Caminho para Deus 33: A generosidade

2302

Seria fácil encerrar-se em uma capela e não sair de lá senão para desprezar e denunciar as misérias deste pobre mundo em que temos que viver. Seria fácil também diluir-se no mundo, embarcar em qualquer projeto que convertesse o Evangelho em algo absolutamente compreensível, sem mistério algum. Mas não estamos chamados ao que é fácil.

Estamos chamados a ser testemunhas dAquele que foi levantado entre o céu e a terra para nos trazer a reconciliação. Estamos chamados a ser como o Senhor Jesus: sinais de contradição em uma cultura de morte que muitas vezes nada quer ter a ver com Ele. Ser fiel a este caminho, que é o único caminho para a Plenitude, para a realização de nossas inquietações e dinamismos íntimos, é uma tarefa que não admite mediocridades na entrega. É necessário ser generosos.

Mas olhemos a nosso redor. Se nos pusermos a perguntar pela generosidade acabaremos descobrindo que ela escasseia ou então falta, que poucos parecem estar dispostos a dar algo grátis. Que nós mesmos, que dizemos ter optado pelo Senhor Jesus, somos às vezes mesquinhos e andamos limitando nossa entrega. Por quê?

Um critério fundamental da cultura de morte é o egoísmo. Vivemos o tempo do eu sozinho, o individualismo se expressa de mil formas traindo as ânsias de comunicação real que todos temos. A generosidade não tem lugar em uma ordem de coisas apoiadas no individualismo. Converte-se em um absurdo que só pode nos trazer sofrimentos e decepções. A generosidade implica em um viver para o outro que certamente se converte em escândalo na medida em que contradiz este critério fundamental do eu sozinho.

Cabe então perguntar-se: para que ser generoso? Que sentido tem? Como aprender a ser verdadeiramente generoso?

O Senhor Jesus mostra o homem ao próprio homem e lhe revela como é sublime sua vocação, só nele descobrimos o sentido e o valor das coisas[1]. Nele encontramos a razão de ser da generosidade verdadeira, porque tudo o que somos e temos é fruto da generosidade inicial de Deus que nos criou, do Pai que enviou seu Filho Único para que nos configurando com Ele no Espírito Santo sejamos filhos dEle. Toda a profundidade de nosso ser, tudo o que conhecemos de nós mesmos e do que nos rodeia, tudo o que nos sustenta e não conhecemos, todo bem de que desfrutamos, começando pela vida, é uma amostra da amorosa generosidade de Deus.

E a mostra maior da generosidade de Deus é que “enviou a seu Filho único para que todo o que nele creia não pereça mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16). O Senhor Jesus morre na Cruz por cada um de nós. Essa é a raiz da verdadeira generosidade. Só na Cruz a generosidade encontra seu verdadeiro sentido, toda generosidade humana brota daí, porque a partir da Cruz fomos feitos irmãos, filhos de uma mesma Mãe que também deu tudo por nós ensinando-nos que é pelo caminho da generosidade e da entrega que alguém se encontra com o Senhor Jesus e com sua felicidade.

Maria não mede, não calcula, não se amesquinha diante de Deus, não fica especulando sobre as intenções daquele que nos ama, não tem essas pretensões de soberba que muitas vezes marca nossa forma de pensar. Não, Maria se doa integralmente e dando tudo a Deus dá tudo aos homens convertendo-se na verdadeira Mãe dos viventes na ordem da graça.

Quando descobrimos todos estes dons em nossa vida, quando alguém se dá conta de que tudo na vida é dom generoso de Deus que nos ama, a própria generosidade se converte em uma necessidade inspirada pelo Amor, arraigada em nossos dinamismos fundamentais. A generosidade de quem se encontra com o Senhor Jesus é um broto vital do coração que encontra na entrega total ao irmão que sofre, uma alegria que nada pode substituir, nem tirar, nem obscurecer, e menos ainda imitar (Jo 16, 22).

A missão a que fomos convocados pelo Senhor Jesus exige de nós esta generosidade como resposta aos dons recebidos de Deus. Ninguém pode dizer que sua entrega não vale a pena ou que é muito pouca coisa para responder. Ninguém pode dizer tampouco que sua entrega é a melhor. A cada um cabe responder a partir de seu coração segundo o máximo de sua capacidade e de suas possibilidades. Trata-se de dar toda a vida, nunca menos (Mt 10, 39). A generosidade com que nos entreguemos ao Plano de Deus determina nosso crescimento, ninguém colhe onde não semeia.

Contrariamente ao que o mundo afirma a generosidade na entrega é a raiz da alegria verdadeira. Generosidade e alegria são inseparáveis.

Estamos chamados a instaurar tudo em Cristo sob a guia de Maria, só conseguiremos se nos entregarmos a nossa missão com todo o entusiasmo e generosidade de nossos corações.

PASSAGENS BÍBLICAS PARA MEDITAÇÃO E ORAÇÃO

Guia para a Oração

  • Quem semeia generosamente colherá generosidade: 2Cor 9, 6.
  • Só quem é generoso alcança a plenitude: Is 32, 8.
  • Todo bem é para compartilhar com generosidade: 1Tim 6, 18.
  • A verdadeira generosidade não é dar do que nos sobra, mas sim do que necessitamos: Mc 12, 42.
  • A generosidade é um uso inteligente dos bens: Prov 11, 24-25.

[1] GS 22

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here