“Alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração” (Rm 12, 12)
Com essas palavras São Paulo exortava os romanos a não esmorecer em sua vida de oração apesar das tribulações. O próprio Jesus convidou seus discípulos a “orar continuamente e jamais desanimar” (Lc 18, 1). A oração é fundamental na vida cristã, mas, muitas vezes, não se sabe o que fazer para rezar. Como entender a exortação do “orai sem cessar” no meio de uma vida tão corrida e cheia de coisas para fazer?
Certamente a resposta não é que Deus nos quer vinte e quatro horas por dia recitando orações ou de joelhos em alguma capela. A vida de Jesus não foi assim e a melhor maneira de entender o que fazer para rezar melhor e sem cessar é olhar para o seu exemplo. Jesus fez muitas coisas. Ensinou, curou, caminhou para muitos lugares, esteve no meio da multidão e fez muitos milagres. Também separou momentos para estar sozinho com o Pai e rezar mais intimamente. Mas em todos os momentos estava unido ao Pai de modo que pôde dizer: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10, 30) e “ as palavras que eu digo não as digo por mim mesmo, mas o Pai, que está em mim” (Jo 14, 10).
Jesus estava sempre na presença de Deus e dessa forma, toda sua vida era uma oração que glorificava o Pai. Nós estamos chamados a fazer o mesmo, a que nossa vida seja tal que, por meio dela, Deus seja glorificado. Isso se dá quando fazemos as coisas para Deus e com Ele. Assim como Jesus, precisamos de momentos fortes de oração que são como oásis no dia a dia que fortalecem a nossa relação com Ele e que são como que o sustento de todas as outras atividades que realizaremos.
Portanto, não é fácil dizer o que devemos fazer para crescer espiritualmente. O fundamental é querer ter uma relação mais íntima com o Senhor e, nesse sentido, podemos pedir como os discípulos: “Senhor, ensina-nos a rezar”. Depois, podemos rezar o Pai-nosso, a oração que o Senhor ensinou e que é a oração perfeita a se fazer porque nela pedimos tudo o que precisamos para que essa vida seja bem vivida e possamos chegar a vida eterna. Desse ponto inicial, vamos crescendo com o auxílio do Espírito Santo, permanecendo cada vez mais na presença de Deus durante o nosso dia e intensificando nossa relação com Ele.
Seria muito fácil dizer que para ter uma vida de oração intensa seria preciso ir à missa todos os dias, rezar o terço, fazer tais novenas, recitar salmos, fazer e pagar promessas, ler alguns livros espirituais ou se colocar o meio de ler a Bíblia todos os dias. Mas eu acho que não se deve iniciar por aí. Isso se parece muito ao que um fariseu fazia quando multiplicava os deveres dos mais simples, ou quando limpavam o exterior do copo e do prato deixando o interior repleto de avareza e cobiça (Mt 23, 26). Jesus os reprimiu de forma muito dura chamando-os de hipócritas. Inclusive chegou a dizer que nem todo aquele que diz “Senhor, Senhor” (ou seja, que “reza” muito), entrará no reino dos céus, “mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mt 7, 22).
Nenhuma das atividades espirituais citadas são ruins ou não devem ser feitas, pelo contrário, são ótimas e contribuem para o relacionamento com Deus. Mas elas precisam ser como o fruto de uma relação que vem crescendo e não uma forma externa de fazer de conta que me relaciono com Ele. Afinal, a vida de oração é, no fundo, a expressão do meu relacionamento com Deus. Não adianta forçar mil e uma regras e deixar o coração longe de Jesus.
No coração do homem há um desejo de Deus. Na medida em que se busca saciar esse desejo de forma correta, ou seja, com um relacionamento com Ele, esse desejo vai crescendo e a amizade com o Senhor vai se fortalecendo. E isso vai se dando de forma concreta em uma vida de oração mais intensa e em fazer tudo para Deus e com ele. Isso não acontece do dia para a noite, mas ao longo de toda a vida até chegar o dia em que estaremos cara a cara com Ele no reino dos céus.