Qual é o sentido da minha vida? Para que fui feito? A que vou dedicar-me? O que me vejo fazendo dentro de 10 ou 15 anos? Estas e outras perguntas parecidas estão virtualmente presentes no coração de todos os adultos jovens que existem. E os que não se fazem essas perguntas, poderíamos dizer que já optaram por uma forma de vida, não muito frutífera, certamente.
O que está por detrás disso? Um profundo desejo por descobrir uma vocação na vida e ao mesmo tempo uma profunda dúvida sobre como encontrar esta vocação e como escolhê-la, da melhor e mais acertada forma possível.
Ante tal desafio, creio que o primeiro que temos que esclarecer, é o termo “vocação”, para evitar cair em reducionismos, já que às vezes posso pensar que se refere simplesmente à carreira que seguirei, ou ao descobrimento dos talentos que tenho para determinado campo do saber… mas vai muito além! Quando falamos de vocação, estamos falando de um CHAMADO, de Alguém que chama e outro que responde. A palavra portuguesa “vocação” vem do latim VOCARE, que significa justamente “chamado”. Então, não é uma questão meramente humana, ou pessoal, implica em um encontro, e um encontro especialmente com Aquele que me criou, conhece-me, sabe o que é melhor para mim e tem uma missão concreta e desafiante para mim.
Hoje em dia constatamos que esta experiência de encontro com Deus não faz parte fundamental das chamadas “orientações vocacionais”, ou em todo caso, não é um elemento definitivo e essencial. Não estou de acordo com isso. Talvez existam fatores psicológicos e/ou sociais mais contundentes aos olhos atuais, como por exemplo, ganhar mais dinheiro, ser mais reconhecido pela sociedade, realizar o menor esforço, todavia às vezes Deus nos pede coisas ou chama para missões onde estas três coisas primam por sua ausência.
Uma das manifestações de reducionismo na definição da vocação a escolher penso que está presente nas próprias posturas dos que oferecem tal orientação. Por exemplo: no blog de Doris Campos encontramos o seguinte:
A orientação vocacional é equivalente ao projeto de vida, portanto é necessária com o passar do ciclo vital (SON, 2009). Seu interesse se associa ao papel do indivíduo como futuro trabalhador (Castejon, 2001). É a encarregada de oferecer apoio ao estudante para a tomada de uma decisão acertada quanto à escolha ou mudança de carreira (UNA, 2004), através de Informação acadêmica e ocupacional. Atende assuntos relacionados com o vocacional, o planejamento e desenvolvimento de carreira, tais como: Diagnóstico de tendências, opções de carreiras disponíveis à comunidade, processo de tomada de decisão, Estudos vocacionais, Planejamento e opções de desenvolvimento de carreiras, Desenvolvimento de competências ocupacionais e trabalhistas, Formação contínua e desenvolvimento do empregado, a aposentadoria e mudanças do ciclo trabalhista (Blog Doris Campos, 2014).
Repetem-se palavras como TRABALHADOR e CARREIRA. Quase como se entendêssemos o ser humano simplesmente na dimensão do trabalho e isto equivaleria à vocação. “Encontre no que você pode trabalhar segundo suas capacidades e talentos e terá encontrado sua vocação”. Não! Creio que vai muito além.
É mais, percebo que esse texto coloca por cima o FAZER antes do SER. E creio que a vocação está muito mais relacionada com o segundo do que com o primeiro. Para saber o que fazer devo antes saber quem sou. Dessa experiência e descobrimento nascerão afazeres cheios de sentido e realização. A escolha da vocação, por isso mesmo, é uma expressão de uma autocompreensão vital. Se me olho a partir de uma visão egoísta, escolherei segundo parâmetros reduzidos e até materialistas. Mas se me entendo como um ser para o encontro, onde o outro e os outros são receptores urgentes de meu esforço e vitalidade, os critérios mudam.
Outro ponto que chama a atenção tem que ver com o esforço a ser investido na vocação. Lemos na página Web Eumed.net
A Orientação Profissional é definida por Mira e López, como uma atuação científica e continuada, destinada a conseguir que cada sujeito se dedique ao tipo de trabalho profissional do qual, com o menor esforço, possa obter o maior rendimento, proveito e satisfação para si e para a sociedade (Luz del Alba Dirocié e Modesta Javier, 2009).
Verdadeiramente oferecem trabalhar com o menor esforço? O que há por trás de tais propostas?
Conclusão: a vocação vai muito além do que estamos acostumados a pensar e aceitar. E se apresenta diante de nossos olhos e diante dos jovens de hoje o desafio de mostrar uma forma de viver e encarar a vida com um espírito diferente e um ardor aventureiro particular, que vá além do simples emprego e trabalho a realizar.
Faço minhas as palavras de São João Paulo II pronunciada diante de milhares e milhares de jovens no jubileu do ano 2000:
Possivelmente a vós não será pedido o sangue, mas certamente a fidelidade a Cristo. Uma fidelidade que se tem que viver nas situações de cada dia. Estou pensando nos noivos e na sua dificuldade de viver, no mundo de hoje, a pureza antes do matrimônio. Penso também nos jovens casais e nas provações a que se expõe seu compromisso de mútua fidelidade. Penso, do mesmo modo, nas relações entre amigos e na tentação de deslealdade que pode dar-se entre eles.
Estou pensando também naquele que começou um caminho de especial consagração e nas dificuldades que às vezes tem que enfrentar para perseverar em sua entrega a Deus e aos irmãos. Refiro-me igualmente ao que quer viver umas relações de solidariedade e de amor em um mundo onde unicamente parece valer a lógica do proveito e do interesse pessoal ou de grupo.
Além disso, penso no que trabalha pela paz e vê nascer e estourar novos focos de guerra em diversas partes do mundo; também em quem atua em favor da liberdade do homem e o vê ainda escravo de si mesmo e de outros; penso no que luta pelo amor e pelo respeito à vida humana e tem que assistir frequentemente atentados contra a mesma e contra o respeito que se lhe deve. Na realidade, é a Jesus que procuram quando sonham com a felicidade; é Ele quem vos espera quando não lhes satisfaz nada do que encontram; é Ele a beleza que tanto lhes atrai; é Ele quem lhes provoca com essa sede de radicalidade que não lhes permite deixar-se levar pelo conformismo; é Ele quem lhes empurra para deixar as máscaras que falseiam a vida; é Ele quem lê no vosso coração as decisões mais autênticas que outros gostariam de sufocar. É Jesus quem suscita em vós o desejo de fazer de sua vida algo grande, a vontade de seguir um ideal, a repulsa a se deixar apanhar pela mediocridade, a valentia de se comprometer com humildade e perseverança para melhorar a vós mesmos e à sociedade, fazendo-a mais humana e fraterna. (Documentos da Santa Sé, 2000).
A vocação vai muito além! Está em jogo O QUE VOCÊ É!
Pe. Andrés Echavarría Machado