[pullquote style=”right” quote=”dark”]Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus. (Mt 5,8) [/pullquote]
O versículo se encontra inserido no sermão da montanha, e mais especificamente nas bem-aventuranças.
Refletindo sobre a diferença fundamental entre a lei antiga e a lei nova trazida pelo Senhor Jesus, o Papa Bento XVI afirma que não se pode interpretar a passagem como uma moral mais sublime. Os dez mandamentos, seriam, de acordo com isso, o percurso do homem comum, enquanto o cristianismo, inaugurado com o sermão da montanha, o caminho elevado de uma exigência radical que havia de revelar, na humanidade, um novo nível de humanismo.
A grande novidade, segundo o Santo Padre, se encontra no fundamento do ser que nos é dado: o dom da comunhão com Cristo, do viver nEle.
Na trilha de Santo Agostinho, pode-se colocar o coração puro como centro da interpretação do Sermão da Montanha. Aqui o Papa Bento XVI encontra uma relação estreita com a passagem do lava-pés: “só se nos deixarmos sempre de novo lavar, tornar puros pelo próprio Senhor, é que poderemos aprender a fazer, juntamente com Ele, aquilo que Ele fez”. Assim poderemos dizer, como São Paulo, “já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Deixando-nos mergulhar na misericórdia do Senhor, afirma o Santo Padre, o nosso coração encontra o caminho certo.
Nesse sentido, podemos citar Santo Tomás, quando diz “a nova Lei é a graça do Espírito Santo” (S. Th., I-II, q. 106, a.1).
Os Dez mandamentos mantêm a sua vigência com Cristo. A grande novidade está, então, no Espírito Santo que recebemos e nos vivifica. Ele nos une mais a Cristo, nos permite viver em comunhão com Ele. A nossa fidelidade e pureza de coração só é possível a partir dessa comunhão, desse fundamento. Sozinhos não podemos. A lei torna-se um peso insuportável sem o auxílio da graça, como São Paulo tantas vezes lembrava.
Como tornar-nos puros de coração para ser merecedores da bem-aventurança? Somente Deus pode purificar-nos, basta que nos abramos cada dia mais a sua graça, procurando uma relação de intimidade com o Senhor Jesus, acolhendo o Espírito Santo que ele envia para consolar-nos, para criar em nós o homem novo, a imagem de Cristo.