as causas dessa perda de interesse por uma profissão que é tão importante para qualquer sociedade. Arriscarei algumas respostas a partir da minha própria experiência.
O que motiva alguém a ser professor? Penso que deveríamos começar por tentar responder a essa pergunta. Além de um salário digno, e condições favoráveis para desempenhar-se na própria função –o que é comum a qualquer profissão- é necessário dizer alguma coisa mais específica sobre o caso concreto do professor.
Toda ação e toda opção são respostas livres a algum tipo de motivação. Os valores, aquelas realidades que possuem uma importância intrínseca, são os motivadores por excelência das ações humanas. Nesse sentido, que valores motivam a escolha profissional pela carreira do magistério?
Penso que o primeiro valor é o do conhecimento. “O homem deseja por natureza o conhecimento”- dizia Aristóteles na sua Metafísica. E não se trata de qualquer conhecimento, mas daquele verdadeiro, no qual “a mente se adequa com a coisa”, como dizia Santo Tomás de Aquino na sua Suma Teológica. E o professor é aquele que, não apenas capta o valor do conhecimento em si mesmo, mas também a importância da sua comunicação. Ele sente a responsabilidade de contagiar outros com seu entusiasmo pelo saber.
Em segundo lugar, penso que o professor é muito sensível ao valor da pessoa humana, já que seu trabalho envolve uma entrega constante pelos demais, pelos seus estudantes. O ato de educar tem como um dos seus pressupostos uma aposta pela pessoa humana, uma visão de esperança de que é possível mudar o mundo para melhor quando se investe numa educação boa e integral das pessoas.
Finalmente, e em estreita relação com as duas características anteriores, o professor precisa possuir, ele mesmo, valores éticos, tais como a reverência, a veracidade, a constância, a fidelidade e a humildade. Não basta um bom conhecimento da matéria a ser lecionada. Os jovens, mais do que nunca, buscam hoje modelos de pessoas íntegras e autênticas.
Poucos hoje parecem estar dispostos a optar pelo magistério. Quiçá está faltando alguma, ou mais de uma das motivações acima mencionadas: a busca pela verdade, a aposta pela pessoa humana e o desejo de ser uma pessoa íntegra, e, consequentemente, um exemplo para os demais.
Há um par de semanas o Papa Fancisco disse algo que me deixou pensando: “A maior pobreza de hoje é o relativismo”. Explicava o Papa que esta ideologia faz com que cada um fique com “a sua verdade”, fechando-se em si mesmo e esquecendo-se do irmão e situava a pobreza do relativismo na origem das demais pobrezas, inclusive a material.
Não será que o relativismo imperante em nossa cultura, que nos torna cegos e insensíveis perante os valores (o do conhecimento verdadeiro, o da pessoa humana e os valores éticos), é uma das causas do desinteresse pela educação enquanto profissão?
Eu penso que o ato social de educar pressupõe uma renúncia –e até uma afronta- a essa mentalidade relativista.
Não será que o avanço do relativismo é uma das razões principais do desinteresse pela educação?
São apenas algumas reflexões, que deixo à maneira de provocação.