O amor conjugal

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Certamente a vida conjugal se aproxima muito do mistério eucarístico. Se aproxima no seu âmbito positivo, ou seja, na entrega de amor que faz com que duas pessoas possam ser uma só carne, mas também no âmbito do sofrimento.

Na vida conjugal você irá sofrer e, infelizmente, fará o outro sofrer. E como sofrer quando aquele a quem você ama é a fonte desse sofrimento?

Naturalmente a primeira reação ao sofrimento é a fuga, o distanciamento, a autodefesa. Uma outra reação é a luta, o ataque, uma desesperada tentativa de, destruindo o outro, alcançar a tranquilidade.

Falsos caminhos, nem um nem outro nos resolve o problema do sofrimento na conjugalidade. O primeiro nos afasta de quem amamos, nos isola e, mais do que isso, nos fecha em si. Caminho pleno para viver ainda mais o egoísmo. O fechar-se em si diante do sofrimento torna o homem um poço de ressentimento e, nesse ruminar, pouco contemplativo, os germes da traição, da mágoa, da vingança, vão encontrando solo fértil.

A luta também não contribui. Quanto mais ataco aquele que amo mais me vou ferindo, ou será que fazer mal a quem amo não me faz mal? Certamente que um pai que ama profundamente  o filho sofrerá ao castigá-lo. Quando um cônjuge ataca o outro, pouco a pouco abala em si o amor pelo seu esposo(a), permite-se fazer o mal e, ao mesmo tempo que se fecha ao amor, macula essa relação tão íntima que é o amor conjugal.

Não é preciso dizer que quem sofre os ataques fica tanto marcado pelo mal que o outro lhe faz, como também pode adotar a fuga, cultivando em si uma série de ressentimentos, afstando-se do outro não pelos ataques em si, mas pelo inadequado amor-próprio. Ela(e) foi injusto! Não mereço isso!

Nesse ciclo, o bem comum, essência de todo amor, vai perdendo espaço.

Então, o que fazer? Se o mistério do amor conjugal se aproxima do mistério eucarístico, Nele podemos encontrar a resposta.

A primeira delas, para mim, está no abraçar. Cristo abraça a cruz. Não a renega, não afasta o pecado da humanidade. Ele carrega tal pecado por está humanidade. Quando teu cônjuge te faz sofrer pelas inúmeras misérias que tu e ele possuem, abrace-o. Saiba que nesse caminho, somente os fortes conseguem trilhar. Existem inúmeros aspectos positivos no amor conjugal mas, não se pode esquecer das coroas de espinhos. Quando o pecado abunda, a graça pode superabundar. Graça dada por Deus e que se traduz no amor. Quando o outro te faz sofrer, ame-o ainda mais.

Cristo, no mistério de sua paixão, não entrou em si (no sentido de se defender) nem atacou. Compreendeu. Tu e teu (tua) esposa têm misérias, seriam ingênuos se acreditássem que elas não os afetariam durante a caminhada. Compreender (Pai, perdo-os, eles não sabem o que fazem). Compadecer. Na Cruz não fomos nós que compadecemos com Cristo (sofremos o sofrimento Dele), foi Ele que se compadeceu (sofreu nosso sofrimento pelo pecado) por nós. Que belo! No alto da Cruz vemos Aquele que tanto ama e, por isso, sofre pelo nosso mal.

Quando teu cônjuge te ataca, sofres principalmente pelo mal que ele comete a si mesmo ou pelo ataque que ele te faz?

Que belo o amor conjugal. Ele nos pede a excelência do amor. Nos interpela o tempo todo e, por isso mesmo, é elevado a sacramento. Elevado ao sagrado, pois é aquele amor que, junto com o da Trindade, desde a gênese da humanidade se fez presente.

Por: José Augusto Rento

1 COMENTÁRIO

  1. Sofrer com Cristo que habita verdadeiramente em nós, pela graça.

    Saber que não estamos sozinhos, Ele é capaz de nos entender e compartilhar de fato aqui e agora as nossas dores.

    Completar em nossa carne o que falta à paixão do Senhor, com Ele.

    Dizem que a resignação diante do sofrimento é uma virtude importante para os principiantes na vida cristã, mas que se desenvolve até chegar à alegria por sofrer com Cristo. E esse desenvolvimento é o noemal, se não atrapalharmos o Espírito Santo.

    O que nos une mais a Deus, a dor ou a consolação? Resposta: nenhuma das duas, mas o AMOR com que nos oferecemos a Ele, tanto na dor quanto na consolação. Então, se ele permite uma, essa é a que devemos agradecer e abraçar. Se depois nos concede outra, tambem abraçamos e amamos.

    Deus é tão bom!

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