Hoje meditamos em companhia de Maria numa virtude tipicamente cristã, a mansidão. Disse Jesus no Sermão da Montanha: “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra” (Mt 5,4). Como bem sabemos as Bem-aventuranças não são apenas um retrato do próprio Cristo, mas também dos seus verdadeiros discípulos e Maria a primeira entre todos eles. Por isso, quem melhor que Ela para ajudar-nos hoje a conhecer e viver melhor esta virtude?
Primeiro mistério: a agonia
“E, cheio de angústia, orava com mais insistência ainda, e o suor se lhe tornou semelhante a espessas gotas de sangue que caíam por terra” (Lc 22,44)
A agonia nos mostra que Jesus não era indiferente a todo o sofrimento que haveria de passar. Mansidão não é indiferença, mera passividade diante do mal. O manso sofre por causa do mal, porque sabe que se trata de uma falta contra a caridade, e sabe que o mal é difusivo, ferindo não só a vítima do mesmo, mas também o próprio malfeitor, quem morre espiritualmente. Jesus sofre até suar sangue porque sabe que muitos, a pesar da sua entrega amorosa, fecharão os corações e não acolherão a salvação.
Segundo mistério: a flagelação
“O seu traidor dera-lhes um sinal, dizendo: “É aquele que eu beijar; prendei-o”. E logo, aproximando-se de Jesus, disse: “Salve Rabi!” e o beijou. Jesus respondeu-lhe: “Amigo, para que estás aqui?” Então, avançando, deitaram a mão em Jesus e o prenderam” (Mt 26,48-50).
Jesus chama de amigo o seu traidor. Sabemos que Pedro, João e Tiago ensaiaram uma reação, chegando inclusive a ferir um dos membros da coorte que acompanhava Judas. Jesus, porém, repreende os discípulos. Não é assim que o Reino de Deus será instaurado, pela espada e pela violência. Jesus sabe que seu Reino não é deste mundo. A mansidão é a marca do autêntico cristão. No cumprimento da missão ele nunca lança mão de métodos violentos, da força bruta. Pelo contrário, ele é profundamente reverente com a liberdade das pessoas, mesmo quando elas fecham seus corações a Deus.
Terceiro mistério: a coroação com a coroa de espinhos
“Seu nome é santo e sua misericórdia perdura de geração em geração, para aqueles que o temem. Agiu com a força de seu braço. Dispersou os homens de coração orgulhoso. Depôs os poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou” (Lc 1,49b-52).
Os soldados que coroam Jesus veem nele um derrotado, mais um judeu dominado, membro da ralé que está longe dos centros políticos de poder e decisão. É ridículo que alguém possa ter visto nesse homem, prestes a ser crucificado, um Rei. Contrasta, porém, a sua atitude, com a do centurião, que presenciou a morte de Jesus e disse: “Verdadeiramente este homem era filho de Deus” (Mc 15,39), quiçá impactado pela serenidade, pela paz que em todo momento Jesus transmitia, pelas suas palavras, sempre de perdão e compaixão, até para seus algozes.
Quarto mistério: caminho até o Calvário carregando a Cruz
“Então eles tomaram Jesus. E ele saiu, carregando a sua cruz, e chegou ao chamado “Lugar da Caveira”- em hebraico chamado Gólgota – onde o crucificaram” (Jo 19,16-18).
Diante das provas da vida, muitas vezes nos revoltamos e soltamos nossa Cruz. Outras vezes a carregamos sem ocultar quanto nos incomoda, fazendo questão de que os demais percebam. Jesus, manso e humilde de coração, não tem esta atitude. Ele não somente é o justo, o Cordeiro sem mancha, mas é o próprio Deus. Os pecados que ele carregou são os nossos, nenhum dele. E ele o faz sem reclamar. Em nosso caso, basta que a exigência aumente um pouquinho para além dos nossos cálculos e já reclamamos. Peçamos ao Senhor corações pacientes, para suportar as provações da vida por amor, como Ele fez.
Quinto mistério: a mansidão é manifestação do amor
“Chegando a Jesus, e vendo-o já morto, não lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados traspassou-lhe o lado com a lança e imediatamente saiu sangue e água” (Jo 19,33-34).
Muitas vezes quando alguém nos ofende, quando enfrentamos oposições ou dificuldades no apostolado, tendemos a fechar-nos em nós mesmos. Basta que alguém nos agrida de alguma forma para que imediatamente levantemos as defensas, ou até mesmo revidemos com igual ou maior violência. Esta não é a atitude cristã, não é o que Cristo nos ensina. A imagem do Sagrado Coração nos lembra disso. Cristo não esquivou seu coração à lança que fez brotar sangue e água. Maria tampouco esquiva o coração da espada da dor. O segredo de essa atitude de bondosa perseverança é o amor até o extremo de Cristo na Cruz. Se o amor não é o que fundamenta tudo em nossa vida cristã, terminaremos vencidos pelo inimigo, até mesmo trabalhando para ele sem perceber. Peçamos ao Senhor corações mansos e humildes como o dele e como o da sua Mãe. Essa mansidão nos garante não só a vitória no Céu, mas já aqui na terra.