As meditações de hoje para rezar o terço estão inspiradas no livro “Jesus de Nazaré”, do Papa Emérito Bento XVI. Nesta belíssima obra, o autor verifica no Pai-Nosso a mesma estrutura do Decálogo, onde estão contidos as duas partes do principal mandamento: o amor a Deus e ao próximo, e a partir daí concluí ser o Pai-Nosso “caminho do amor e da conversão” (p. 126).
Assim, como o Pai-Nosso é a oração que sintetiza a vida do cristão, e Maria é o modelo de como viver conformado ao Senhor, logo Maria é o modelo de como transformar a oração do Pai-Nosso em realidade concreta em nossas vidas.
1º Mistério: Maria é modelo de comunhão com Deus – “Pai-Nosso que estás nos céus, Santificado seja o vosso nome.”
– Bento XVI nos fala sobre a alocução “Pai nosso que estas nos céus” como um conhecimento da essência de Deus: como Pai, em sua dimensão de relação amorosa conosco, seus filhos (p. 128 e 129). O primeiro pedido “santificado seja o vosso nome” nos indicaria justamente este estabelecimento da relação que surge a partir do nome pelo qual posso chamar ao outro, e também que devemos adorá-lo (p. 133).
– Maria sempre viveu uma exemplar proximidade com Deus, por isso o anjo a saúda como “cheia de graça”, e Isabel a confirma como bem-aventurada por ter acreditado nas promessas. O Magnificat demonstra seu profundo conhecimento da relação de Deus com seus filhos (Israel) quando diz: “como havia prometido aos nossos pais me favor de Abraão e de seus filhos”. Maria sempre teve a correta percepção de Deus em sua vida e vivia esta comunhão a tal ponto de ser eleita mãe do Filho de Deus.
– Devemos refletir como está nossa relação e comunhão com Deus, se temos a intimidade de “filhos”.
2º Mistério: Maria nos leva ao encontro com o Senhor e nos move a fazermos sua vontade – “Venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu.”
– Bento XVI nos fala que ‘Reino de Deus’ significa ‘soberania de Deus’ (p. 65), isto é: dar prioridade à Deus em nossas vidas (p. 135). Nos fala também que “Reino de Deus” é o próprio Senhor Jesus (p. 135), é o pedido de comunhão com o Senhor Jesus. No terceiro pedido, além de reforçar o nosso pedido de estarmos em comunhão com Cristo, indica também nosso desejo de cumprir a vontade do Pai (p. 136).
– Dentre os vários momentos da vida de Maria onde vemos como ela nos leva ao encontro com o Senhor e ao cumprimento da vontade de Deus, dois merecem destaque: A Anunciação-Encarnação demonstra incontestavelmente a docilidade de Maria diante do Plano de Deus e ao mesmo tempo traz a todos o Reino de Deus na pessoa do Senhor Jesus. Outra ocasião é a passagem das bodas de Caná, onde Maria nos indica concretamente a ‘fazer o que o Senhor nos disser’ e com sua intercessão o Senhor se auto-revela aos discípulos.
– Devemos refletir qual se o Senhor Jesus efetivamente é o centro da minha vida, se minhas decisões levam em consideração seus ensinamentos e se realmente me preocupo em cumprir o Plano de Deus em minha vida.
3º Mistério: Maria nos mostra a reta dimensão da nossa realidade humana – “O pão nosso de cada dia nos daí hoje.”
– Bento XVI nos fala da correta compreensão dos bens materiais que estão à nossa disposição: na solidariedade com os mais necessitados e contra a tentação do orgulho de não reconhecermos a providência divina. E também da sede que possuímos de Cristo (o pão vivo), que ‘nos ajuda a ultrapassar o simplesmente material’ (p. 143).
– Em Maria temos exemplos claros de como encarar as nossas limitações materiais com os olhos postos no Senhor, no mais além: como em sua serenidade diante das dificuldades do nascimento do Senhor, quando nos diz São Lucas, “guardava todas aquelas coisas e meditava em seu coração”, ou mesmo ao estar de pé diante da cruz do seu filho.
– Devemos refletir sobre como lido com minhas limitações: fico sem esperança ou confio na providência do Senhor? Busco a reconciliação das minhas rupturas?
4º Mistério: Maria nos ensina a viver a dinâmica da reconciliação – “Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.”
– Bento XVI faz uma sequência de pensamento lógico indicando que este pedido nos remete primeiro à culpa, decorrente da ferida ao amor, ao próprio Deus; em seguida nos remete ao perdão, para ao final nos colocar diante do perdão máximo de Deus: o mistério da cruz de Cristo (p. 145). Nos adverte para vivermos com Cristo, em profunda gratidão, suportando o mal que sofremos e acabarmos com ele por meio do amor (p. 146).
– Maria, que tantas dores e dificuldades suportou e sempre crescendo no amor de Deus e para com todos os seus filhos até o momento máximo de estar de pé junto a Cruz do Senhor, é exemplo de como vivermos esta dinâmica: reconhecermos nossas misérias humanas, que muitas vezes nos conduzem ao mal, reconhecermos o amor e perdão de Deus e vivermos também nós esta atitude de perdão e amor no mundo!
– Reflitamos como está meu exame de consciência, gratidão pelo perdão e vivência do amor para com Deus e os próximos.
5º Mistério: Maria nos mostra o caminho da salvação – “Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.”
– Nestes dois pedidos, Bento XVI nos mostra primeiro que as provações são positivas para tornarmo-nos maduros, e muitas vezes neste caminho das provações a tentação está presente, por isso confiamos na fidelidade e proteção de Deus para que “estejas próximo com Tua mão protetora quando a tentação se tornar demasiada para nós” (p. 148). Depois nos recorda a meditação na esperança da nossa fé no Pai, no pedido pela nossa salvação. E fala ainda que somente há vitória do mal quando perdemos Deus em nossas vidas, que por isso devemos sempre ter nosso olhar voltado para Deus (p. 151 e 152).
– Maria é exemplo de confiança em Deus diante das provações e, mantendo sempre os olhos voltados para Deus obtêm a vitória sobre o mal, aquela que vence o dragão mesmo com sua singeleza e natural fragilidade.
– Neste último Mistério, procuremos pensar nas virtudes de Maria que me faltam para converter-me ao Senhor e chegar à glória eterna.