Gostaria de responder a essa pergunta partilhando com vocês uma experiência muito marcante que tive na semana passada. Eu e um grupo de jovens nos propusemos a fazer uma visita solidária a moradores de rua de Aparecida- SP e Guaratinguetá – SP .
O fato de 25 jovens terem aparecido numa sexta à noite em época de pré-carnaval fala de algo muito positivo: eles realmente querem ser missionários, são generosos e estão dispostos a mudar o mundo, ajudando o irmão concreto.
O ponto de encontro foi a minha casa. Aí preparamos os lanches que conseguimos de doação, organizamos os carros, definimos alguns lugares onde poderíamos encontrar andarilhos. Todos estavam muito empolgados, com muitas expectativas do que poderiam encontrar pela frente. Após terminarmos os preparativos, tivemos um breve momento de oração na capela e em seguida saímos em grupos de dois carros, cada grupo com vários pontos a percorrer. E que comece a aventura!
O grupo que acompanhei encontrou alguns andarilhos, pessoas com histórias difíceis (alguns deles estão nas ruas por terem perdido tudo por causa das drogas, perdendo até o contato com a família), mas também com uma sabedoria impressionante, que especialmente para os mais novos chamou muito a atenção.
Um andarilho, o seu Jacobino, mais conhecido como Jacó, nos contou várias histórias de milagres em sua vida, onde a presença de Cristo e Nossa Senhora Aparecida foram fundamentais. Nós fomos inicialmente para entregar um lanche, uma medalha de São Miguel, dar uma palavra de esperança. Acabamos sendo surpreendidos por ele nos dando muito mais do que imaginávamos. Ficamos falando por um bom tempo (na verdade mais o escutando) e na despedida ele quis nos deixar três conselhos: “confiar sempre na misericórdia de Deus, buscar sempre ter saúde e ser humilde”. Conselho que eu e os adolescentes que estavam comigo certamente guardaram no coração.
Algo interessante dessa iniciativa é que quando alguém realmente se importa com essas pessoas, sem ignorá-las, elas abrem o coração, enriquecem a nossa vida. Vale a pena lembrar que essas pessoas tem uma dignidade como a nossa: são filhos de Deus, chamados à felicidade.
No final da aventura, nos encontramos no ponto de encontro marcado e todos tiveram a mesma experiência do meu grupo. Tantas histórias apareceram, ficamos até tarde partilhando… O pessoal estava muito contente e disseram que cresceram muito com essa experiência. E já estão pensando no próximo desafio…
Acredito que isso que fizemos é um exemplo de como ser um jovem missionário. Queremos ser discípulos de Cristo, “la juventude del Papa”, buscando responder o convite que nos fez o Papa Francisco na JMJ : “Ide, sem medo, para servir”. Ele tem nos pedido constantemente sair ao encontro do outro, do que mais necessita, indo às periferias existenciais. Espero que essa iniciativa possa animar a muitos de vocês a serem cada dia discípulos e missionários de Cristo. Pensem com ousadia e criatividade como ser missionário na realidade que vocês vivem. Não tenham medo de ser generosos! Ser discípulo e missionário de Cristo é o máximo!
Abaixo, trago para vocês o depoimento de uma de nossas missionárias. Ela se chama Patrícia Garcia e tem 26 anos. Confira:
“Em nosso primeiro encontro conhecemos o Sr. Leonardo, morador de rua e alcoólatra, que veio fugido de sua cidade onde levou tiros e facadas por causa do seu ultimo relacionamento.
Durante a conversa ouvimos sua história, e ele contou que gosta da liberdade, de acordar e ir dormir onde tiver vontade… E num certo momento perguntamos a ele sobre Deus.
Ele respondeu: “Deus não gosta de mim, pois sou pecador demais”. Então, nesse momento, veio a vontade de contar para ele a passagem do filho pródigo, e ele se emocionou. Todos os jovens se emocionaram junto, pois esse pai que representa Deus não olha para o nosso passado, e sim para o nosso coração, para a vontade de sermos “novos”, nos acolhe e nos espera de braços abertos fazendo uma festa! Assim contei…
Deixamos o Sr. Leonardo com a esperança de que tudo pode ser renovado.
Nossa 2º visita foi ao Sr. Moisés. Ele vive embaixo de uma ponte, e disse gostar muito de morar embaixo de pontes pois o barulho da água e sua brisa tornam o lugar muito agradável. Ele nos contou toda sua história de vida, desde criança, a convivência com o pais, a agressividade do pai com a mãe e com todos os filhos…. E também sobre o seu amor com os animais.
Ele disse que já curou mais de 2 mil cachorros, e mais de mil gatos, e que agora ele anda “curando” muitos pombos. É um senhor muito sábio! Quando chegamos, ele perguntou: “vocês são da Igreja?” Eu respondi: “sim”. E ele disse: “Eba! Quero ouvir a palavra!”
Ele sabe muito sobre a palavra de Deus, nos deu aula em diversos momentos. É incrível ver que realmente Deus escolhe os pequenos para suas obras, pois a missão do Sr. Moisés é cuidar dos animais, tendo sempre uma reputação coerente com a sociedade mesmo sendo um pobre morador de rua. Fiquei muito feliz e honrada em conhecê-lo!”
Que Nossa Senhora, a primeira discípula e missionária, nos ajude a sermos sempre generosos, tendo uma vida de constante missão.