A pergunta pelo sofrimento aflige o coração do homem há muito tempo. Talvez uma formulação que ajude a explicitar o drama deste questionamento seja a pergunta pelo sofrimento do justo (pois, à primeira vista, parece razoável que o mal se volte sobre seus autores). Assim, por que Deus – que tudo pode, que é Amor – permite o justo sofrer?
A Revelação oferece em resposta um livro inteiro. O livro de Jó tenta responder à pergunta pelo sofrimento do justo. Ao chegar aos últimos capítulos (especialmente a partir do capítulo 38) o Senhor oferece a resposta. Ao avançar nos versículos, percebemos como o Senhor destaca a distância da criatura com o Criador: “Onde estavas, quando lancei os fundamentos da Terra? Fala, se estiveres informado disso. Quem lhe deu as medidas, já que o sabes?” (Jó 38,4-5).
Na verdade, ao ler com atenção, a resposta é que não há resposta. Mas, chegada a plenitude dos tempos (com a Encarnação do Senhor) o livro de Jó é completado. Ao ver Cristo na Cruz, podemos questionar, quem mais justo e mais sofredor do que Ele? Cristo, através da sua Páscoa, manifesta um novo sentido para o sofrimento, e assim completa a página de Jó.
A pergunta definitiva seria: o que faz o Deus Amor perante a realidade do sofrimento?
Nós cristãos sabemos a resposta: na Páscoa, o sofrimento que era consequência do pecado é agora, em Cristo, transfigurado, e torna-se causa de salvação. Com São Paulo podemos dizer, “onde abundou o pecado (e suas consequências), superabundou a graça” (Rm 5,20). Assim, ao participar da Páscoa de Cristo pelo Batismo, os nossos pecados e os nossos sofrimentos são também inseridos na ação salvífica de Deus.
Uma última ideia. No contexto presente, no qual muitos nos perguntamos por que Deus permite uma adversidade tão complexa e dura, têm-se espalhado diversas explicações (em forma de posts, blogs, vídeos, etc). Uma interpretação seria entender a situação atual como um castigo divino para dar direcionamento a uma humanidade desencaminhada. Na frente dessa visão, é importante afirmar com clareza que Deus não quer o mal.
Como foi afirmado acima, Ele pode transfigurar o mal, e até nos educar através dele; mas o mal e o sofrimento não são realidades que Deus quer em si mesmas. Dito isso, é importante contemplar o mistério de como Deus, embora não o querendo, o permita. Neste mistério, então, nosso olhar de fé permite ver em Cristo a resposta definitiva à dor e à morte, e caminhar na esperança da Vida plena que se realizará só Nele.
Gostei muito do texto!Obrigado pela reflexão!