Que Maria teve um papel importante na história da salvação não há dúvida entre nós, católicos. Desde os primeiros séculos, a Igreja era consciente da grandeza de sua missão, que começa com o seu “sim” a Deus, no anúncio do Anjo Gabriel.
Tentarei meditar com vocês, hoje, sobre como Ela cooperou. Durante a vida do seu Filho na terra, como Ela seguiu cooperando? Será que a sua missão continuou após o seu Filho subir aos céus e enviar o Espírito Santo? Tentarei responder a estas perguntas, inspirado no último Concílio, o Vaticano II (1962-1965).
Próximo à realização do Concílio Vaticano II, o debate sobre a pessoa e missão de Maria estava a todo o vapor. Para terem uma ideia, dos inúmeros pedidos que chegaram à Santa Sé sobre as questões que deveriam ser tratadas no Concílio, cerca de 600 foram para que se fizesse um tratado sobre Maria.
Após vários debates, foi decidido incluir um capítulo dedicado a Ela, na constituição dogmática sobre a Igreja, Lumen Gentium, com o seguinte título: “A bem-aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, no mistério de Cristo e da Igreja” (LG 52-69).
No título, encontramos uma primeira pista sobre o papel de Maria na obra redentora do seu Filho: Ela atua na Igreja e através da Igreja. Esta Igreja é representada no discípulo amado: “Mulher, eis o teu filho!… Eis a tua mãe!” (Jo 19, 26-27). No mesmo Concílio, o Papa S. Paulo VI chamou Maria de “Mãe da Igreja”.
Maria atua na Igreja desde a sua espiritualidade. No Concílio, definem Maria da mesma forma como Ela se definiu na Anunciação e no Magnificat: a Serva do Senhor. Podemos ver a espiritualidade de Maria no episódio das bodas de Caná (Jo 2,1ss)
Acredito que este trecho da Lumen Gentium defina muito bem sua missão e quando terminaria:
Esta maternidade de Maria, na economia da graça, perdura sem interrupção, desde o consentimento que fielmente deu na anunciação e que manteve inabalável junto à cruz, até a consumação eterna de todos os eleitos. De fato, depois de elevada ao céu, não abandonou esta missão salvadora, mas, com a sua multiforme intercessão, continua a alcançar-nos os dons da salvação eterna. Cuida, com amor materno, dos irmãos de seu Filho que, entre perigos e angústias, caminham ainda na terra, até chegarem à pátria bem-aventurada. (LG 62)
A missão de Maria no plano de salvação, portanto, é exercer a sua maternidade sobre todos nós, irmãos do seu Filho amado. Maternidade que começa com o seu “sim” na Anunciação e que continuará por toda a eternidade. Que alegria saber que nossa Mãe nunca nos abandonará!
Outra característica da missão de Maria, mencionada no Concílio, é ser modelo para a Igreja. Ela é o modelo perfeito de vida cristã, que “conserva, pela graça do Espírito Santo, virginalmente íntegra a fé, sólida a esperança, sincera a caridade” (LG 64). Maria também é, segundo o Concílio, imagem e começo da Igreja escatológica (LG 68-69).
Um Papa mariano dos nossos tempos, S. João Paulo II, escreveu muito sobre este tema. Recomendo a encíclica Redemptoris Mater e suas catequeses sobre Nossa Senhora.
Após estas breves linhas, gostaria que ficasse uma certeza em nossos corações: temos uma Mãe que incansavelmente intercede junto ao seu Filho pela nossa felicidade, pela nossa salvação. Confiemos, especialmente nestes tempos difíceis de pandemia, nos cuidados maternais de Maria!