O diálogo em família

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Por João Antonio Johas Leão

Sabemos muito bem que abrir o coração não é algo fácil de se fazer. Quem nunca experimentou dificuldade em ter aquela conversa necessária, mas desagradável? Ou ainda, quem não sentiu um certo receio de confessar seus pecados a um sacerdote, ou mesmo de falar sobre eles no íntimo da oração? Realmente não é fácil abrir nosso mundo interior, mas sabemos que é importante porque também já experimentamos os frutos do perdão, da reconciliação ou simplesmente do desfazer-se de um mal-entendido. O diálogo em família é, muitas vezes, o caminho para a união, o entendimento e o fortalecimento do amor. E a falta do diálogo parece ser um reflexo de uma falta de diálogo com o próprio Deus.

Muitos fatores parecem entrarem em jogo quando pensamos sobre a dificuldade do diálogo que percebemos. Gostaria de pensar em alguns deles que, se levados em consideração, podem ajudar a que todos tenhamos uma melhor capacidade de dialogar.

Sentir vergonha – Cair do cavalo (Interiormente, mas tentar salvar o externo)

Se o conteúdo do diálogo diz respeito a algo que fizemos mal, é natural que sintamos vergonha de partilhar. Se caímos do cavalo (Como São Paulo) interiormente pelo peso de nossas faltas e fragilidades, o exterior ainda pode estar intocado e pode surgir a tentação de tentar salvar essa imagem externa e a vergonha pode impedir que “caiamos do cavalo” externamente. Nesse sentido é necessário vencer essa trava inicial, porque só assim é que voltaremos a entrar em verdadeira comunhão com as outras pessoas queridas.

Por outro lado, a vergonha tem um aspecto positivo se não deixarmos que ela nos freie. O Papa Francisco no livro “O nome de Deus é misericórdia” repetidas vezes diz que a vergonha é uma graça que precisamos pedir a Deus, porque ela nos torna humildes e conscientes das nossas faltas. Somente sentido essa boa vergonha é que podemos experimentar também a misericórdia do perdão dos outros e de Deus.

Respeitos humanos

Agora, se o que é preciso dialogar diz respeito às faltas dos outros que percebemos, muitas vezes cresce em nós um sentimento de “não querer machucar” o outro. Essa situação não é simples porque se por um lado é preciso que respeitemos a outra pessoa e não lhe firamos desnecessariamente, por outro é também um dever cristão, uma obra de misericórdia inclusive, corrigir os que estão errados. Com essa consciência, entenderemos que é preciso paciência e discernimento para dizer o que precisa ser dito, mas da forma adequada, no momento mais adequado. O que não pode acontecer é deixar que caiamos na tentação de nunca encontrar o momento adequado ou a forma correta. Não existem momentos perfeitos e por isso é preciso coragem para alcançar o outro no seu erro e, com toda caridade possível, mostrar-lhe onde ele pode melhorar.

Falta de prática

Na sociedade em que vivemos somos muito impulsionados a viver uma vida de superfície. Com tantas coisas a serem feitas, ficamos sem tempo para aprofundar nossos relacionamentos como eles pedem e por isso um dos problemas do diálogo é simplesmente a falta de prática que temos em dialogar. É como um músculo que deixa de ser utilizado e vai atrofiando. É preciso lançar-se a dialogar, tendo consciência da importância desse meio para o bem da família. Dialogar com Deus na oração é uma forma de prática também para os diálogos familiares. Com Deus, que sabe tudo o que se passa em nosso interior, também experimentamos vergonha e a tentação de não lhe abrir o coração. Também sentimos raiva e ficamos até bravos porque parece que Deus fez algo errado. Mas sabemos que Ele é um Pai misericordioso, que somente quer o que é melhor para nós, assim como as famílias estão chamadas a serem.

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