
O ano está apenas começando. Os primeiros dias do ano costumam ser tempo propício para avaliar como foi meu ano passado e para planejar o que começa, buscando em presença do Espírito discernir o Plano de Deus para mim e tomando resoluções que me ajudem a avançar no meu caminho de conformação com Cristo.
Primeira meditação: o “Fiat” (Faça-se) de Maria não é a improvisação de um momento
“Maria, porém, disse ao Anjo: “Como é que vai ser isso, se eu não conheço homem algum?” O Anjo respondeu: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo vai te cobrir com a sua sombra; por isso o Santo que nascer será chamado Filho de Deus”” (Lc 1,34-35).
A prontidão e firmeza de Maria em sua resposta ao Plano de Deus, a sua capacidade para ir ao essencial quando pede um esclarecimento, colocam em evidência todo um peregrinar de Fé no qual a Virgem de Nazaré está engajada há muito tempo. Ao planejar o novo ano, eu não posso perder de vista o que aconteceu no ano passado, o caminho que eu estou trilhando como pessoa humana e como cristão, filho de Maria. Os acertos e erros devem ser integrados, buscando acentuar e incrementar tudo o que foi bom e reduzir o mínimo possível o que esteve mal. O autêntico cristão não é o que nunca peca, mas aquele que, depois de ter caído, levanta-se imediatamente, aprendendo com humildade dos seus erros.
Segunda meditação: a subida à casa de Isabel
“Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho para a região montanhosa, dirigindo-se apressadamente a uma cidade de Judá” (Lc 1,39).
Em nenhum momento o Anjo Gabriel ordena a Maria ir à casa da sua prima Isabel. Significa isso que tal acontecimento não fazia parte do Plano de Deus? De maneira alguma! Nossa Mãe nos ensina que, por sua própria natureza, o Plano de Deus não é algo que recebemos totalmente pronto, claríssimo até o mais mínimo detalhe. Não! Desde a Criação, Deus quer que o homem seja seu sócio menor, co-criador, e por isso lhe encarrega que coloque nome às criaturas. O mesmo se vê na experiência de Maria e na nossa própria. Deus quer que cada um faça um trabalho sério de discernimento, de reflexão, de tomada madura de decisão. Não nos iludamos, trata-se de um trabalho que ninguém poderá fazer por nós. Assumamos essa responsabilidade como Maria, subamos às alturas de Aim Carim com ela, aceitando o desafio de sermos pessoas plenas, de sermos cristãos.
Terceira meditação: o nascimento do Messias, um “não” rotundo ao perfeccionismo.
“Enquanto lá estavam, completaram-se os dias para o parto, e ela deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o com faixas e reclinou-o numa manjedoura, porque não havia um lugar para eles na sala” (Lc 2,6-7).
Uma tentação ao avaliarmos o passado e planejarmos o futuro é a do perfeccionismo. Mas a pedagogia divina, pelo contrário, uma e outra vez nos ensina que Deus conta com as imperfeições, fazendo inclusive delas um caminho para irromper em nossa realidade pessoal e social. O poeta Péguy dizia que é precisamente pelas falhas da armadura que a graça de Deus dá um jeito de ferir o coração do homem, enquanto que uma superfície sem falhas, banhada com uma película de gordura, é totalmente impermeável, incapaz de ser molhada pela água, figura da graça. Ao olharmos para trás uma das constatações é a dos nossos pecados, todas as vezes que fechamos as portas a Jesus, como tantos na noite do Natal. E não nos façamos ilusões, o próprio São João dizia, em uma das suas cartas: quem diz estar livre de pecado mente. Apesar disso, hoje o Senhor continua nos chamando a evangelizar, a fazer parte de uma comunidade de apóstolos. Renovemos o nosso sim ao Senhor, não escondamos hoje as nossas feridas à sua graça, deixemos esse Menino ser em nossas vidas aquilo que veio a ser: o nosso Reconciliador.
Quarta meditação: a apresentação do Menino no Templo
“Quando se completaram os dias para a purificação deles, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém a fim de apresenta-lo ao Senhor, conforme está escrito na Lei do Senhor: Todo macho que abre o útero será consagrado ao Senhor” (Lc 2,22-23).
Em seu livro sobre a infância de Jesus Bento XVI ensina que Maria e José, ao apresentarem o Menino no Templo, fizeram exatamente o contrário do que os casais judeus faziam com seus primogênitos. Em lugar de pagar um resgate pelo Menino, eles o apresentam, reconhecendo que pertencia totalmente a Deus. Ao planejar o novo ano é necessário que tenhamos também essa atitude de desprendimento, entendendo que com muita facilidade podemos apegar-nos aos nossos próprios planos, confundindo-os com o Plano de Deus. A vacina contra esse apego é a abertura à comunhão, com Deus e com nossos irmãos, e a busca constante de luzes e conselhos daquelas pessoas que nos acompanham em nosso peregrinar de Fé.
Quinta meditação: meditar e guardar no coração
“Desceu então com eles para Nazaré e era-lhes submisso. Sua mãe, porém, conservava a lembrança de todos esses fatos em seu coração” (Lc 2,51-52).
Pode ser que ao olhar para trás simplesmente não sejamos capazes de avaliar o ano que se passou. Isto é muito corriqueiro. No segundo mistério víamos como Maria realiza um trabalho de discernimento e toma a decisão de visitar Isabel. Quando abrimos mão dessa responsabilidade acabamos nos tornando um joguete das circunstâncias e a nossa vida não é mais uma sucessão de experiências autenticamente humanas, mas simplesmente algo que acontece com a gente. Somos carregados pela corrente, parece que outros decidem por nós, vivemos, como dizia Ignace Lepp, como “coisas em meio a coisas”. Muito diferente é a atitude de Maria, com seu hábito de guardar tudo no coração, de buscar o sentido profundo dos acontecimentos sempre, não fugindo à experiência profunda humana e cristã. Trabalhemos neste ano para viver também assim cada um dos seus dias.
Achei o site de voces fantástico e muito enriquecedor.
Comecei meditando o santo terço e daí em diante fui vendo e apaixonando por todo material.