“Aliás, não temos aqui cidade permanente” (Hb 13,14)
Essa passagem da Bíblia fala de uma realidade fundamental da nossa vida terrena que é muitas vezes esquecida. O nosso destino não é permanecer eternamente na terra, aqui não possuímos cidade permanente. Somos peregrinos, estamos de passagem por essa vida.
Se olhamos para o mundo ao nosso redor, no entanto, podemos perceber como muitas pessoas gastam toda a vida em acumular bens e possuir coisas que no final as fazem esquecer que tudo isso um dia vai acabar. É que o ser humano precisa de segurança e, quando não a encontra em Deus, necessariamente a coloca em coisas materiais que não podem brinda-la como realmente necessitamos.
O Papa Francisco em sua exortação Evangelii Gaudium diz: “Alguns creem-se livres quando caminham à margem de Deus, sem se dar conta que ficam existencialmente órfãos, desamparados, sem um lar para onde sempre possam voltar. Deixam de ser peregrinos para se transformarem em errantes, que giram indefinidamente ao redor de si mesmos, sem chegar a lado nenhum”
É oportuno perguntar-nos, somos peregrinos ou errantes?
“Vamos em busca da futura”
O autor da carta aos Hebreus termina a passagem bíblica dizendo a meta da nossa peregrinação. Estamos em busca da cidade futura, da nova Jerusalém, do Céu. Nosso destino é uma vida de comunhão plena com Deus que saciará todos os desejos mais profundos do nosso ser. Estamos chamados a uma vida feliz já na terra e, plenamente, no Céu. Essa possibilidade foi aberta por nós quando Cristo subiu aos céus e levou a nossa humanidade com Ele. Cristo nos reconciliou com o Pai e desde então podemos voltar a entrar em comunhão verdadeira com Deus.
Com essa meta nunca nos desviaremos ou nos tornaremos errantes em nossa vida terrena, como disse são Paulo aos coríntios: “Todo que nele crer não será confundido.” Com essa perspectiva saberemos usar bem todas as coisas materiais para as necessidades que temos para o nosso caminho, nem mais, nem menos.
Analogia da peregrinação
Uma atividade piedosa muito comum no Brasil são as peregrinações. Pensar sobre elas ilumina a nossa real peregrinação à casa do Pai.
Quando saímos em peregrinação a algum Santuário é muito claro que sabemos o destino. Imagine sair para caminhar sem saber se quero chegar ao Santuário de Aparecida em São Paulo ou o de Fátima, em Portugal! É até meio absurda essa possibilidade, não é verdade? Mas qual será a nossa resposta se nos perguntam para onde estamos caminhando na nossa vida?
Também é verdade que nos preparamos para o caminho. Compramos água, comida, roupas, etc. Calculamos o que vamos necessitar para os dias da peregrinação e colocamos meios para conseguir, porque sabemos que não é possível chegar na meta sem os materiais necessários. Também sabemos que se levamos coisas demais o caminho pode ficar difícil. Na nossa vida, sabemos o que realmente necessitamos para a caminhada? Sabemos onde conseguir o que necessitamos? Levamos coisas demais talvez? A Igreja com os seus sacramentos nos concede tudo o que necessitamos para caminhar bem. Em destaque temos que colocar a Eucaristia, verdadeiro alimento do peregrino e a confissão, que nos devolve as forças e o rumo quando nos perdemos na caminhada.
Poderíamos pensar muito ainda sobre as analogias que podemos fazer entre as peregrinações que fazemos como católicos e a peregrinação real da nossa vida cristã à casa do Pai. Como não podemos caminhar sozinhos; Como as vezes o caminho fica mais difícil e não vemos o objetivo; Como a última parte é a mais difícil pelo cansaço, mas também possui uma ajuda especial porque já podemos sentir a proximidade da meta; etc.
Maria também foi peregrina
Nesse mês de Maria é preciso falar daquela que foi a melhor das peregrinas. Porque quem compreendeu melhor do que Maria que este mundo não é um lugar para se instalar, mas sim para usar dele tanto quanto necessite para melhor cumprir com o Plano de Deus e assim chegar até a comunhão plena com Ele?
A presença de Maria nas Escrituras é relativamente pequena, mas nas poucas passagens que aparece, muitas vezes aparece peregrinando. Por exemplo quando peregrinou até a casa de sua prima Isabel logo depois de receber o Senhor Jesus no seu ventre. Também quando, por ocasião de um recenseamento ordenado por César Augusto, teve que peregrinar até Belém, onde acabou nascendo o Salvador. Vemos Maria caminhando também quando leva Jesus a Jerusalém para cumprir com as obrigações da Lei judaica. A escritura narra também que todos os anos José e Maria iam a Jerusalém para a festa da Páscoa, como bons judeus que eram.
Mas a última das peregrinações, a mais dolorosa de todas, foi a que fez para acompanhar a paixão de Jesus. Sabemos que Maria esteve presente aos pés da Cruz, em pé, vendo seu Filho padecer por amor aos homens.
Ela acompanha nosso peregrinar
Por isso devemos olhar de uma maneira especial a nossa Mãe: Maria é a Lua que reflete os raios do Sol de Justiça e nos mostra o caminho de nosso peregrinar. O Papa João Paulo II ensinava que Maria nos educa « conseguindo-nos abundantes dons do Espírito Santo e oferecendo-nos, ao mesmo tempo, o exemplo daquela “peregrinação de fé”, na qual é mestra incomparável»
Ela nunca esqueceu do destino de sua própria peregrinação. Voltando às palavras do Papa Francisco, Ela com certeza nunca se converteu em uma errante, mas sempre permaneceu na condição de peregrina.
Com Ela ao nosso lado podemos ter mais segurança ao caminhar. Existe uma frase que diz: “O caminho mais curto até Jesus é Maria.” Talvez venha de São Luís Maria Grignion de Montfort que diz que a consagração a Nossa Senhora é um “caminho fácil, curto, perfeito e seguro para chegar à união com Deus, na qual consiste a perfeição cristã”
De todas formas sabemos que o caminho de nossa peregrinação é Jesus. Ele mesmo disse nessa passagem tão conhecida: “Eu sou o caminho…” Mas nesse caminho contamos com a companhia maternal e amorosa de Maria. Por isso acudamos a ela em nossas vidas, pedindo que sempre nos proteja em nosso caminhar para que nunca nos tornemos errantes nessa vida, mas que sempre tenhamos presente a nossa meta como peregrinos: A Casa do Pai.