Caminho para Deus 106 – "Vos anuncio uma grande alegria"

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«Inundada de alegria é a cena de Belém, na qual o nascimento do Deus-Menino, o Salvador do mundo, é cantado pelos anjos e anunciado aos pastores precisamente como “uma grande alegria”[1]»[2].

No dia de Natal a Igreja anuncia com júbilo transbordante esta boa notícia: «no ano 14 do reinado do imperador Augusto, quando no mundo inteiro reinava uma paz universal, em Belém de Judá, povoado humilde de Israel, então ocupado pelos romanos, em um presépio, porque não tinha lugar na pousada, de Maria virgem, esposa de José, da casa e família de Davi, nasceu Jesus, Deus eterno, Filho do Eterno Pai, e homem verdadeiro, chamado Messias e Cristo, que é o Salvador que os homens esperavam. Ele é a Palavra que ilumina todo homem; por Ele, no princípio, foram criadas todas as coisas; Ele, que é o caminho, a verdade e a vida, acampou, pois, entre nós. (…) Irmãos, alegrem-se, façam festa e celebrem a melhor notícia de toda a história da humanidade»[3].

«A melhor notícia de toda a história da humanidade»

Uma boa notícia não é sempre causa de júbilo? E quanto melhor seja a notícia, não será tanto maior o júbilo que se experimenta? Pois no dia de Natal a alegria que há de invadir-nos é a maior de todas, pois recordamos e celebramos «a melhor notícia de toda a história da humanidade»: Deus nasceu! Mas, que significa isto? Que Deus nos ama a tal ponto que fazendo-se Ele mesmo homem como nós —em tudo igual, menos no pecado— veio resgatar-nos do poder do pecado e da morte, reconciliar-nos de toda ruptura, levantar-nos de nossa miséria e fazer-nos partícipes da natureza divina[4].

Se o Menino que nos nasceu é o Evangelho vivo do Pai, isso quer dizer que Ele mesmo é “a melhor notícia”[5] de toda a história da humanidade. Em seu nascimento se realiza a antiga profecia: «Vede que a virgem conceberá e dará à luz um Filho, e lhe porá o nome de Emanuel, que traduzido significa: “Deus conosco”»[6]. O Menino Jesus é o Emanuel, Deus conosco! Esta é, pois, a melhor notícia para toda a humanidade: em Cristo, Deus se fez homem para que, por Ele e nEle, o homem seja elevado à participação da  natureza divina. Nisso consiste a glória do homem, sua vida e felicidade plena: em participar por Cristo da Comunhão de Deus–Amor, por toda a eternidade. Não é esta a melhor notícia para a humanidade inteira, para todo homem ou mulher que vêm a este mundo? Este Menino veio para salvar-nos[7], para abrir-nos novamente o caminho para a Casa do Pai! Ele mesmo é o Caminho que conduz à Vida plena e feliz à que aspira todo homem! E essa é a boa nova que a Igreja se esforça por anunciar a todos, como então o fez o anjo: «vos anuncio uma  grande alegria, que será para todo o povo. Nasceu-vos hoje um Salvador, que é o Cristo-Senhor, na cidade de Davi »[8].

Compartilhando a alegria da Mãe

Se há alguém que melhor que ninguém compreendeu o que significa esta presença reconciliadora de Deus no mundo, e se há alguém em quem não cabe maior gozo, essa é a Mulher bendita que, eleita desde todos os séculos, chegou a ser a Mãe do Emanuel. Por isso é referido a Maria o antigo convite à alegria messiânica feito séculos antes pelo profeta: «Exulta, alegra-te, filha de Sião, pois eis que venho para morar em teu meio»[9].

A alegria imensa que Maria experimenta desde o momento da Anunciação–Encarnação de seu Filho procede da presença real de Deus em seu seio maternal e de sua comunhão total[10] com Ele. Ela, convertida em uma  nova Arca da Aliança, expressa seu grande júbilo ante sua prima Isabel no formoso cântico do Magnificat, que não deixa de ressoar cada dia no coração da Igreja.

Maria é a primeira em alegrar-se ante esta grande noticia, e seu gozo é puro, intenso, inigualável. Quem quiser neste tempo experimentar verdadeiramente o gozo pelo Nascimento do Senhor, pode deixar de aproximar-se de seu maternal Coração? Assim poderá perceber  a alegria que traz em si e difunde apenas com sua presença e saudação, pois «quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre e Isabel ficou repleta do Espírito Santo»[11]. Também hoje, com sua presença maternal, Maria nos transmite o gozo que Ela experimentou ante tal extraordinário acontecimento.

Uma alegria que necessita ser compartilhada

E aquela infinita alegria que Maria experimentou ao pronunciar seu «Sim» —e posteriormente ao contemplar seu Filho nascido— seria mais que nenhuma outra aquela alegria que «não pode separar-se da comunicação de si mesma». Acaso não experimentou esse fortíssimo impulso interior que a levou imediatamente, como movida por uma mola, a querer compartilhar com Isabel aquele gozo que não podia conter em si mesma? Pois —como nos ensina a experiência humana— quando  a alegria inunda o coração ela necessita ser compartilhada.

Chamados a alegar-nos pela grande notícia do Nascimento do Senhor, não podemos ficar com essa alegria encerrada dentro de nós. Quem não tem a alegria em si, não se encontrou ainda com o Senhor. Quem se encontrou com o Senhor, quem o leva muito dentro de si como o fez a Virgem Mãe, experimenta um gozo e alegria que não se pode conter e que necessita comunicar-se, porque a alegria é difusiva: se transmite aos demais através de um rosto iluminado, de um  sorriso, dos gestos, das palavras… que dizer, quem vive a alegria de ter-se encontrado com o Senhor, a irradia aos demais, convida os outros a compartilhar sua própria alegria anunciando a todos esta grande notícia. E o melhor apostolado é o que irradia a alegria que inunda o coração quando o Senhor nasce e permanece em nós.

Citações para oração

  • A Anunciação-Encarnação do Verbo: Lc 1,26-38.
  • Maria experimenta um gozo inigualável pela Encarnação do Verbo: Lc 1,46-48.
  • O Menino que nascerá é Filho de Deus, concebido por obra do Espírito Santo: Lc 1,35; se chamará Jesus: Lc 1,31; Mt 1,21; Ele é “Deus conosco”: Mt 1,22-23.
  • O nascimento do Senhor: Lc 2,1-7.
  • O anjo anuncia a extraordinária notícia aos pastores: Lc 2,8-14; o Nascimento do Senhor é causa de júbilo universal: Lc 2,10-11.

Perguntas para o diálogo

1. Celebrar o Nascimento do Senhor Jesus é dispor o próprio coração para que o Menino Deus, mais uma vez,  seja acolhido nele. É um convite para acolher o dom com a alegria e ternura de Maria e José, dos anjos e dos pastores, que experimentaram aquele dia em Belém. Como tu recebes em teu coração o nascimento do Menino Deus? É causa de júbilo, de festa, de celebração?  Que podes fazer para acolhê-lo como nos ensina a Mãe?

2. A luz brilhou na noite sobre a gruta de Belém revelando que a Palavra de Deus tinha vindo ao mundo.  Contudo,  «o mundo não a reconheceu» (Jo 1, 10). Reconheceram-na somente os pastores de Belém que, pobres mas vigilantes, pressurosos seguiram a luz que lhes indicava o lugar onde havia nascido o Filho de Maria. Como estás preparando-te para acolher a Deus em teu coração? Que propósitos concretos tens feito para este tempo?

3. Maria entra na casa de Isabel e Zacarias e “quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre” (Lc 1, 41). Maria que leva o Senhor em seu seio é portadora da alegria suscitando no filho de Isabel um salto de gozo. Tua alegria pelo nascimento do Salvador procura ser difusiva a exemplo da de Maria?  Saltas tu de gozo ao encontrar-te com Deus feito Menino?



[1] Lc 2, 10.

[2] Rosarium Virginis Mariae, 20.

[3] Calenda de Natal.

[4] Ver 2Pe 1,4.

[5] A palavra “Evangelho” vem do grego “eu-angelos”, e se traduz literalmente como “boa notícia, excelente anúncio”.

[6] Mt 1,23; ver Is 7,14.

[7] Ver Mt 1,21.

[8] Lc 2,10-11.

[9] Zc 2,14.

[10] Jo 17,21.

[11] Lc 1,41.

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