Primeiras lições do Papa Francisco – por Alexandre Borges de Magalhães

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Francisco começou o seu pontificado desejando “boa noite” aos presentes na Praça de São Pedro e aos milhões de pessoas que pelo mundo acompanhávamos a grande alegria da eleição de um novo Papa. Seu primeiro ensinamento foi a humildade, ao curvar-se perante os fiéis. Mas também abriu um amplo e amável sorriso, dando também uma lição de alegria e esperança, com a simpatia cordial do discípulo de Cristo. Ali mesmo, na sacada vaticana, convocou a Igreja a trilhar um caminho de confiança entre os fiéis, de fraternidade. Ensinou-nos unidade.

Na verdade, haviam começado os primeiros ensinamentos do seu pontificado já na Capela Sistina, ao escolher o nome Francisco que evoca a própria essência do catolicismo. Curiosamente, o nome do importante santo de Assis nunca havia sido escolhido previamente por um Papa. Menos era de esperar que fosse escolhido por um Papa jesuíta. Ensinou-nos a pensar com a mente aberta, com criatividade evangélica, em sintonia com os sinais de Deus.

Lembremos que São Francisco de Assis deixou a casa paterna para servir aos pobres e para reconstruir a Igreja sob forte oposição de seu pai, que não foi capaz de aceitar o caminho que Deus havia traçado para seu filho. São Francisco deixou bens, amigos, família, conforto, status e todo tipo de compensação e valorização mundana para doar-se à Igreja e ao mundo. Alguns acharam que ele estivesse louco, mas a sua vida e testemunho de santidade causou uma reforma profunda na Igreja. O nome Francisco ensina a ser cristãos radicais, entregados, sem medo.

Dirigindo-se aos cardeais, pediu que fosse deixado de lado todo o pessimismo e a não passar adiante a amargura, que o diabo nos oferece diariamente. O diabo! Poucos na imprensa mencionaram esta referência, que não foi a única alusão feita pelo Sumo Pontífice ao demônio nestes dias. Grande ensinamento e lembrança, pois com grande facilidade esquecemos-nos de lutar contra o inimigo, com as armas da graça. Ensinou otimismo e confiança em Deus, mas com o realismo da luta contra o mal.

Logo, convidou a Igreja a centrar-se em Cristo e a confessar a Cristo, do contrário “a coisa não vai” e corremos o risco de nos converter numa ONG piedosa. Fez também uma apologia da terceira idade, a idade da sabedoria e que os senhores cardeais idosos devem partilhar esta sabedoria com os mais jovens. Ensinou o valor e o respeito devido aos que já viveram mais, além de pedir a estes últimos não que guardem para si a riqueza acumulada com a experiência.

Com os jornalistas, o Papa foi profundamente acolhedor. E isso que alguns deles haviam sido muito pouco benevolentes com a Igreja nos últimos tempos. Disse que a Igreja só podia ser entendida com uma visão sobrenatural, manifestou respeito à consciência dos que não eram católicos e disse saber que todos eram filhos de Deus. Construiu uma ponte entre a Igreja e os meios de comunicação, afirmando que estes como a Igreja estão chamados a buscar o bem, a beleza e a verdade. Ensinou compreensão e abertura ao diálogo.

Francisco nos motivou igualmente a não nos fechar ao perdão de Deus, já que Ele perdoa sempre, mas nós nem sempre buscamos ou aceitamos esse perdão. Mas nos lembrou também que devemos ser misericordiosos com todos. De fato, recebeu em audiência a presidente da Argentina, quem negou por mais de 12 vezes pedidos de audiência do então Cardeal Bergoglio. Ensinou a buscar sempre o perdão e a perdoar o próximo.

A missa inaugural do Pontificado, no dia de São José, “homem forte, corajoso, trabalhador… mas de grande ternura”, mostrou a comoção do Papa ante os mais necessitados. Desceu do “papa-móvel” para beijar e abençoar um deficiente, em um gesto emocionante. Pediu “por favor” aos que tinham responsabilidades na sociedade (entre eles, presidentes de muitas nações) que cuidassem das pessoas, especialmente dos mais pobres, e de toda a natureza, criação de Deus.

Enfim, o Papa eleito há poucos dias, jesuíta de coração franciscano, tem falado de improviso e já tem nos ensinado muito. Seu tom é próximo, simples e profundo, deixando falar o Espírito através de seus gestos e palavras.

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