“Amei-te com amor eterno; por isso atrai-te a mim cheio de misericórdia…” (Jr 31, 3). Essa passagem de Jeremias nos permite ver o núcleo da relação de Deus com suas criaturas. Deus nos ama e esse amor se expressa em sua misericórdia infinita por cada um de nós. Nas palavras do Papa Francisco: “Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado”. E esse caminho fica particularmente evidente quando contemplamos o Sagrado Coração de Jesus.
No documento chamado Haurietis Aquas, sobre o culto do Sagrado Coração de Jesus, podemos ler que “ao mostrar o Senhor o seu coração sacratíssimo de modo extraordinário e singular quis atrair a consideração dos homens para a contemplação e a veneração do amor misericordioso de Deus para com o gênero humano”. No coração de Jesus podemos ver essa chama ardente de amor misericordioso que consome a cruz e os espinhos dos nossos pecados, para nos lembrar que a força do Amor de Deus é infinitamente maior que as nossas falhas.
Chama a atenção que tanto a passagem bíblica como o documento da Igreja falem de atração. “Atrai-te a mim” e “quis atrair a consideração”. Penso ser uma palavra que expressa bem o desejo mais íntimo de Deus de que lhe entreguemos os nossos corações. Essa palavra a incansável busca de Deus por nós, mas também deixa claro que Ele nunca atropela a nossa liberdade, ele atrai, ele não nos puxa. É sempre uma decisão nossa deixar-nos atrair por Ele ou não. É fácil lembrar aqui aquela passagem do Apocalipse que diz: “Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo” (Ap 3, 20). Ele nunca vai arrombar essa porta. Mas da mesma maneira que nunca vai deixar de bater, também não se cansa em mostrar-se rico em misericórdia, esperando que um dia lhe concedamos nossos corações, ou que lhe abramos a porta.
Quando celebramos o Sagrado Coração de Jesus, devoção que infunde Inumeráveis riquezas celestiais nas almas dos fiéis, estamos celebrando o culto à Pessoa do Verbo Encarnado, a segunda da Santíssima Trindade. E como nos diz o Papa Francisco, Jesus Cristo é o rosto da Misericórdia do Pai. Em Cristo podemos ver o tamanho da misericórdia de Deus. Enquanto caminhou pela Terra, passou fazendo o bem, irradiando desde seu Sagrado Coração, a divina misericórdia. Com esse olhar atraiu os homens de ontem e quer continuar atraindo os de hoje. Quanto mais crescermos nessa devoção, mais nos deixaremos atrair pelo amor de Deus.
Junto a devoção do Sagrado Coração, e também com a intenção de render-lhe um culto mais digno, é importante unir a devoção ao Imaculado Coração de Maria, não apenas celebrando-os em dias sucessivos (Como sabiamente o escolheu fazer a Igreja), mas unindo-os em nossas vidas. O coração de Maria é quem melhor nos leva ao Coração de Jesus. Quanto mais nos aproximamos da Mãe de Cristo, mais ela vai nos ensinando a assemelhar o nosso coração com o de seu Filho.
Que nessa Solenidade do Sagrado Coração deixemo-nos atrair um pouco mais pela misericórdia infinita que jorra desse coração. Não lhe fechemos as portas, pelo contrário, façamos um esforço por abri-las de par em par, para que recebamos com sinceridade tudo aquilo que Deus quer nos dar.