Nesta semana em que celebramos o descobrimento do Brasil e a primeira Missa realizada na terra da Santa Cruz queria propor umas breves reflexões sobre alguns sinais que poderiam falar de uma presença católica no Brasil desde os inícios.
O objetivo destas breves linhas não é fazer uma análise histórica exaustiva para julgar quais foram todos os interesses de Portugal no momento do descobrimento (muito se especula neste sentido), mas meditarmos juntos sobre alguns acontecimentos que nos falam de elementos católicos presentes desde os inícios, que marcam a nossa identidade cultural.
Sobre os objetivos de Portugal, gostaria de focar em um dos deles, que é o que nos interessa neste momento: a evangelização. Veremos esse objetivo bem claro em um documento histórico sobre o descobrimento muito importante: a famosa Carta ao Rei, escrita pelo escrivão da esquadra de Cabral, Pero Vaz de Caminha.
Comecemos nossa viagem a fim de descobrirmos juntos alguns desses sinais.
O primeiro deles é o momento em que avistaram a terra. Após quase um mês e meio de viagem, a esquadra de Cabral, no dia 22 de abril de 1500, após as celebrações pascais, chega a seu destino:
“Neste dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra! Primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo; e doutras serras mais baixas ao sul dele; e de terra chã, com grandes arvoredos: ao monte alto o capitão pôs nome – o Monte Pascoal e à terra – a Terra da Vera Cruz.”
Outro símbolo que aparece é o momento em que está havendo um dos primeiros encontros entre os portugueses e os nativos. Após os portugueses terem oferecido a eles diversos itens para troca sem nenhum sucesso, um item chama a atenção:
“Viu um deles umas contas de rosário, brancas; acenou que lhas dessem, folgou muito com elas, e lançou-as ao pescoço. Depois tirou-as e enrolou-as no braço e acenava para a terra e de novo para as contas e para o colar do Capitão, como dizendo que dariam ouro por aquilo.”
O que teria visto aquele índio naquelas “contas de rosário brancas”? Não podemos ter certeza, assim como se a interpretação que Caminha fez deste acontecimento era exata (se realmente trocariam o rosário por ouro). O que sim podemos refletir a partir deste gesto singelo é se não seria este um símbolo da presença de Maria desde os inícios? Lembremos como atua Maria: de forma sutil, no silêncio, olhando sempre para os pequenos e humildes. Nossa Senhora conta com esses personagens humildes para fazer com que o seu Filho seja conhecido por todos. Pensemos, por exemplo, nas aparições em Fátima (três pastores), Guadalupe (um índio) e Aparecida (três pescadores).
Após esse momento de encontro, aconteceram outros encontros e tem um em especial que gostaria de comentar e que acredito que seja outro símbolo eloquente desta presença católica em terras brasileiras. No domingo, dia 26 de abril de 1500, é celebrada a primeira Santa Missa:
“Ao domingo de Pascoela pela manhã, determinou o Capitão de ir ouvir missa e pregação naquele ilhéu […] E ali com todos nós outros fez dizer missa, a qual foi dita pelo padre frei Henrique, em voz entoada, e oficiada com aquela mesma voz pelos outros padres e sacerdotes, que todos eram ali. A qual missa, segundo meu parecer, foi ouvida por todos com muito prazer e devoção. [… ] Acabada a missa, desvestiu-se o padre e subiu a uma cadeira alta; e nós todos lançados por essa areia. E pregou uma solene e proveitosa pregação da história do Evangelho, ao fim da qual tratou da nossa vinda e do achamento desta terra, conformando-se com o sinal da Cruz, sob cuja obediência viemos, o que foi muito a propósito e fez muita devoção.”
Com essa primeira Missa fica consagrado o Brasil a Cristo. A Eucaristia e a Cruz seriam a partir deste momento canais de encontro entre os portugueses e os nativos:
Conta-se que vários nativos estiveram assistindo a Santa Missa da outra margem do rio e que alguns dias depois alguns deles já demonstraram devoção à Santa Cruz:
“Quando saímos do batel, disse o Capitão que seria bom irmos direitos à Cruz, que estava encostada a uma árvore, junto com o rio, para se erguer amanhã, que é sexta-feira, e que nos puséssemos todos de joelhos e a beijássemos para eles verem o acatamento que lhe tínhamos. E assim fizemos. A esses dez ou doze que aí estavam, acenaram-lhe que fizessem assim, e foram logo todos beijá-la.”
Por mais que hoje, inspirados pela história positivista que se ensina em várias escolas brasileiras, se busque negar as raízes católicas do Brasil, ao analisar brevemente alguns trechos da Carta de Caminha com objetividade não se pode ignorar estes fatos. Para nós, católicos, é muito importante ter presente esses símbolos e sermos muito agradecidos a Deus e a Nossa Senhora por nossa identidade cultural e assim sermos cada dia mais coerentes com a nossa fé.
Outro sinal nos é enviado cerca de 217 anos depois do descobrimento: Nossa Senhora Aparecida. Que Ela também seja inspiração para nós e abençoe a nossa pátria amada, abençoe nossas famílias e interceda para que o Brasil seja um país cada dia mais católico.
Termino essas breves linhas com um trecho da Carta de Caminha que deve nos inspirar nos dias de hoje a fazer o que nos pede a Santa Igreja: a Nova Evangelização.
“Porém o melhor fruto, que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar.”