São Irineu nasceu em Esmirna (hoje na Turquia) entre os anos 135 e 140. Foi discípulo de São Policarpo, que por sua vez foi discípulo de São João Evangelista. No ano 177, o nome de Irineu figurava entre os presbíteros de Lião, na Gália, mas não se sabe exatamente o momento no qual se transferiu para essa região.
Enviado a Roma para levar uma carta ao Papa e aos cristãos dessa cidade, salvou a vida da perseguição de Marco Aurélio em Lião. Ao seu retorno, foi eleito Bispo, ministério que exerceu até a sua morte, nos primeiros anos do século III, provavelmente martirizado.
Contra a gnose
As principais obras de Irineu são os cinco livros contra as heresias e o primeiro Catecismo da Igreja. Um dos seus objetivos era combater a heresia gnóstica, que considerava o Credo apostólico como se fosse um ensinamento básico, simbólico, para as pessoas mais simples.
A essência da mensagem evangélica, no entanto, seria acessível apenas a uma elite intelectual, um grupo pequeno de iniciados, capazes de compreendê-la e incorporá-la em suas vidas. Uma das características da gnose é o dualismo, a crença de que existem dois princípios, um bom e outro mau, que se contrapõem um ao outro, tendo ambos a mesma dignidade e força. O princípio bom origina o espírito e o mau a matéria. No homem, por exemplo, segundo essa teoria, tudo o que é mau provém da matéria, e o que é bom vem do espírito.
Essas ideias dualistas são radicalmente opostas à fé cristã, herdada dos apóstolos, já que, de acordo com a Revelação Deus é o princípio de tudo, Ele cria tudo do nada. Não há, portanto, nenhum outro princípio que se lhe iguale. Além disso, a matéria é boa, inclusive “santa”, para usar uma expressão de Ireneu.
O cristão tem uma visão positiva do mundo material e da própria matéria que faz parte do ser do homem, e que recebe também os efeitos da ação salvadora de Cristo.
A regra da Fé
De acordo com Santo Irineu, não é o que é acessível a alguns poucos o mais importante, senão o que todos recebemos do ensinamento dos apóstolos, verdades muito simples que nos mostram o caminho da salvação.
O ensinamento dos apóstolos, que eles receberam do Senhor Jesus, é conservado pela Tradição, que é descrita por Santo Irineu como sendo pública (acessível a todos), única (é comum em meio a grande diversidade que compõe a Igreja) e pneumática (ela é fruto da ação do Espírito na Igreja, cujas colunas são os apóstolos).
“Pois a glória de Deus é o homem vivo…”
O Catecismo da Igreja Católica recolhe este pensamento de Santo Irineu paraexpressar o fim da criação e o homem como o ápice dela: “Pois a glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus” (Adv. Haer. IV, 20, 7) (…)
O fim último da criação é que Deus, “Criador do universo, tornar-se-á ‘tudo em todas as coisas (1Cor 15,28), procurando, ao mesmo tempo, a Sua glória e a nossa felicidade” (Catecismo da Igreja Católica, 294).