Transcendência humana e capacidade de autotranscendência

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Ao constatar que não somos simplesmente um conglomerado de matéria e conexões nervosas, mas temos espírito (ou “somos” espírito, também, assim como “somos” corpo), começamos a descobrir que tendemos para um “mais à frente” e tomamos consciência também da existência de uma vida ultraterrena. Existe a realidade além do que vemos. Ela se compõe de realidades sobrenaturais. O intelecto existe previamente aos sentidos e é capaz de captar o sobrenatural, assim como a consciência também pode ter noção de si mesma como sujeito e abrir-se ao contato com Deus e Seu Ser.

Ao nos perguntar pela experiência e existência de Deus temos que solucionar uma aparente contradição entre a transcendência e a imanência nEle (ou uma espécie de antropomorfismo). Deus é o Sujeito Transcendental de onde brota a corrente de existência e O que devemos procurar não fora, mas no mais profundo de nosso ser, ser que está vinculado ao Ser, com maiúscula e que nos torna participantes de sua existência e de sua realidade ilimitada. Realmente, da experiência de Deus, vivenciamos em nossa consciência a captação de horizontes ilimitados. É fácil equivocar-se ou confundir-se diante da existência de Deus. O ateísmo foi parte e será parte do pensamento e da pergunta pelo Ser Absoluto. Pode apresentar-se como neutro ou kantiano ou como feuerbachiano, e se pode pensar que Deus aniquila a liberdade, ou que gera letargias culturais, ou gera servos desumanos, mas isto será mais fruto de falsos dualismos ou errôneas aproximações, e não do verdadeiro e autêntico encontro com o Criador.

Devemos afirmar com convicção a capacidade de autotranscendência que habita no ser humano. Temos uma experiência de profunda sede e de desejo de infinito. O homem se configura como “um ser sendo”, um “ser para”. A autotranscendência é elemento essencial do ser humano e se dá tanto em uma transcendência para ser melhor pessoa, como também na filantropia e finalmente na referência direta a Deus. Também transcendemos em um desdobramento cultural, dentro da arte, dos valores, da técnica, entre outros.

Estou totalmente de acordo com os postulados essenciais, mas em desacordo com um certo panteísmo percebido em alguns lugares do texto, especialmente na expressão de que existe um só espírito que se encarna em diferentes corpos, postulando que não existe um pluralismo de almas. Por outro lado, considero essencial que se afirme que o ser humano é transcendente e que entende sua vida e seus valores a partir desta experiência fundamental.

Pe. Andrés E. Machado

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