Santa Maria nos mostra com a sua vida o caminho para autêntica felicidade que todos queremos, tanto nesta vida como no céu. Meditamos hoje, em companhia da Mãe, sobre este aspecto central da vida de toda pessoa humana, e também de todo cristão.
Primeira meditação: A anunciação e a Encarnação
“Aí alguém se aproximou dele e disse: “Mestre, que farei de bom para ter a vida eterna? Respondeu: “Por que me perguntas o que é bom? Bom é um só. Mas se queres entrar para a Vida, guarda os mandamentos”. Ele perguntou-lhe: “Quais?” Jesus respondeu: “Estes: Não matarás, não adulterarás, não roubarás, não levantarás falso testemunho; honra pai e mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Disse-lhe então o moço: “Tudo isso tenho guardado. Que me falta ainda?” Jesus respondeu: “Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens e dá aos pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois, vem e segue-me” O moço, ouvindo essa palavra, saiu pesaroso, pois era possuidor de muitos bens” (Mt 19,16-22)
O jovem rico da passagem lida é a antítese de Maria. Assim como ele, Maria também quer alcançar a felicidade, não apenas a terrena, mas, sobretudo a eterna. Assim como o jovem, que cumpre com os preceitos da lei e mesmo assim sente que precisa dar mais, Maria é também fiel cumpridora da lei, e está sempre a procura do Plano de Deus para Ela, buscando respostas na oração. A atitude interior, porém, é o que os distancia infinitamente. “Como será isso, já que não conheço homem algum?” Esta pergunta de Maria revela um coração que já deu passos no discernimento e cumprimento do Plano de Deus. Ela pede um esclarecimento porque não consegue entender como a sua consagração virginal harmonizava com a missão de ser Mãe do Messias. Mas nunca duvida em cumprir o que lhe é pedido, por mais que vislumbra já as exigências e renúncias que o seu Sim implicará. O jovem rico, diferentemente, está muito apegado as suas riquezas, o que lhe impede de pronunciar seu Sim. Finalmente, o Sim de Maria é profundamente alegre, enquanto o não do jovem é triste. Aplica-se aqui a famosa lei do ganha-perde: quem quiser ganhar a sua vida a perderá, quem a perde por mim a encontrará.
Segunda meditação: A visitação
“Ora, quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre e Isabel ficou repleta do Espírito Santo. Com um grande grito, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre! Donde me vem que a mãe do meu Senhor me visite? Pois quando a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria em meu ventre. Feliz aquela que creu, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!” (Lc 1,41-45).
Maria parte para a cidade montanhosa de Ain-carin, para visitar a sua prima Isabel e assisti-la na sua gravidez. Trata-se de um gesto de serviço, de entrega generosa. Maria não se fecha em si mesma, sempre está atenta aos demais. Ela deixa o conforto e a segurança da casa paterna, dos seus familiares mais próximos, das rotinas do dia-dia. E nessa abertura serviçal, nessa aventura que não recusa viver, Deus a vai confirmando no seu caminho de realização segundo o seu Plano: Ela é a Mãe do Senhor, como diz Isabel, inspirada pelo Espírito Santo. E Ela é e será chamada por sempre a “Bem-aventurada”, a feliz, como Maria mesma canta no seu Cântico.
Terceira meditação: O nascimento em Belém
“Enquanto lá estavam, completaram-se os dias para o parto, e ela deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o com faixas e reclinou-o numa manjedoura, porque não havia um lugar para eles na sala” (Lc 2,6-7).
Muitas vezes em nossas vidas experimentamos que justamente quando somos capazes de um gesto de renúncia, de desprendimento das nossas seguranças, é quando Deus derrama as suas bênçãos, nos concede as luzes que precisamos para continuar caminhando. O jovem casal de Nazaré nos dá exemplo de humildade: fazem o melhor que podem nas condições precárias em que se encontram, para receber o Rei dos Reis. Mas aos poucos, as bênçãos de Deus vão se manifestando: vão chegando os pastores, depois o canto dos anjos, os sábios de oriente. Nada disso passa despercebido para o coração silencioso e sensível de Maria. Tudo vai confirmando Maria, a “bem-aventurada”, a feliz, no caminho percorrido, convertendo-se em um rico depósito que sustentará a sua fidelidade até o fim.
Quarta meditação: A apresentação no templo
“Quando se completaram os dias para a purificação deles, segundo a Lei de Moisés, levaram-no a Jerusalém a fim de apresenta-lo ao Senhor, conforme está escrito na Lei do Senhor: Todo macho que abre o útero será consagrado ao Senhor, e para oferecer em sacrifício, como vem dito na Lei do Senhor, um par de rolas ou dois pombinhos” (Lc 2,22-24).
Nem Maria, e muito menos Jesus precisavam ser purificados. Porém, Maria vai ao Templo com José para cumprir com esse preceito ritual. É uma lição para nós, que muitas vezes vivemos a religião dos mínimos e não levamos a sério os compromissos que assumimos com o Senhor. Maria nos ensina a viver a religião do Fiat, do máximo das nossas capacidades e possibilidades, em cada situação concreta. Novamente, a presença de Simeão e Ana no Templo são sinais de Deus que vão confirmando Maria no caminho da autêntica felicidade, que não é o da mediocridade e da tibieza, dos mínimos, senão da generosidade, da alegre entrega e doação.
Quinta meditação: Jesus com os doutores
“Ele respondeu: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo estrar na casa de meu Pai?”” (Lc 2,49)
A resposta desconcertante de Jesus não entristece nem desanima Maria. Ela simplesmente medita no coração. Maria é uma mulher equilibrada e estável, senhora de si mesma. É um senhorio conquistado no silêncio e na meditação da Palavra de Deus. Aprendamos dela a sermos mais consistentes, mais sólidos, mais donos de nós mesmos. Este é, sem dúvidas, um dos ingredientes da felicidade, que resplendece na vida de Maria, a feliz, a “bem-aventurada”.