Não são poucas as ocasiões em que ficamos presos no passado, revivendo várias vezes erros ou experiências dolorosas, onde temos a ilusão de que podemos mudá-los. Por outro lado, ficamos muito ansiosos e temerosos com o nosso futuro, traçando um monte de planos, possibilidades, querendo dominar as inúmeras variáveis, a fim de ter uma falsa segurança.
Esquecemos de uma verdade fundamental: o único que nos pertence é o momento atual. É o agora que Deus nos dá para sermos felizes.
No presente, em virtude do grande amor que Deus tem por mim, sempre posso começar de novo, sem que o passado me impeça ou o futuro me atormente. O meu passado está nas mãos da misericórdia divina, que pode tirar proveito de tudo, tanto o bom quanto o mau e o meu futuro está nas mãos da sua providência, que certamente não se esquecerá de mim.
O presente é o presente que Deus me dá para ser uma pessoa realizada, para aproveitar cada instante para amar, para fazer a diferença: sem preocupar-me com o passado ou o futuro, hoje decido crer, hoje decido pôr a minha total confiança em Deus, hoje escolho amar a Deus e ao próximo.
E sem importar-me se tive muitos êxitos ou fracassos, no dia seguinte, que será o hojeque Deus me concederá, com a sua graça volto a começar rumo à meta principal: minha santidade. São Paulo descreve muito bem essa atitude, que é muito própria do cristão:
“Esquecendo-me do que fica para trás e avançando para o que está adiante, prossigo para o alvo, para o prêmio da vocação do alto, que vem de Deus em Cristo Jesus […]qualquer que seja o ponto a que chegamos, conservemos o rumo” (Fl 3, 13-16)
Também o Papa Francisco, em sua carta apostólica dirigida aos consagrados durante a abertura do Ano da Vida Consagrada, disse uma frase que expressa muito bem o que estamos meditando: “Olhar com gratidão o passado, viver com paixão o presente, abraçar com esperança o futuro”.
Quando nos sintamos tentados a nos abater com o nosso passado façamos um grande ato de fé, de esperança e de amor a Deus dizendo: obrigado Senhor por meu passado, creio que de tudo que vivi Tu tirarás um bem maior. Entrego tudo à sua misericórdia, que não tem limites e que pode curar tudo.
Com respeito ao futuro, Jesus nos convida a abandonar-nos totalmente à providência divina. (cf. Mt 6, 25-34). Trata-se de não fazer nenhum plano para o futuro, sendo irresponsáveis e imprevisíveis? De maneira nenhuma! Trata-se de fazer tudo sem inquietude, sem medo, sem essa exagerada preocupação e ansiedade que nos paralisa e nos impede desfrutar o presente.
Quantas vezes sofremos com as inúmeras possibilidades e incertezas sobre o futuro e não enxergamos as maravilhas do presente que Deus nos dá! A melhor forma de preparar o futuro não consiste em pensar nele sem descanso, senão em estar bem ancorado no instante presente.
Às vezes posso correr o risco de ficar à espera de um futuro que sim “levarei a sério” e deixar passar algo que deveria viver agora, uma graça que poderia receber hoje. O tempo de Deus é agora. Cada instante é uma ocasião de ser melhor, de ser abençoado pela graça de Deus.
Na hora de viver o presente não fiquemos ansiosos em realizar um monte de coisas: Deus não espera de nós mais do que uma coisa por vez. Fazer bem uma coisa por vez, seja uma tarefa simples (lavar a louça) ou importante (dar uma palestra para milhares de pessoas).
Isso se aplica também à minha atenção ao outro. Por estar tão metido em minhas coisas, deixo de ver o outro que está ao meu lado e precisa de mim. O presente é a oportunidade que tenho de viver a caridade, de ser próximo ao que sofre. Em cada encontro com uma pessoa, transmitamos a sensação de estar disponíveis neste momento cem por cento. Que ninguém que se aproxime volte com as mãos vazias!
Vivamos cada instante como Maria, fazendo o ordinário de forma extraordinária. Que Ela nos ajude a viver o presente plenamente, meditando e guardando cada coisa no coração (cf. Lc 2,19. 51), para que assim o nosso futuro seja cada vez pleno, entregue com muita esperança à Providência amorosa de Deus.