Todos os mistérios da vida de Cristo são luminosos, já que Ele é a luz do mundo. Este caráter luminoso, porém, é muito mais explícito durante a sua vida pública, durante a qual se dedica ao anúncio do Reino, chamando todos à conversão. Meditamos hoje, em companhia de Maria, nos mistérios luminosos do Santo Rosário, buscando renovar-nos em nossa vocação a ser luz, a irradiar o Evangelho desde a nossa pequenez, confiando no Senhor que nos envia e acompanha no caminho.
Primeiro mistério: o Batismo no Jordão
“Aconteceu, naqueles dias, que Jesus veio de Nazaré da Galiléia e foi batizado por João no rio Jordão. E, logo ao subir da água, ele viu os céus se rasgando e o Espírito, como uma pomba, descer até ele, e uma voz veio dos céus: “Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo”” (Mc 1,9-11)
Jesus é o Filho Amado, em quem o Pai se compraz, “a luz verdadeira que ilumina todo homem” (Jo 1,9a). Diz o Evangelho que, no dia seguinte ao do Batismo no Jordão, ao ver Jesus que passava, disse o Batista: “Eis o Cordeiro de Deus” (Jo 1,36a) e dois dos seus discípulos, João e André, ao ouvi-lo, seguiram imediatamente Jesus. O Batista cumpria assim aquilo que dele afirma o Evangelho: “Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz” (Jo 1,8).
A partir do encontro com Jesus, aquele que ilumina o mistério da minha vida, o Cordeiro de Deus que me reconcilia, eu posso, como o Batista, anuncia-lo aos meus amigos. Somente quando reconheço que sem Ele estou na escuridão, posso começar a ser luz, porque me deixei iluminar por Ele.
Cantemos: Dá-nos tua Luz.
Segundo mistério: Auto revelação nas Bodas de Caná
“Então, a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho”. Respondeu-lhe Jesus: “Que queres de mim, mulher? Minha hora ainda não chegou”. Sua mãe disse aos serventes: “Fazei tudo o que ele vos disser” (Jo 2,3b-5).
Este segundo mistério é o único entre os luminosos no qual Maria se encontra explicitamente presente, no primeiro plano dos acontecimentos. E até mesmo nesse momento o que Ela faz é tirar a atenção dela mesma para dirigi-la ao seu Filho: “Fazei o que Ele vos dizer” (Jo 2,5). E o que Ele nos diz? Sejam luz, não se escondam (Cf. Mt 5,14-16), vão por todo o mundo e anunciem o Evangelho (Cf. Mc 16,15). Sigamos hoje e sempre o doce imperativo apostólico que sai dos lábios maternais de Maria, e se dirige a cada um de nós.
Cantemos: Canto a ti Maria.
Terceiro mistério: o Anúncio do Reino
“Levi ofereceu-lhe então uma grande festa em sua casa, e com eles estava à mesa numerosa multidão de publicanos e outras pessoas. Os fariseus e seus escribas murmuravam e diziam aos discípulos dele: “Por que comeis e bebeis com os publicanos e com os pecadores?” Jesus, porém, tomando a palavra, disse-lhes: “Os sãos não têm necessidade de médico e sim os doentes; não vim chamar os justos, mas sim os pecadores, ao arrependimento”” (Lc 5,29-33).
O Senhor Jesus sabe muito bem qual é a sua missão. Ele é a luz do mundo e se faz o “encontradiço” com cada ser humano. Sai ao nosso encontro, batendo a nossa porta, mas nunca a arromba, respeitando a nossa liberdade. Quem abrir, como fez Levi, poderá compartilhar a sua vida com Jesus e ser seu amigo. E não fica só nisso: ele se torna verdadeiramente um apóstolo quando chama todos seus amigos para que conheçam também Jesus. Desde a sua experiência de ser reconciliado e chamado, ele pôde tornar-se luz para os demais.
Quarto mistério: a transfiguração
“Enquanto orava, o aspecto de seu rosto se alterou, suas vestes tornaram-se de fulgurante brancura (…) Da nuvem, porém, veio uma voz dizendo: “Este é o meu Filho, o Eleito; ouvi-o”” (Jo 9,29.35)
Pedro, Tiago e João tiveram a bênção de ver o Senhor Jesus transfigurado. Essa experiência foi para eles, sem lugar a dúvidas, fonte de alento e força para continuar no caminho, preparação para os duros acontecimentos que estavam por vir. Assim também nós, no apostolado, precisamos sempre alimentar a nossa esperança de um dia ver o Senhor face a face, como os três apóstolos. Peçamos sempre ao Senhor uma esperança como a deles, que seja sustento da nossa perseverança, sabendo que todo apostolado é esperança vivida.
Quinto mistério: a instituição da Eucaristia
“Com efeito, eu mesmo recebi do Senhor o que vos transmiti: na noite em que foi entregue, o Senhor Jesus tomou pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: “Isto é meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória de mim”. Do mesmo modo, após a ceia, também tomou o cálice, dizendo: “Este cálice é a nova Aliança em meu sangue; todas as vezes que dele beberdes, fazei-o em memória de mim”” (1Cor 11,23-24).
“Mistério de luz é, enfim, a instituição da Eucaristia, na qual Cristo Se faz alimento com o seu Corpo e o seu Sangue sob os sinais do pão e do vinho, testemunhando «até ao extremo» o seu amor pela humanidade (Jo 13, 1), por cuja salvação Se oferecerá em sacrifício”[1].
Ser apóstolo, ser luz, anunciar o Evangelho, é anunciar a todos esse amor de Jesus por cada um de nós, do qual a máxima expressão é o sacrifício da Eucaristia. É poder dizer como dizia São Paulo, em palavras que poderiam até com maior razão ser pronunciadas por Santa Maria, nossa Mãe: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. Minha vida presente na carne, eu a vivo pela fé no Filho de Deus que me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gal 2,20).
Cantemos: Diante do desafio.
[1] Papa São João Paulo II, Rosarium Virginis Mariae, 21.