Juventude, "Campo da Fé": é hora de trabalhar – Ricardo Braz

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“Queridos jovens, o Senhor precisa de vocês!”, exclamou o Papa Francisco diante de mais de 3 milhões de jovens do mundo inteiro, reunidos na praia de Copacabana,  para a noite de vigília da Jornada Mundial da Juventude Rio2013. Cristo precisa dos jovens… para quê? “Para a sua Igreja”, foi a resposta.

Cristo chama, um por um. E muda os nossos planos de vida. Os jovens que estavam no Rio durante aqueles dias puderam experimentar isso: como a chuva intensa fez com que todos mudassem os seus planos, e o que seria o “Campus Fidei” geográfico deu lugar à reflexão sobre o “Campo da Fé” interior, que somos todos nós, os discípulos e missionários do Senhor Jesus. Disse o Papa: “Sim, é verdade! Cada um de nós, cada um de vocês, eu, todos. E ser discípulo missionário significa saber que somos o Campo da Fé de Deus”.

De acordo com o Santo Padre, somos “campo” em três sentidos: primeiro, como lugar onde se semeia; segundo, como lugar de treinamento; terceiro, como canteiro de obras. Pessoalmente, adorei essa perspectiva, e estando lá no Rio, escutando essa reflexão desde a areia da praia, vibrei com a genialidade do Papa. Ele conseguiu conduzir a atenção de milhões de jovens para o essencial, para o interior, para a vida cristã, que deve ser de constante trabalho nesse “campo” que é nosso espírito. E refletindo posteriormente sobre isso, não posso deixar de anotar um detalhe, uma coisa comum entre os “três campos”. Trata-se da importância do esforço, da luta, do suor, nesse trabalho pela santidade. A semente da fé é divina, mas implica o nosso esforço humano, esse labor “campestre”.

No campo de sementeira, existem pedras, terrenos áridos, espinhos, ervas daninhas. O Papa Francisco nos convidou a fazer um primeiro trabalho, chamado “exame de consciência”. Ele nos perguntou, e uma vez mais devo repassar essas perguntas: sou um jovem aturdido, inconstante, covarde na hora de “ir contra a corrente”? Deixo que as paixões negativas sufoquem a Palavra semeada no meu coração, jogo “dois papéis”, com Deus e com o diabo ao mesmo tempo? Sou um cristão superficial, “engomadinho”, que aparentemente sou cristão mas que, no fundo, não faço nada? Sou “pura aparência”, com uma liberdade inconsistente, deixando-me arrastar pela moda ou pelas conveniências do momento?

Mas junto a esse primeiro trabalho de exame de consciência, vinha a convicção de que não queremos ser um campo no qual as pedras, os espinhos, que estão pela superfície, sejam obstáculos para que Cristo entre. O Papa nos ajudou a fazer silêncio e orar a Jesus dizendo: “Vê, Jesus, as pedras que tem, vê os espinhos, vê as ervas daninhas, mas vê este pedacinho de terra que te ofereço para que entre a semente”.

Outro trabalho a ser feito é o “treinamento”. E para explicar este conceito, o Papa utilizou a analogia com o esporte, já utilizada por São Paulo em 1Cor 9, 25: “jogamos no time” de Jesus Cristo. Por isso o cristão “deve treinar, e  muito! Também é assim a nossa vida de discípulos do Senhor”. E o prêmio que Ele nos oferece é muito superior ao de uma Copa do Mundo de Futebol: é “a possibilidade de uma vida fecunda, de uma vida feliz”. Para entrar nessa partida, devo estar “em forma”, através do diálogo com Cristo, na oração, no silêncio, perguntando sem medo a Jesus o que Ele quer da minha vida. Falar sempre com Jesus, “no bem e no mal”, viver o amor fraterno e acudir aos sacramentos “que fazem crescer em nós a sua presença”. Ser verdadeiros “atletas de Cristo”.

Logo, o Papa nos disse que quando “se sua a camisa”, experimentamos algo maravilhoso: que nunca estamos sozinhos, que fazemos parte de uma grande família, que é a Igreja. E que juntos podemos construí-la, repará-la, ser protagonistas da história. “Sejam protagonistas. Joguem ao ataque! Chutem para a frente, construam um mundo melhor, um mundo de irmãos, um mundo de justiça, de paz de fraternidade, de solidariedade. Joguem sempre ao ataque!”, nos exortou o Santo Padre, com energia.  Assim os falou do terceiro “campo” que somos, um campo de construção. E nos pediu que construamos uma Igreja viva e grande, capaz de acolher toda a humanidade. Então naquele momento, juntos com o Papa, nós repetimos: “Eu quero ir e ser construtor da Igreja de Cristo!”, como discípulo missionário.

Assim, o Papa Francisco nos falou do que clama o coração de todo jovem. Nos falou da sede de mudança, da nossa vontade de ser protagonistas de um mundo novo, de uma civilização mais justa e fraterna. E nos falou de tal modo que não podemos ceder à apatia: “Vocês são aqueles que têm o futuro! Vocês… Através de vocês, entra o futuro no mundo. Também a vocês, eu peço para serem protagonistas desta mudança”. E completou, dizendo-nos: “Por favor, não olhem a vida da sacada, entrem nela. Jesus não ficou na sacada, mergulhou… Não olhem a vida da sacada, mergulhem nela, como fez Jesus.”

Por onde começamos a trabalhar? “Por ti e por mim”, foi a resposta da Beata Teresa de Calcutá, e também a do Papa Francisco. E devo questionar-me: “Se devo começar por mim, por onde inicio? O trabalho é análogo ao de um agricultor, ao de um atleta, ao de um construtor. E acho que posso colaborar com uma analogia mais: estamos também em um campo de batalha, em uma luta constante, interior e exterior. É o “bom combate da fé”, do qual São Paulo também nos fala. Esse campo sou eu também. O trabalho campestre tem sua dimensão de luta, assim como o esporte e a construção. Nesta grande transformação, somos também “guerreiros” em prol do bem, da verdade e da beleza.

Nós precisamos de Jesus. Sem ele, nosso trabalho é vão. Mas Ele também precisa de ti, de mim, de nós. O quê farei? O quê você vai fazer? Santa Maria deu uma resposta radical: “Faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lc 1, 38). Também nós dizemos o mesmo: “Senhor, eis-me aqui”, “faça-se”.

Fonte para os textos do Papa Francisco na JMJ Rio2013: http://www.vatican.va/holy_father/francesco/speeches/2013/july/documents/papa-francesco_20130727_gmg-veglia-giovani_po.html

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