Como ler a Bíblia e interpretá-la?

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Por João Antônio Johas Leão

 “Aprouve a Deus na sua bondade e sabedoria, revelar-se a Si mesmo e dar a conhecer o mistério da sua vontade (cfr. Ef. 1,9), segundo o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo encarnado, têm acesso ao Pai no Espírito Santo e se tornam participantes da natureza divina”. Assim começa o documento do Concílio Vaticano II sobre a revelação divina, chamado Dei Verbum. Nesse mês da Bíblia, convém lembrar que Jesus Cristo é a Palavra definitiva do Pai e que ler a Sagrada Escritura é entrar em contato com Jesus que continua falando aos nossos corações.

Mas para compreender Jesus que se aproxima de nós por meio das palavras inspiradas, precisamos conhecer essas palavras. O Concílio nos mostra como: “Debrucem-se, pois, gostosamente sobre o texto sagrado, quer através da sagrada Liturgia, rica de palavras divinas, quer pela leitura espiritual, quer por outros meios que se vão espalhando tão louvavelmente por toda a parte, com a aprovação e estímulo dos pastores da Igreja. Lembrem-se, porém, que a leitura da Sagrada Escritura deve ser acompanhada de oração para que seja possível o diálogo entre Deus e o homem; porque “a Ele falamos, quando rezamos, a Ele ouvimos, quando lemos os divinos oráculos”.

Portanto, para ter uma boa intimidade com a Bíblia, podemos começar por participar melhor da Santa Missa. Se nos propusermos a estar um pouco mais atentos, não só no momento da Eucaristia, mas fazendo uma boa preparação para participar na mesma, seja rezando antes as leituras, ou lendo as orações que serão realizadas, com certeza ganharemos bastante em intimidade com as Palavras divinas, ou melhor, com A Palavra Divina que é Jesus.

O concílio também estimula a leitura espiritual das Sagradas Escrituras como um meio para a ir conhecendo cada vez melhor. Muitos se perguntam por onde começar, já que é por seu tamanho, a Bíblia pode parecer um pouco intimidadora. Um conselho que me parece útil é começar pelos Evangelhos, que são como que o coração de toda a Sagrada Escritura, justamente porque contam a vida de Jesus, tentando escutar aquilo que nos diz o autor da carta aos Hebreus: “Depois de ter falado muitas vezes e de muitos modos pelos profetas, falou-nos Deus nestes nossos dias, que são os últimos, através de Seu Filho” (Heb 1, 1-2).

“A Ignorância das Escrituras é a ignorância de Cristo” disse São Jerônimo. Dito de outra forma, podemos ver que conhecer a Bíblia não é conhecer apenas um livro, mas o próprio Jesus. Em um mundo que vive confuso em busca de uma verdade que o sustente de maneira real e eficaz, Jesus é a Verdade, o Caminho e a Vida que todo coração humano deseja conhecer, trilhar, viver. Lendo a Bíblia, sempre em comunhão com o Magistério da Igreja a quem foi confiada a missão de a interpretar autenticamente, podemos estar seguros de fundar a nossa vida sobre aquela Rocha firme que não sucumbe com as intempéries do tempo. Porque tudo passa, menos a Palavra de Deus.

Tanto a Liturgia, como a leitura espiritual, precisam estar nutridas de uma profunda vida de oração pessoal. Oração que se faz também com a Palavra de Deus, por exemplo, com os salmos. Essas poesias exprimem muitas vezes o que o nosso coração está experimentando no mais profundo e que os simples pensamentos humanos que nos vêm à mente não conseguem traduzir em palavras. Deus, que conhece os nossos corações, nos presenteia com as palavras para que possamos nos dirigir a ele melhor.

Nesse mês da Bíblia, lembremo-nos que não somos a religião do Livro como nos disse o Papa Bento XVI: “o cristianismo é a religião da Palavra de Deus, não de uma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo”. A Sagrada Escritura é “palavra viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até a divisão de alma e espírito” (Heb 4, 12). O que precisamos fazer é deixar que ela toque nossa vida, deixar que Jesus venha até nós como a Palavra definitiva de Deus.

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