Sem o Magistério é impossível entender corretamente a Bíblia

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Hoje não escreverei diretamente daquilo que o Santo Padre ensinou na última audiência geral e em alguma das homílias ou encontros desta semana.

Hoje quero partilhar com os leitores algumas reflexões que vieram à minha cabeça depois de ler um artigo da colunista da revista VEJA, Isabela Boscov, chamado “A atualidade da Bíblia”. Faço esta opção porque é uma oportunidade enorme para falar da importância essencial dos ensinamentos do Papa e, sobre tudo, de todo o Magistério da Igreja Católica.

Como costuma acontecer, o artigo mistura verdades, “meias-verdades”, verdades distorcidas e falsidades com roupagens atrativas de verdade. Tudo isto acontece especialmente quando se fala sobre a fé, sobre a Igreja e sobre a religião. Como são vários argumentos e comentários, tal vez partilhe estas reflexões em mais de uma coluna.

Começo dizendo que a autora não conhece os ensinamentos da Igreja sobre a reta interpretação bíblica. Acredito que nem se tomou o trabalho de conhecê-los a fundo. Eu recomendaria para ela e para todos os leitores que realmente estivessem interessados em entender a Sagrada Escritura, que lessem atentamente a Constituição Dogmática do Concílio Vaticano II (1962 – 1965) chamada “Dei Verbum”, especialmente a partir do capítulo III. Ela se encontra, na íntegra, em internet e é fundamental para aproximar-se da Bíblia, para entender o que significa “inspiração”, “revelação”, para saber a relação entre o Antigo e o Novo Testamento, etc.

O artigo me faz valorizar e agradecer desde o mais profundo a existência do Magistério da Igreja. Ele, ao longo dos séculos, vem ensinando aos seus filhos, o que Deus quis revelar para toda a humanidade. Deus sabia que era necessário deixar para os seres humanos um alicerce, um critério válido e universal de interpretação, dotado com a sabedoria e a assistência divina necessária para cuidar, aprofundar, interpretar e ensinar retamente os ensinamentos bíblicos. Eu, isoladamente, não posso pretender entender qualquer trecho da Sagrada Escritura (fico arrepiado quando vejo alguém no ônibus lendo piamente os livros mais difíceis do Antigo Testamento pretendendo entender sozinho o que ali está escrito; ou também quando algum pastor interpreta alguns trechos segundo seu bem-querer… claro, dessa doença também padecem alguns padres e algumas homilias). Deus quis deixar o Magistério para dar uma reta interpretação. Sem ele, guiando-se apenas pela “livre interpretação”, netamente protestante, os desvios são inevitáveis e dramáticos. Eu tenho que perguntar sempre: “como interpretavam este texto os primeiros cristãos? O que ensinava sobre este trecho do Evangelho os Padres Apostólicos? O que diz o Magistério da Igreja sobre isto?.

Para entender a Bíblia e cada trecho ou passagem em particular, é necessário levar em conta vários critérios, entre eles o seguinte: “a Escritura ilumina a Escritura”. A Bíblia, depósito da Revelação, é uma unidade e nenhuma parte pode ser lida ser levar em conta as outras. Um trecho do Antigo Testamento pode muito bem ter sido plenificado e até modificado por outro do Novo Testamento. Um exemplo desta modificação é a mudança do dia destinado ao Senhor. Deixou de ser o sábado e passou a ser o domingo. Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, podia realizar essa mudança e de fato a fez. Só à luz da Ressurreição, acontecida no Domingo, eu posso entender os inúmeros trechos em que o Antigo Testamento prescreve o culto a Deus no dia de sábado. Os primeiros cristãos entenderam que tinha chegado um novo critério, e não aquele do Antigo Testamento. O Domingo levava à plenitude isso que no Antigo foi revelado como necessário: dedicar um dia ao Senhor.

Pe. Andrés E. Machado, do Sodalício de Vida Cristã

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