Quaresma e Reconciliação nos Mistérios Dolorosos do Santo Rosário

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Recentemente começamos o tempo da Quaresma, no qual somos convidados a viver uma profunda conversão, a acolher o dom da Reconciliação que o Senhor nos oferece e que conquistou para nós com a sua Paixão, Morte e Ressurreição. Peçamos a Nossa Mãe que nos ajude a acolher toda a graça que o Senhor derrama em nossos corações neste tempo.

 

Primeiro mistério: A oração no horto das Oliveiras.

“Meu Pai, se é possível, que passe de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas como tu queres” (Mt 26,39).

Nesta primeira meditação vemos a confiança inabalável do Filho no Pai, expressa na oração: “Não se faça a minha vontade, senão a Tua”. O Senhor Jesus veio para nos reconciliar com Deus, para ensinar-nos novamente a confiar nEle em todo momento, a saber elevar confiadamente os olhos ao Céu, dizendo “Abba Pai”, até mesmo quando o caminho nos parecer demasiado difícil e exigente.

 

Segundo mistério: A flagelação do Senhor

“Quanto a Jesus, depois de açoitá-lo, entregou-o para que fosse crucificado” (Mt 27,26)

O Senhor nos ensina neste segundo mistério, e ao longo de todo o processo da paixão, a não devolver o mal com o mal, a sabermos opor ao mal a força do bem. Um conhecido filme que retrata a Paixão de Cristo, inspirado nas visões de uma mística cristã, mostra Jesus olhando para as sandálias dos soldados romanos que o flagelam e, ao mesmo tempo, lembrando-se da cena do lava pés. Como reagimos quando achamos que somos tratados injustamente, que os demais são muito duros conosco? Às vezes a nossa resposta é a indiferença, o afastamento. Peçamos ao Senhor um coração forte, um coração novo capaz de amar e perdoar, até mesmo aqueles que nos maltratam. O Senhor veio também para reconciliar-nos com os nossos semelhantes, para que sejamos capazes de ver neles autênticos irmãos, filhos de Deus.

 

Terceiro mistério: A coroação com a coroa de espinhos

“Em seguida, os soldados do governador, levando Jesus para o Pretório, reuniram contra ele toda a coorte. Despiram-no e puseram-lhe uma capa escarlate. Depois, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-na em sua cabeça e um caniço na mão direita” (Mt 27,27-29).

No diálogo com Pilatos, Jesus mostra uma claríssima consciência da sua identidade e missão. Ele sabe que é Rei, mas que seu Reino não é deste mundo. É difícil encontrar pessoas que transmitam essa segurança, esse autodomínio que o Senhor nos mostra na Paixão e no diálogo com Pilatos em particular. Os santos são exemplo dessa segurança, na esteira de Jesus, Nossa Senhora em primeiro lugar. Eles vivem a reconciliação consigo mesmos porque, como Jesus disse a Pilatos, reconhecem e acolhem a Verdade, que é o próprio Cristo, possuem o silêncio necessário para escutar a sua voz. Vivamos também a reconciliação conosco mesmos, peçamos ao Senhor e a Maria, Nossa Mãe, que nos ajudem a acolher a verdade sobre nós mesmos cada dia.

 

Quarto mistério: o caminho ao Calvário carregando a Cruz

“Depois de caçoarem dele, despiram-lhe a capa escarlate e tornaram a vesti-lo com as suas próprias vestes, e levaram-no para o crucificar” (Mt 27,31).

A Cruz, aqueles dois pesados madeiros, um vertical e outro horizontal, foi algum dia árvore, que depois foi cortada pelos homens, pensada como um instrumento cruel de tortura. Jesus, com seu imenso amor pelo Pai, pela sua Mãe, e por cada um de nós, fez da Cruz o instrumento da nossa Reconciliação. Todos nós temos também uma missão, e para Ela o Senhor nos oferece muitos instrumentos, bens procedentes da natureza criada ou da cultura. Saber usá-los bem manifesta a nossa reconciliação com tudo o criado, que Jesus nos ensina ao abraçar com docilidade o madeiro da Cruz.

 

Quinto mistério: A crucificação e a morte do Senhor

“E após crucifica-lo, repartiram entre si as suas vestes, lançando a sorte” (Mt 27,35).

O Senhor Jesus gastou a sua vida na terra pela salvação de todos os homens. No alto da Cruz, Ele continua cumprindo com essa missão, até o último alento, até a última gota de sangue derramada. Em meio ao intenso sofrimento, Ele não se fecha em si mesmo, mas sempre tem um olhar de compaixão aos que estão em sua volta, como o Bom Ladrão, a quem salva na última hora. Hoje Ele precisa que nós continuemos a sua missão, como membros do seu Corpo, que é a Igreja. É o pedido que o Papa Francisco faz a cada um de nós na sua mensagem da Quaresma, que vençamos a globalização da indiferença, saindo ao encontro dos que precisam de nós, a começar pelos mais próximos, meus familiares, irmãos de agrupamento, apostolados.

Martin Ugarteche Fernández
Membro do Sodalício de Vida Cristã desde 1996. Nascido no Peru em 1978, mora no Brasil desde 2001. Por muitos anos foi professor de Filosofia na Universidade Católica de Petrópolis. Atualmente faz parte da equipe de formação do Sodalício, é diretor do Centro de Estudos Culturais e desenvolve projetos de formação na Fé e evangelização da cultura para o Movimento de Vida Cristã.

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