Cidade do Vaticano (RV) – O Espírito traz duas novidades: um povo novo e um coração novo. E para termos a unidade segundo Deus, isto é, na diferença, devemos evitar duas tentações: “procurar a diversidade sem a unidade e procurar a unidade sem a diversidade”.
Palavras do Papa Francisco ao presidir na manhã deste domingo na Praça São Pedro a celebração eucarística da Solenidade de Pentecostes.
“As Leituras de hoje – observou em sua homilia – nos mostram duas novidades: na primeira, o Espírito faz dos discípulos um povo novo; depois, cria nos discípulos um coração novo”.
Ao falar sobre o “povo novo”, o Santo Padre recorda a passagem dos Atos dos Apóstolos que descreve a ação do Espírito Santo quando desce sobre os Apóstolos reunidos no Cenáculo: “primeiro ele pousa em cada um e depois, coloca todos em comunicação. A cada um dá um dom e coloca todos na unidade”:
“Em outras palavras, o mesmo Espírito cria a diversidade e a unidade e, assim, molda um povo novo, diversificado e unido: a Igreja universal. Em primeiro lugar, com fantasia e imprevisibilidade, cria a diversidade; com efeito, em cada época, faz florescer carismas novos e variados. Depois, o mesmo Espírito realiza a unidade: liga, reúne, recompõe a harmonia”.
E assim, “temos a unidade verdadeira, a unidade segundo Deus, que não é uniformidade, mas unidade na diferença”, enfatizou o Pontífice, dizendo que para se conseguir isto, devemos evitar duas tentações frequentes: procurar a diversidade sem a unidade e a unidade sem a diversidade:
“A primeira é procurar a diversidade sem a unidade. Sucede quando se quer distinguir, quando se formam coligações e partidos, quando se obstina em posições excludentes, quando se fecha nos próprios particularismos, porventura considerando-se os melhores ou aqueles que têm sempre razão. Desta maneira escolhe-se a parte, não o todo, pertencer primeiro a isto ou àquilo e só depois à Igreja; tornam-se «adeptos» em vez de irmãos e irmãs no mesmo Espírito; cristãos «de direita ou de esquerda» antes de o ser de Jesus; inflexíveis guardiães do passado ou vanguardistas do futuro em vez de filhos humildes e agradecidos da Igreja”.
E se corre o risco da tentação oposta, isto é, procurar a unidade sem a diversidade:
“Mas, deste modo, a unidade torna-se uniformidade, obrigação de fazer tudo juntos e tudo igual, de pensar todos sempre do mesmo modo. Assim, a unidade acaba por ser homologação, e já não há liberdade. Ora, como diz São Paulo, «onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade»”.
Neste sentido, devemos pedir ao Espírito Santo a graça para acolher a sua unidade e ter um olhar que “abraça e ama a sua Igreja, a nossa Igreja”:
“Pedir a graça de nos preocuparmos com a unidade entre todos, de anular as murmurações que semeiam cizânia e as invejas que envenenam, porque ser homens e mulheres de Igreja significa ser homens e mulheres de comunhão; é pedir também um coração que sinta a Igreja como nossa Mãe e nossa casa: a casa acolhedora e aberta, onde se partilha a alegria multiforme do Espírito Santo”.
O Papa passou então à segunda novidade trazida pelo Espírito Santo, um coração novo. Quando Jesus apareceu aos discípulos pela primeira vez após a ressurreição – explicou o Papa – não os condenou por o terem renegado e abandonado, “mas dá a eles o Espírito do perdão”:
“O Espírito é o primeiro dom do Ressuscitado, tendo sido dado, antes de mais nada, para perdoar os pecados. Eis o início da Igreja, eis a cola que nos mantém unidos, o cimento que une os tijolos da casa: o perdão. Com efeito, o perdão é o dom elevado à potência infinita, é o amor maior, aquele que mantém unido não obstante tudo, que impede de soçobrar, que reforça e solidifica. O perdão liberta o coração e permite recomeçar: o perdão dá esperança; sem perdão, não se edifica a Igreja”.
E justamente este “Espírito do perdão, que tudo resolve na concórdia” – sublinha Francisco – impele-nos a recusar outros caminhos:
“Os caminhos apressados de quem julga, os caminhos sem saída de quem fecha todas as portas, os caminhos de sentido único de quem critica os outros. Ao contrário, o Espírito exorta-nos a percorrer o caminho com duplo sentido do perdão recebido e dado, da misericórdia divina que se faz amor ao próximo, da caridade como «único critério segundo o qual tudo deve ser feito ou deixado de fazer, alterado ou não»”.
“Peçamos a graça de tornar o rosto da nossa Mãe Igreja cada vez mais belo, renovando-nos com o perdão e corrigindo-nos a nós mesmos: só então poderemos corrigir os outros na caridade”, concluiu Francisco.