Caminho para Deus 160 – Colaboradores do Espírito Santo

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Há poucos dias celebramos com grande felicidade a festa de Pentecostes. Com a efusão do Espírito Santo sobre os apóstolos reunidos ao redor de Santa Maria[1] se revela plenamente a Santíssima Trindade. A celebração nos introduz totalmente no mistério de Deus, Uno e Trino, e nos convida a deixar que a Terceira Pessoa da Trindade faça crescer em nós a vida nova em Cristo[2]. É o Espírito Santo, Senhor e Doador de Vida, Espírito de verdade e de Amor, que nos abre ao mistério de Deus que é Comunhão de Amor e que nos convida a participar de sua vida íntima. É esta a vida autêntica a que estamos chamados, aquela que nosso coração deseja com todo ardor. É a vida no seio de Deus, que como recorda belamente São João, é Amor[3], «e o Amor é o primeiro dom. Ele contém todos os demais. Este amor, “Deus o derramou em nossos corações pelo Espírito que nos foi dado”[4]»[5].

O Espírito tinha sido prometido aos Apóstolos pelo próprio Senhor Jesus. Para cumprir sua missão o Senhor lhes tinha anunciado que enviaria sobre eles «a Promessa do Pai»[6]. Eles deviam permanecer em Jerusalém até serem «revestidos de poder do Alto»[7]. A que se referia o Senhor com «a Promessa do Pai», este «poder do Alto»? Referia-se ao Espírito Santo, que Ele mesmo, junto com o Pai, enviou sobre seus Apóstolos e discípulos. A missão de expandir o Evangelho da Reconciliação a todas as culturas e a todos os povos é uma tarefa e uma empresa que não podiam realizar sozinhos, e sim apenas com a força do Espírito divino. O Espírito continua sua missão na Igreja. Precisamente, a missão da Igreja não se acrescenta à de Cristo e do Espírito Santo, « a missão da Igreja não é acrescentada à de Cristo e do Espírito Santo, senão que é o Sacramento dela: por todo o seu ser e em todos os seus membros, a Igreja é enviada a anunciar e testemunhar, atualizar e difundir o mistério da comunhão da Santíssima Trindade »[8].

O Espírito, agente principal da Evangelização

É evidente que toda graça é sempre dom de Deus, que é quem toma a iniciativa para nos ajudar a nos assemelharmos cada dia mais ao Senhor Jesus. Mas como sabemos bem, Deus quer nossa cooperação. Nessa dinâmica, o Espírito Santo é quem suscita, sustenta e acompanha nossa livre cooperação para cumprir o Plano que tem para cada um de nós. O Papa Paulo VI ressaltava isso quando dizia que «Nunca será possível haver evangelização sem a ação do Espírito Santo. … Pode-se dizer que o Espírito Santo é o agente principal da evangelização»[9]. Em Pentecostes vemos como a evangelização tem como protagonista não os apóstolos, e sim o Espírito Santo que atua naqueles que humilde e decididamente cooperam com Ele emprestando-lhe suas mentes, seus corações e seus lábios.

O Espírito do Senhor é quem acende os corações no fogo do divino amor e os lança ao anúncio audaz, decidido, valente. Com a força do Alto os apóstolos foram capazes de ser testemunhas verazes dAquele a quem tinham visto, ouvido e tocado com suas mãos[10] para acender com esse mesmo fogo de amor outros corações. « Sem dúvida, o Senhor pede a nossa colaboração, mas antes de qualquer resposta nossa é necessária a sua iniciativa: é o seu Espírito o verdadeiro protagonista da Igreja. As raízes do nosso ser e do nosso agir estão no silêncio sábio e providente de Deus »[11]. Sabemos, por experiência, que as técnicas de evangelização podem ser muito boas, « mas, ainda as mais aperfeiçoadas não poderiam substituir a ação discreta do Espírito Santo. A preparação mais apurada do evangelizador nada faz sem Ele »[12].

O primeiro campo para evangelizar

Fica claro, então, que devemos colaborar na missão do Espírito Santo, que é a de anunciar o Senhor Jesus «até os confins da terra»[13]. Essa colaboração exige de nós uma atitude ativa, ardorosa e responsável. Não há outra maneira de comunicar a força do Espírito a não ser deixando-nos inflamar por Ele, comunicando com júbilo a Boa Nova da Reconciliação. Contando com essa força interior que devemos abrigar em nosso coração, há muitos modos de participar da missão evangelizadora da Igreja, e cada um deve cooperar a partir de suas circunstâncias concretas, segundo o máximo de suas capacidades e possibilidades.

Contudo, há uma primeira missão em que devemos colaborar com o Espírito Santo: é a de nosso próprio crescimento na vida da graça. Trata-se do esforço de abrir-nos ao Espírito de Amor, pondo os meios necessários para avançar pelo caminho de nossa própria santidade. Colaborar com a missão do Espírito Santo para anunciar o Evangelho implica em começar pelo primeiro campo de apostolado, que sou eu mesmo, sempre. Trata-se de ser «fortalecidos pela ação do Espírito no homem interior»[14]. Assim falava também o recordado Papa João Paulo II, ao convidar a «colaborar com o Espírito Santo nesta transformação espiritual que permite que um homem, que cada um de nós (…) seja filho de Deus à semelhança do Filho Jesus Cristo»[15].

À luz destas reflexões podemos ver que a conversão é um processo contínuo, que é em todo momento suscitado e sustentado pelo Espírito Santo, que, contudo, para fazer-se frutífero necessita de nossa colaboração. É esta, pois, uma primeira dimensão na qual somos chamados a sermos autênticos colaboradores do Espírito Santo, uma tarefa que dura toda a vida e que tem como meta a conformação plena com o Senhor Jesus. Tudo isso nos recorda que é preciso nos educar em uma atitude de permanente abertura à ação do Espírito, o que exige de nós uma especial atenção à vida espiritual. Sem uma vida espiritual intensa, sem uma oração feita vida cotidiana, nossa colaboração será sem dúvida estéril.

Colaboradores no anúncio do Evangelho

O Espírito Santo é quem anima e conduz a Igreja na tarefa evangelizadora ao longo dos séculos, até que o Senhor volte em sua glória. A missão do Espírito Santo se realiza na Igreja. O Catecismo da Igreja Católica nos recorda alguns aspectos essenciais desta missão: «O Espírito Santo prepara os homens, antecipa-se a eles pela sua graça, para atraí-los a Cristo. Manifesta-lhes o Senhor Ressuscitado, lembra-lhes sua palavra, abrindo-lhes o espírito à compreensão da Morte e sua Ressurreição. Torna-lhes presente o Mistério de Cristo, eminentemente na Eucaristia, a fim de reconciliá-los, de colocá-los em  comunhão com Deus, a fim de fazê-los produzir ‘muito fruto’[16]»[17].

Como evangelizadores permanentemente evangelizados somos chamados a colaborar com o Espírito para que se cumpra a missão da Igreja, sabendo que a Nova Evangelização se realiza mediante a generosa colaboração com o Espírito Santo, que renova a face da terra[18]. Estamos chamados a ser criativos no apostolado, a procurar e pôr em prática todos os meios que estejam a nossa disposição para que o Espírito atue, a chegar a todos os âmbitos que necessitem da Palavra de Deus, a todos os corações que vivem famintos da verdadeira Vida.

Trata-se, enfim, de procurar uma abertura à ação do Espírito Santo, que nos planos de Deus se serve habitualmente das mediações humanas para atuar na história. Precisamente por isso o Senhor Jesus constituiu sua Igreja sobre o fundamento dos Apóstolos reunidos em torno de Pedro, e a enriqueceu com o dom de seu Espírito. Nosso esforço deve ser orientado para permanecermos sempre abertos e dóceis à ação do Espírito Santo, a única maneira de ser sinais críveis e eficazes da ação de Deus entre os homens.

Maria colaboradora do Espírito Santo

Maria Santíssima, a sempre Virgem, é «a obra-prima da Missão do Filho e do Espírito Santo na Plenitude dos tempos»[19]. O Espírito Santo preparou Maria com sua graça, nela o próprio Espírito realiza o desígnio benevolente do Pai. Do mesmo modo, em Santa Maria o Espírito Santo manifesta o Filho do Pai, feito homem para a salvação da humanidade. Por meio de Nossa Mãe o Espírito Santo começa a pôr os homens em Comunhão com o Senhor Jesus. Ela, que estava presente com os Doze que «perseveravam unânimes na oração»[20], continua intercedendo por nós e nos guiando para uma eficaz colaboração com o Espírito.

A Virgem Maria é modelo de paradigmática colaboração com o Espírito Santo. Ao longo de sua vida sua resposta fiel é guia valiosa e esperançoso estímulo para cooperar com o Espírito na missão de anunciar ao Senhor Jesus. Sempre aberta ao Espírito, não põe travas, e seu «Faça-se» é modelo de resposta generosa. Na Igreja nascente, os Apóstolos reunidos em torno Dela receberam o dom pleno do Espírito, e sob seus cuidados maternais continuaram com a missão do Filho, que o Espírito Santo realiza na Igreja até o dia de hoje e até o fim dos tempos. Junto a Maria, por sua mão, aprendemos a viver em abertura às moções de Deus, a ter uma vida espiritual intensa, a comunicar aos outros aquela vida interior que recebemos de quem é a Vida, em resumo, aprendemos a ser dóceis e autênticos colaboradores do Espírito Santo, para que outros também tenham vida e a tenham em abundância[21].

Refletir sobre a presença do Espírito Santo em nossas vidas é um convite para renovar nosso esforço e compromisso para colocarmos todos os meios para estarmos abertos a sua ação vivificadora. Implica em fazer todo esforço[22] para avançar pelo caminho de uma autêntica conversão, respondendo em primeiro lugar à vocação à santidade a que todos somos chamados, com o olhar posto o horizonte da participação na Comunhão Divina de Amor. Implica também pôr todo o nosso esforço e empenho para que a partir de uma vida cada vez mais evangelizada e reconciliada, possamos dar um testemunho eloqüente e convincente da presença de Deus em nossas vidas. Nada disto se pode fazer sem a abertura ao Espírito de Amor, e pelo contrário, abertos ao fogo intenso e ardoroso do Espírito, que como em Pentecostes baixou em chamas sobre Santa Maria e os Apóstolos, seremos capazes de proclamar a Boa Nova da Reconciliação a todos os povos. Em nosso caso, poderemos anunciar o Senhor Jesus decididos e valorosamente nas diversas circunstâncias de nossa vida cotidiana e em toda ocasião, a «tempo e a destempo»[23].

INTERIORIZANDO

Citações para a oração

  • Colaborar com o Espírito em nossa própria santificação: Ef 3,16; Rm 5,5; 1Cor 6,19
  • O Espírito nos dá a conhecer a verdade; Jo 14,26
  • O Espírito, protagonista da Evangelização: Lc 12,12; Jo 16,7-11; At 2,1ss; At 4,31; At 13,4; 1Cor 12,3,
  • O Espírito nos dá a força para evangelizar: At 1,8; At 21,11; 1Ts 1,5
  • Seguir o exemplo de Maria: Lc 1,38

Perguntas para o diálogo

  1. Sou consciente da importância do Espírito Santo em minha vida?
  2. Recorro ao Espírito Santo cotidianamente como parte de meu próprio caminho de conversão e santificação?
  3. Recorro ao Espírito Santo em meu apostolado? Sou consciente de que sem a presença do Espírito meu apostolado será estéril?
  4. Como Santa Maria me ensina a ser um melhor colaborador do Espírito Santo?
  5. Que meios posso colocar para ter uma maior docilidade e abertura ao Espírito Santo?



[1] At 2,1

[2] Rm 6,4

[3] 1Jo 4,8.16

[4] Rm 5,5

[5] Catecismo da Igreja Católica, 733.

[6] At 1,4-5

[7] Lc 24, 49

[8] Catecismo da Igreja Católica, 738.

[9] S.S. Paulo VI, Evangelii nuntiandi, 75.

[10] Cf. 1 Jo 1,1

[11] S.S. Bento XVI, Homilía, 4/6/05.

[12] S.S. Paulo VI, Evangelii nuntiandi, 75.

[13] At 1,8

[14] Ef 3,16

[15] S.S. João Paulo II, Audiência geral, 21/8/91.

[16] Jo 15,5.8.16

[17] Catecismo da Igreja Católica, 737.

[18] Cf. Sl 104,30

[19] Catecismo da Igreja Católica, 721.

[20] At 1,14

[21] Jo 10,10.

[22] 2Pd 1,5

[23] 2Tm 4,2

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