A estimulação precoce desde o ventre materno

3171

Este ensaio é fruto de uma grande surpresa. Melhor: de uma grata surpresa. Minha mente e coração se abriram à importância impressionante e pouco conhecida do tempo de gestação de um bebê e do imenso poder que a mãe tem como CO-geradora de uma nova vida. E claro, não só da mãe, embora especialmente dela. Também do pai, que deveria sentir-se também “grávido”, e do meio ambiente onde transcorrem os meses de crescimento intra-uterino.

Pensar e escrever sobre a estimulação precoce desde o ventre materno não é fácil, não só porque existe muitíssimo material como também porque são pesquisas recentes e, no meu caso, porque é um tema tão surpreendente e novo que eu poderia ficar horas e horas lendo e escutando entrevistas a respeito.

Acredito que a proposta principal dentro das teorias sobre a vida no ventre materno se resume em afirmar que desde a concepção o ser humano em formação é influenciado diretamente por todo o ambiente que envolve a mãe e pelas pessoas que a cercam. Os pais devem esforçar-se por influenciar positivamente seu filho, desde antes de ficarem “grávidos”, pois ele beberá desta vivência e quase que condicionará todo seu ser.

Pois bem, o mundo de hoje não nos prepara para nascer e a educação pré-natal ainda é muito precária. Mas surge uma nova consciência que pode trazer muitos frutos. De fato, a epigenética, que está por detrás desses estudos, talvez seja mais importante que a própria genética, pela percepção que se começa a ter do influxo do ambiente no bebê gerado.

Como diz a psicóloga Wendy Anne McCarty (2014)

As descobertas da psicologia pré-natal e perinatal sugerem que somos seres conscientes e sensíveis desde o início da vida e que existimos como seres sensíveis desde antes de nossa vida física e que assim foi desde o começo da existência humana (Tirado do Blog A Vida Intra-uterina, desde maio de 2011)

Se somos seres conscientes e sensíveis desde o início da vida, devemos inculcar nas mães e nas pessoas que rodeiam a gravidez, que transmitam valores, emoções e experiências boas, pacíficas, eloquentes, ricas, harmoniosas e outras mais nessa linha, que edifiquem e contribuam para formar um novo ser humano verdadeiro e fiel a sua natureza. Tudo isto dependerá da vida plena e cheia de sentido que a mãe já venha vivendo. Não poderia existir nada forçado, posto que o bebê também perceberá que o que recebe não é autêntico. Por isso mesmo, a reflexão também levanta questões sobre a afetividade e a sexualidade, sobre a vida em família, sobre o tipo de matrimônio que se vive, sobre a abertura ou resistência para a gravidez e outras realidades que estão no coração da mãe, que as transmitirá ao filho concebido.

Talvez a proposta mais chamativa e consistente que encontrei até agora sobre estas realidades tão importantes seja a da psicóloga brasileira-americana Laura Uplinger. Ela se dedica a percorrer o mundo e especialmente o país que tanto quer, o Brasil, motivando as mães a despertarem para o imenso poder (entendendo poder como serviço e possibilidade) de trazer para o mundo homens e mulheres que façam a diferença, e que tal poder se começa a viver e desenvolver desde o momento em que se os pais  se dão conta da gestação.

Em uma entrevista concedida à jornalista Antonella Zugliani (2015) do jornal , “O Globo” (Recuperado de http://oglobo.globo.com/sociedade/conte-algo-que-nao-sei), Laura permite compreender que para que exista um mundo novo e melhor deve-se melhorar a gestação humana. Ela diz que “se a mãe está feliz, o bebê cresce melhor” e que os 27 primeiros meses de vida são aqueles em que se deve cuidar com maior esmero da criança, talvez mais que os restantes: os 9 meses antes de ficar grávida, os 9 meses de gestação e os 9 meses depois de nascer.

Considero como certo, então, que a mãe tem um grande poder, entendido como serviço. O que come, o que lê, o que escuta, os diálogos que desenvolve, o ambiente de alegria, de tristeza, sua compreensão da vida, sua vida de oração, tudo repercutirá no crescimento físico, emotivo e mental do filho que leva dentro de si.

No ventre da mãe, o bebê é um puro “escutar”. Existe entre os dois uma conexão e uma comunicação inigualável. É diferente do que usualmente se pensava e que agora já é um mito ultrapassado: que a placenta funcionava como uma espécie de amparo que isolaria o bebê do mundo exterior. Hoje se conhece que não é assim. A placenta é um órgão de recepção. O sangue da mãe não só transmite nutrientes à criança, mas também produtos químicos carregados de sentimentos e emoções. Transmite-lhe a mente, o coração e a ação da mãe. Daquilo que a mãe “se nutrir” em toda sua existência, nutrirá também seu filho. Se a mãe acolher com amor e entusiasmo esta nova vida, isso se refletirá nele. Se a mãe for batalhadora, também transmitirá essa forma de enfrentar as dificuldades a seu filho e, com muita probabilidade, também lhe ensinará a encarar os desafios, permitindo que até os momentos mais exigentes e dolorosos tragam muitos frutos para sua existência.

Como diz também Claude Imbert:

Acredito que antes de nascer e depois, o bebê é um ser supraconsciente cujo funcionamento é a base de todo o resto de sua vida. Se se sente compreendido em suas necessidades de amor e de união, permanecerá neste estado de consciência, mesmo que depois mude o contexto. Se, pelo contrário, depara-se com a desconfiança e a incompreensão, o bebê ‘sobreviverá’, mas congelará uma grande parte de suas potencialidades.

As potencialidades, então, dependerão do que é transmitido pela mãe. É claro que a genética é muito importante, mas não estaríamos diante de um determinismo genético. E mais, esse é outro mito que os estudos recentes derrubam. Parecia que a verdade era que estamos determinados pela genética e que “aconteça o que acontecer durante a gestação, isso não vai fazer mal ao bebê, e tampouco significa que o fará crescer mais ou fará com que o seu cérebro se desenvolva melhor”. Pois parece que isto não é verdade, porque até as moléculas que revestem as células primárias “decidem” que aspectos “calar” e que aspectos “abrir” segundo o estímulo positivo e/ou negativo da mãe.

Conclusão: estamos diante de um tema apaixonante e que se abre um horizonte de compreensão da gestação e do papel da mãe e do que a cerca, maravilhoso. Deus confia especialmente a uma mulher a missão de ajudá-lo a trazer para o mundo outro filho que possa fazer a diferença. As mães, acompanhadas por seus maridos e por todos os que possamos ajudar, devem ter consciência da influência que o bebê recebe durante a gestação. Talvez o futuro da humanidade passe também por estes meses de gravidez, que em espanhol são conhecidos como meses de “boa esperança”.

 

Pe. Andrés E. Machado

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here