A matemática de Deus

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De fato, os caminhos de Deus não são os caminhos dos homens (cf. Is 55,8); e mesmo no domínio mais incontestável da razão e lógica humanas – atributos, aliás, recebidos da graça divina, e pelos quais podemos chegar a conhê-Lo e amá-Lo – Ele nos demonstra a Sua perfeição e originalidade, muito acima dos limites aos quais, infelizmente, com freqüência buscamos nos apegar. Deus nos oferece sempre mais; e tantas são as vezes em que nos esforçamos para não aceitar, e ciosamente nos agarrarmos, ao curto horizonte dos nossos próprios cálculos. Assim também na matemática, a ciência propriamente exata – precisa, correta, incontestável – aquela em cima da qual se define, de algum modo, este mundo material: pois, sem dúvida, estava correto Pitágoras ao afirmar que “Tudo são números”.

Porém um amigo padre (Pe. Alan Rodrigues) chamou a atenção para a situação de que duas pessoas reunidas não somam duas, mas três: é que Deus também está ali presente. O fundamento disto é, sem dúvida, a afirmação do próprio Cristo, “…onde estão dois ou três reunidos em Meu Nome, Eu estou lá entre eles” (Mt 18,20). Desenvolvendo a idéia, verifica-se que em qualquer circunstância a presença de Deus é obrigatória: pois a simples existência de cada ser humano pressupõe a vontade explícita do Criador para que ele ali esteja, e neste sentido Deus também está sempre presente. Porém, é possível elaborar ainda mais esta soma (lembrando, com trocadilho proposital, que soma em grego significa “corpo”). Deus é Uno e Trino; e inseparável, pois onde está o Pai, estão igualmente o Filho, com o Seu corpo glorioso, e o Espírito Santo. Logo, duas pessoas reunidas somam, a esta altura, cinco, acrescentadas que são as três divinas Pessoas. Porém…

…Não se separa do Cristo a Virgem Santíssima; onde um está, inevitavelmente está também o outro, sendo Maria o caminho obrigatório para chegar a Jesus (cf. Catecismo da Igreja Católica; S. Luís M. G. Montfort, “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”). Onde está Cristo, está Maria: onde dois se reúnem, somam-se, agora, seis.

Porém…

…Houve época na França em que era costume, ao cumprimentar-se alguém, começar a saudação pelo cumprimento ao seu anjo da guarda. A presença constante destes anjos, em sua missão de acompanhar pessoal e individualmente a cada ser humano, é matéria de fé obrigatória pela Igreja, e mesmo quando a alma está em pecado (cf. Catecismo da Igreja Católica). Onde dois se reúnem, somam-se, então – oito.

Porém…

Cristo Jesus é Cabeça da Igreja, que é o Seu Corpo Místico: a união de Deus e Seus filhos, a Comunhão dos Santos, também é matéria de fé (cf. Catecismo da Igreja Católica) –; e, não é possível separar da Cabeça, o Corpo. Estando Jesus, Cabeça, presente à reunião de dois, está também presente, necessariamente, o Corpo; e a soma, agora…

Agora, finalmente, a adição de Deus e Seus filhos é… um. Porque é do desejo do Pai “Que todos sejam um!” em Cristo, “para que sejam um, como Nós somos um: Eu neles e Tu em Mim, para que sejam perfeitamente unidos… (cf. Jo 17,20-24). Eis a matemática segundo a lógica da Sabedoria Eterna: multiplicar na nossa nulidade e alcançar a cifra do valor de um Deus.

Sim, a matemática de Deus é diferente da do Homem. Teremos, é certo, contas a Lhe prestar, uma vez exponenciado que será o nosso corpo desta vida. É preciso que diante Dele não estejamos fracionados, mas inteiros. Mas na equação que Deus nos tem preparada, Ele multiplica as Suas misericórdias, se nos subtraímos ao Seu amor; nos iguala ao “número dos eleitos” (cf. Ap 13,8), se nossa radiciação está sob a potência da caridade; e, se o diabo (do grego diá, separação) nos divide, Ele nos reúne novamente, unindo a verticalidade que sobe, da terra de que somos feitos, ao Céu, com a horizontalidade do abraço que abarca o mundo inteiro – no sinal, positivo, da Cruz.

Agradeçamos, portanto, a este Deus para Quem os últimos serão os primeiros, para Quem quanto mais se dá mais se tem, e dos mais baixos e humildes faz os maiores e mais exaltados! E acertemos pela Dele a nossa aritmética, neste tempo quaresmal que se aproxima, de forma a participarmos do produto final do Seu infinito – incalculável – Amor.

José Duarte de Barros Filho   7-8/2/2014

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