«Desde minha primeira Encíclica, Redemptor hominis, olhei para esta data (o Grande Jubileu do ano 2000) com a única intenção de preparar os corações de todos a fazer-se dóceis à ação do Espírito»[1].
A missão reconciliadora do Senhor Jesus foi condensada por São Paulo deste modo: «Quando, porém, chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho. Ele nasceu de uma mulher, submetido à Lei para resgatar aqueles que estavam submetidos à Lei, a fim de que fôssemos adotados como filhos. A prova de que sois filhos é o fato de que Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho que clama: Abba, Pai!»[2]. Este Espírito, obtido para nós pela obra reconciliadora do Filho, foi-nos dado pelo sacramento do Batismo: então, libertados do pecado e pelo nascimento «da água e do Espírito», recebemos a filiação adotiva e depois o Espírito do Filho habita em nós.
CHAMADOS À SANTIDADE
Todo batizado está chamado à santidade. Esta consiste em alcançar a plena conformação com o Senhor Jesus, o Filho de Santa Maria. Nas palavras de São Paulo: trata-se de chegar «ao estado de homem perfeito, à maturidade da plenitude de Cristo»[3]. Esta conformação é um processo dinâmico e progressivo pelo qual nós, que fomos feitos participantes de sua vida filial, chegamos a ser cada vez mais filhos no Filho até alcançar a perfeição da caridade. Ela é realizada – com nossa livre e ativa cooperação – pelo Espírito Santo: Ele é quem nos renova interiormente, quem transforma nossos corações, Ele é princípio de vida nova e princípio de santificação para nós. É Ele quem «nos configura com Jesus Cristo e nos faz participantes de sua vida filial». Pelo Espírito, e não mediante um mero exercício de auto-aperfeiçoamento, podemos responder à vocação a ser «Santos e imaculados em sua presença, no amor».
A presença e morada do Espírito de Cristo em nós exige de nossa parte uma resposta que corresponda ao dom recebido. Para isso devemos aprender a fazer-nos dóceis à ação do Espírito, de modo que possamos viver e agir segundo o Espírito. Como obter isto?
UMA VIDA ESPIRITUAL INTENSA
Do que foi dito anteriormente se depreende claramente que não podemos viver a vida nova, nos desdobrar nem dar fruto de santidade se não tomarmos a sério nossa relação com o Espírito Santo. Nossa vida cristã não pode admitir uma relação com o Espírito que seja passiva, fria ou despreocupada. Justamente o contrário! Temos que trabalhar para que nossa relação com Ele seja intensa e comprometida. O fogo do Amor divino deve arder em nossos corações como ardeu no Coração da Virgem Mãe, e isso não é possível se não nos esforçamos em construir todos os dias «um universo interior, inspirado e sustentado pelo Espírito, alimentado de oração e orientado à ação».
Ser homens e mulheres espirituais não consiste, como advertiu o Santo Padre, «em tornar-nos como que «imateriais», desencarnados, privados de empenho responsável na história. A presença do Espírito Santo em nós, de fato, longe de nos impelir para uma «evasão» alienante, penetra e mobiliza todo o nosso ser: inteligência, vontade, afetividade, corporeidade, para que o nosso «homem novo» (Ef 4, 24) impregne o espaço e o tempo da novidade evangélica»[4]. Uma autêntica vida espiritual leva a agir corretamente, a procurar, com nossas palavras e ações, que a dinâmica da Boa Nova alcance e transforme tudo quanto está em contraste com a Palavra e com o desígnio da salvação.
DEIXANDO-NOS EDUCAR POR MARIA
Já dissemos que pelo dom do Espírito Santo chegamos a ser filhos no Filho: filhos adotivos por meio de Jesus Cristo. Mas, como temos que viver esta condição filial? O Senhor Jesus, nos mostrando sua Mãe do alto da cruz, revelou-nos o mistério de sua maternidade espiritual: Ela é verdadeiramente nossa Mãe! Como tal, o Filho encomendou-lhe uma função dinâmica em nosso processo de conformação com Ele. Portanto, Dela temos que aprender como cooperar com o Espírito de seu Filho que em habita em nós. Com efeito, aquela cuja vida inteira «transcorre na presença do Espírito de Deus», aquela que é «a grande cooperadora, por sua docilidade à ação da graça», é excelente Mestra e Educadora.
Santa Maria é a «que foi chamada antena que atrai o Espírito de Deus», aquela que também hoje nos reúne em torno de si, em oração, ensinando-nos a preparar nossos corações para receber o fogo do Amor divino que nos transforma em valentes e audazes apóstolos de seu Filho.
O ESPÍRITO NOS IMPULSIONA AO APOSTOLADO
«O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos presos, e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos»[5]. Com estas palavras o Senhor Jesus manifesta que toda a sua Pessoa e sua existência estava cheia, invadida plenamente, em seu ser e agir, do Espírito Santo.
O Espírito, que habita plenamente em Cristo, habita também plenamente em seu Corpo místico, que é a Igreja. Portanto, todos os que pelo Batismo e pela Confirmação fomos ungidos e consagrados por seu próprio Espírito, participamos plenamente «na missão de Jesus Cristo e na plenitude do Espírito Santo que este possui».
Para cumprir com eficácia e valentia com esta missão de anunciar e levar a todos o dom da reconciliação, não deixemos de pedir com insistência a Santa Maria que Ela atraia incessantemente o Espírito de seu Filho sobre nós, para que nunca nos falte a força e dinamismo apostólico necessários para ajudar no crescimento da Igreja.
PASSAGENS BÍBLICAS PARA ORAÇÃO E MEDITAÇÃO
Guia para a Oração
- A promessa do Espírito: Jl 3, 1; Ez 36,25-27.
- O Dom do Ressuscitado: Jo 20,22; Rom 8,11.
- O Espírito Santo habita em nós: Rom 8,9.11.
- Somos templo do Espírito: 1Cor 3,16; 6,19.
- O Espírito realiza a filiação divina: Gal 4, 5 7; Rom 8, 14 16.
- O Espírito nos incorpora à Igreja: 1Cor 12, 13; realiza a unidade na diversidade: 1Cor 12,4-11; suscita a fé: 1Cor 12, 3; derrama nos corações a caridade: Rom 5, 5; permite andar com esperança: Rom 15,13.
- Os frutos do Espírito: Gal 5, 16 24.
- Agir conforme ao Espírito ou a primazia do espiritual: Gal 5, 25; 6,8-10; Rom 8,4-8.
- A força do Espírito impulsiona ao anúncio: At 1, 8; 2,1-4.
PERGUNTAS PARA O DIÁLOGO
- O que é o que o Sacramento do Batismo nos devolve e a que somos chamados depois de tê-lo recebido?
- Como se descreve o Espírito Santo, como você o descreve?
- Dissemos que para que a força do Espírito frutifique em nós devemos cooperar com Ele. Quão importante você crê que isto seja para alcançar a santidade? Como você vive isso em sua vida?
- O Santo Padre nos fala sobre o que significa ser homens e mulheres espirituais. Comente o texto objeto da nota 4 que se encontra na segunda página.
- Por que Maria é nossa principal e melhor intercessora das graças do Espírito?
- Quão importante é a vida interior para o apostolado?
[1] Papa João Paulo II
[2] Gal 4, 4-6
[3] Ef 4, 13
[4] João Paulo II na Audiência de Quarta-feira, 21 de Outubro de 1998
[5] Lc 4, 18