Santa Maria e a Fé integral

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Hoje meditaremos na Fé integral, que é Fé na mente, no coração e na ação, tal como a viveram o Senhor Jesus e Santa Maria, ao ritmo dos mistérios dolorosos do Santo Rosário. Dedicaremos um mistério a cada uma delas separadamente, com a consciência de que na realidade elas estão profundamente interligadas e se influenciam mutuamente.

 

A agonia no horto das oliveiras: um tempo difícil para ter Fé

“E, cheio de angústia, orava com mais insistência ainda, e o suor se lhe tornou semelhante a espessas gotas de sangue que caíam por terra” (Lc 22,44).

Esta passagem é conhecida também como a hora do combate decisivo. A dor que o Senhor Jesus experimenta se manifesta quando transpira gotas de sangue. É a dor por saber que muitos no acolheriam a Reconciliação, os frutos do seu sacrifício de amor. Hoje também vivemos numa cultura na qual é muito difícil viver a fé, na qual muitos chegam a se sentir ofendidos porque alguns ainda acreditamos em Deus. É nesse contexto difícil, de luta, no qual a nossa fé, recebida no Batismo qual pequena semente, é chamada a amadurecer integralmente, alentada pela graça divina.

 

A flagelação: Fé na mente

“Pilatos lhe disse: “Então, tu és rei?” Respondeu Jesus: “Tu o dizes: eu sou rei. Para isso nasci e para isto vim ao mundo: para dar testemunho da verdade. Quem é da verdade escuta a minha voz”” (Jo 18,37).

A mensagem cristã possui um conteúdo, que deve ser conhecido como condição para ter fé. Diante dos ataques do relativismo, que não aceita qualquer afirmação forte, muitos cristãos abrem mão da doutrina da fé, relativizando os conteúdos da mensagem cristã. Leão XIII dizia que “a ignorância religiosa é o maior inimigo da fé” (Officio sanctissimo, 7). Mas se o conteúdo da mensagem cristã fosse indiferente, não teria sentido a Paixão de Cristo. Ele paga o preço, com cada uma das chicotadas, por dar testemunho da verdade: “Eu sou o Messias”, “Eu sou Rei”, “Eu sou o Pão vivo descido dos Céus”, “Eu sou a Ressurreição e a Vida”. A nossa linguagem tem que ser como a de Cristo: sim, sim, não, não, dando sempre testemunho da verdade.

 

A coroação com a coroa de espinhos: a Fé no coração

“Os soldados, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-na em sua cabeça e jogaram sobre ele um manto de púrpura” (Jo 19,2).

A imagem do Sagrado Coração de Jesus nos apresenta a coroa de espinhos, ferindo o coração do Senhor. O imaculado coração de Maria, coroado com uma coroa de rosas brancas, também nos lembra do mistério da coroa de espinhos. Ter Fé no coração é ter um coração como o deles, manso e humilde, cheio de amor. Implica também educar a vontade e a afetividade pelo caminho das virtudes. No caminho da paixão, Maria não perde a esperança, sabe que a vida do cristão é feita de alegrias e dores. O cristão não é um insensível, um indiferente: ele tem um coração de carne, como o de Jesus e o de Maria. Ter Fé no coração é viver a adesão a Jesus, amando como Ele ao Pai, a Maria nossa mãe, e aos irmãos humanos.

 

O caminho ao calvário carregando a Cruz: a Fé na ação.

“Aquele que não toma a sua cruz e me segue não é digno de mim” (Mt 10,37).

Sabemos que Maria é a primeira discípula do seu Filho. De fato, Ela o seguiu até o Calvário e permaneceu de pé ao lado da Cruz, até a morte de Jesus. Ter Fé na ação é ter mãos como as de Cristo, que passaram sempre fazendo o bem. Mãos que abraçaram o lenho da Cruz e o carregaram até o Calvário, sabendo que em tal lenho seriam finalmente cravadas. Os primeiros cristãos compreenderam bem esta mensagem, anunciando o Evangelho, como dizia São Paulo, oportuna e importunamente, sendo solidários com os mais necessitados, buscando ser coerentes. Sabiam eles, como afirma a Carta de Tiago, que a Fé sem obras está morta. Lembremos o que Jesus dizia aos seus discípulos: “Nem todo o que dizer Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus”.

 

Crucificação e morte do Senhor: leiamos o livro da Cruz.

“Chegando a Jesus e vendo-o já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados traspassou-lhe o lado com a lança e imediatamente saiu sangue e água. Aquele que viu dá testemunho e seu testemunho é verdadeiro; e ele sabe que diz a verdade, para que também vós creiais, pois isso aconteceu para que se cumprisse a Escritura: Nenhum osso lhe será quebrado. E uma outra Escritura diz ainda: Olharão para aquele que traspassaram” (Jo 19,33-37).

São Tomás de Aquino, sábio cristão conhecido como o doutor angélico, dizia que tudo o que precisamos saber para a nossa salvação se encontra escrito no livro da Cruz. Quantas vezes ao dia, à semana, você se detém um momento para contemplar a entrega generosa do Senhor na Cruz? Ter uma Fé integral é ser como o Crucificado, é pensar, sentir e agir como Ele. As suas palavras e gestos nos mostram o que significa ser verdadeiramente homem. O nosso caminho de formação cristã, de crescimento nas três fés, deve levar-nos à conformação com Ele, a sermos outros cristos no mundo.

Martin Ugarteche Fernández
Membro do Sodalício de Vida Cristã desde 1996. Nascido no Peru em 1978, mora no Brasil desde 2001. Por muitos anos foi professor de Filosofia na Universidade Católica de Petrópolis. Atualmente faz parte da equipe de formação do Sodalício, é diretor do Centro de Estudos Culturais e desenvolve projetos de formação na Fé e evangelização da cultura para o Movimento de Vida Cristã.

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