Maria e os silêncios

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Meditaremos hoje nos silêncios como um meio que a nossa espiritualidade nos oferece para crescer no senhorio de nós mesmos, para que todo o nosso ser corpo, alma e espírito, se abra cada dia mais à Reconciliação que o Senhor Jesus nos trouxe. Santa Maria é o nosso modelo e intercessora nesse caminho de recuperação do senhorio de nós mesmos por meio do caminho pedagógico dos silêncios

 Primeiro mistério: o silêncio de palavra

“Enquanto assim falava, certa mulher levantou a voz do meio da multidão e disse-lhe: “Felizes as entranhas que te trouxeram e os seios que te amamentaram!” Ele, porém, respondeu: “Felizes, antes, os que ouvem a palavra de Deus e a observam”” (Lc 11,28).

Meditação: O silêncio de palavra não é a simples ausência de palavras, mas é a capacidade de escutar Deus e os nossos próximos para assim sermos capazes de responder adequadamente, com as nossas palavras e ações. Maria é modelo e guia na vivência deste silêncio. Ela é feliz, como afirma Jesus, porque soube escutar a palavra de Deus e ser coerente com ela, cada dia da sua vida.

 Segundo mistério: o silêncio de corpo

“Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho para a região montanhosa, dirigindo-se apressadamente a uma cidade de Judá. Entrou na casa de Zacarias e saudou a Isabel” (Lc 1,39-40).

Meditação: O nosso corpo é também destinatário do dom da Reconciliação e está chamado a ser templo do Espírito Santo, como dizia São Paulo. Como todo dom recebido de Deus, estamos chamados a cuidá-lo e usá-lo retamente no cumprimento do Plano de Deus. Santa Maria nos dá exemplo: coloca todas as suas energias corporais ao serviço do Plano de Deus, subindo prontamente uma serra de 100 km para apresentar-se na casa de Isabel, a sua prima, levando a esse lugar a presença de Jesus, o Verbo Encarnado.

Terceiro mistério: o silêncio de mente

“Desceu então com eles para Nazaré e era-lhes submisso. Sua mãe, porém, conservava a lembrança de todos esses fatos em seu coração” (Lc 2,51).

Meditação: Diante da resposta do Menino Jesus, ao ser encontrado no templo, discutindo com os doutores, Maria não emite juízos precipitados. A Escritura diz que ela medita e guarda as coisas no coração. Um dos aspectos do silêncio de mente é não tirar conclusões precipitadas, procurando respeitar o sentido objetivo que a realidade tem, evitando as distorções às quais nos pode nos levar o subjetivismo, pelo qual se dá um peso absoluto ao próprio ponto de vista.

Quarto mistério: O silêncio da afetividade

“E a ti, uma espada traspassará tua alma! – para que se revelem os pensamentos íntimos de muitos corações” (Lc 2,35).

A profecia de Simeão se cumpriu ao pé da Cruz. Porque tem um coração de carne, capaz de alegrar-se com as maravilhas de Deus, mas também de entristecer-se pelos sofrimentos do seu Filho, ele pode ser traspassado pela espada da dor. Maria não tem um coração de pedra, mas profundamente sensível e forte ao mesmo tempo. Por isso Ela não se deixa abater, dando-nos exemplo da atitude cristã perante as provações e sofrimentos, firmemente alicerçada nas promessas de Deus, de que o sofrimento do seu Filho não seria em vão, mas daria muito fruto.

Quinto mistério: O silêncio da vontade

“Disse, então, Maria: “Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!” E o Anjo a deixou” (Lc 1,38).

Com uma frase simples e curta Maria entrega toda a sua vida ao Senhor, aceitando a missão impressionante que lhe era confiada. Como é possível para uma jovenzinha responder com tal decisão e ousadia ao imenso horizonte que lhe era apresentado. O silêncio da vontade nos possibilita, como Maria, respondermos com firmeza e decisão ao Plano de Deus, agindo sempre coerentemente, como Ela, com essa Faça-se generoso.

Martin Ugarteche Fernández
Membro do Sodalício de Vida Cristã desde 1996. Nascido no Peru em 1978, mora no Brasil desde 2001. Por muitos anos foi professor de Filosofia na Universidade Católica de Petrópolis. Atualmente faz parte da equipe de formação do Sodalício, é diretor do Centro de Estudos Culturais e desenvolve projetos de formação na Fé e evangelização da cultura para o Movimento de Vida Cristã.

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