As meditações de hoje buscam aprofundar, da mão de Maria, na realidade da Cruz em nossas vidas e na de todo ser humano. Qual é a nossa atitude diante da Cruz? O que nos pede o Senhor? O que podemos fazer para carregar a nossa Cruz, como fizeram Jesus e Maria?
Primeira meditação: A agonia no horto das Oliveiras.
“E começou a ensinar-lhes: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos escribas, ser morto e, depois de três dias, ressuscitar”. Dizia isso abertamente. Pedro, chamando-o ao lado, começou a recrimina-lo. Ele, porém, voltando-se e vendo seus discípulos, recriminou a Pedro, dizendo: “Afasta-te de mim Satanás, porque não pensas as coisas de Deus, mas as dos homens!”” (Mc 8,31-33).
Antes de iniciar a sua subida a Jerusalém, o Senhor Jesus avisou seus discípulos da maneira como morreria, pregado na Cruz. Pedro reagiu, naquela ocasião, de maneira enérgica: “Não, Senhor, de maneira alguma isso vai acontecer!”. Quantas vezes nós também gostaríamos de tirar a Cruz do Evangelho, do caminho do Senhor e do nosso próprio. Mas não é isso que o Senhor nos ensina. A sua reação diante das palavras de Pedro são mais enérgicas ainda: “Afasta-te de mim Satanás! Tu pensas como os homens, não como Deus!”. Diz a Escritura que “a vida sobre a terra é milícia”. Até quando estaremos brincando de ser cristãos? Até quando diremos ao Pai: “Não se faça a tua vontade, mas a minha seja feita”? Na hora do combate decisivo, no Getsemani, o Senhor nos ensina a dizer exatamente o contrário: “Afasta de mim este cálice, mas não se faça a minha vontade, senão a tua!”.
Segunda meditação: A flagelação
“Pilatos, então, tomou Jesus e o mandou flagelar” (Jo 19,1).
O Santo Sudário nos mostra o corpo do Senhor totalmente coberto de feridas. Sabemos que Ele foi flagelado antes e durante seu caminho ao Calvário. A essas feridas depois se somariam aquelas fruto das quedas e finalmente as chagas nos pés e mãos e aquela do lado, na qual penetrou a lança. Quantas feridas! E todas por amor a cada um de nós! É uma ilusão pensar que poderemos passar por este mundo sem ser feridos, por nós mesmos, para começar, sempre que pecamos. Essas são feridas que podemos e devemos evitar. Mas há outras inevitáveis, físicas, psíquicas, espirituais. Há também as feridas que o mundo nos inflige por causa do Evangelho, porque seguimos o Senhor. O que fazer diante dessa realidade? O Senhor nos oferece um caminho, dando, na Cruz, um sentido a todo o sofrimento humano: a Reconciliação. Façamos como São Paulo, quem dizia que completava no seu corpo o que faltava ao sofrimento de Cristo na Cruz. Mas não caiamos na ilusão de pensar que é possível escapar do sofrimento.
Terceira meditação: A coroação com a coroa de espinhos
“O soldados, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-na em sua cabeça e jogaram sobre ele um manto de púrpura” (Jo 19,2).
O gesto dos soldados é uma caricatura. Eles não querem realmente coroar o Senhor, mas apenas caçoar dele. A imagem que eles têm de um rei é muito diferente daquela que oferece esse pobre condenado, manso e humilde de coração. É compreensível, portanto, que esses homens não escutem a sua palavra nem busquem vive-la. E nós? Coroamos o Senhor com uma coroa verdadeira? Ou a nossa coroa é também uma caricatura? O Senhor nos disse: “Sede santos, como vosso Pai é Santo”. E nós, acreditamos nessa Palavra? Buscamos a nossa santidade? Ou simplesmente esquecemo-nos disso, o único que importa. E por que esquecemos? Às vezes começamos com muito entusiasmo, mas quando aparecem as primeiras dificuldades, quando as nossas comodidades são ameaçadas, largamos a Cruz e corremos atrás das mentiras que o mundo nos oferece, as vãs compensações.
Quarta meditação: A subida ao Calvário
“E ele saiu, carregando a sua cruz, e chegou ao chamado “Lugar da Caveira”- em hebraico Gólgota- onde o crucificaram” (Jo 19,17).
O caminho que levava ao Calvário, onde seria Crucificado, era um caminho íngreme, uma subida. Isto nos lembra de que a vida cristã é, por definição, uma constante subida. Ser pessoa humana, buscar o bem, a verdade, a autêntica beleza, já é um caminho exigente, de subida. Muito mais a vida cristã, cujo cume é inimaginável, inatingível com as nossas forças humanas apenas, mas sim com a graça que Deus nos oferece. É muito belo o simbolismo das Cruzes cravadas no topo das montanhas. Elas nos lembram de que não podemos ficar parados com o até o agora conquistado. Essa Cruz é a meta, como o foi para Jesus, mas não é para nós um objeto externo, longínquo, destinado à tortura: é o sinal da nossa Reconciliação, que levamos no peito. Façamos como São Paulo, quem dizia que corria para adiante, para cima, esquecendo o que tinha ficado para trás. Quem não avança, na vida cristã, retrocede.
Quinta meditação: Maria ao pé da Cruz, onde jaz seu Filho, crucificado e morto
“Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, mulher de Clopas, e Maria Madalena” (Jo 19,25).
Maria não foge da Cruz. Que lugar de contradições aquele que ocupa Maria neste momento! Nunca a Cruz foi, com certeza, tão desagradável como aquela tarde, em que sobre ela jazia morto seu Filho querido. Maria, porém, não larga a Cruz, não busca eliminá-la da sua vida. Ela, mais uma vez, aprende do seu Filho, e a abraça. O apóstolo João, o que estava ao lado dela e recebeu, em nome de todos nós, o testamento do Senhor, recebeu aquele dia Maria na sua casa. Ao pé da Cruz Maria recebe sua missão, de acompanhar não só João, mas cada um de nós, de ser a nossa mãe e apóstola. Quantas dores e lágrimas, quanto sofrimento de parto. Maria, mais uma vez, não se esquiva. Sabe que seu filho triunfará. Sabe que muitos o seguirão, que muitos percorrerão o caminho da Reconciliação e ajudarão também seus irmãos a percorrê-lo. Sejamos desses também, não fujamos da Cruz, não fujamos da missão que o Senhor nos encomenda. Estejamos sempre com Ele, não só no Domingo de Ramos, mas também na Sexta-Feira da Paixão. Se morrermos com ele, ressuscitaremos com ele. Se sofrermos com ele, com ele nos alegraremos, e não por um momento, senão eternamente.