Caminho para Deus 171: Maria, Mãe da Esperança

1893

Quando Maria foi apressadamente visitar sua prima Isabel, levando em seu seio nossa esperança, permitiu que São Lucas estampasse esta cena[1] como um emblema para todo aquele que, da mesma maneira, queira comunicar o Senhor aos outros, levando-O em sua própria vida.

Para viver a esperança deve-se fazer como Maria e dizer a Deus: «Faça-se em mim segundo tua Palavra»[2], acolhendo desta maneira o próprio Deus, nossa esperança. «O homem não inventa sua esperança, recebe-a de Deus». Esta virtude teologal vem em auxílio de nossa fraca e insuficiente esperança humana; sai ao encontro da incapacidade que o homem tem para dar a si mesmo uma esperança por si só, de modo que se intensifique em nós o desejo da união definitiva com o Pai, o Filho e o Espírito Santo para toda a eternidade.

O CORAÇÃO, LUGAR DA ESPERANÇA

Quando a Sagrada Escritura menciona o tema do coração do homem está referindo-se àquele núcleo da atividade interior onde a pessoa reflete, decide, reage, sente. Além disso, o coração assinala a profunda identidade do homem e, ao mesmo tempo, o âmbito de sua atividade interior onde se definem as coisas mais importantes para sua felicidade.

Das poucas citações em que aparece mencionada a Santíssima Virgem, há duas passagens que ressaltam sua vida interior: «Maria, porém, conservava todos estes fatos e meditava sobre eles no seu coração»[3] e «E sua mãe conservava no coração todas estas coisas»[4]. Isto nos permite entender que uma chave para viver a esperança está no que S.S. João Paulo II chamou a «espiritualidade da memória»[5]. Esta atitude mariana é muito importante para nosso tempo já que as rápidas mudanças culturais e o intenso ritmo em que se realizam as coisas, nossa vida interior vê-se perturbada por um imperativo mundano que nos força a desviar a atenção do essencial e do que dá sentido a nossa vida. Por isso, em meio a tantas pressas, temos que saber dar para nós o tempo e o espaço para dirigir nosso olhar a Cristo, à escuta atenta de sua Palavra e, entesourando-a, discernir cada momento que nos toca viver.

Maria alimentava seu coração com as palavras divinas e iluminava suas experiências a partir da fé. Não perdia os momentos mais importantes no esquecimento; não reduzia toda a sua vida ao plano do anedótico; pelo contrário, sabia que há experiências que têm um significado especial e que precisam ser entendidas mais a fundo com oração e meditação. Desta maneira, Ela procurava abrir seu coração para acolher cada vez mais plenamente o que Deus ia mostrando. Isto exigia que Ela vivesse uma reverência ativa, análoga àquela que vemos quando o sacerdote tem muito cuidado para não perder nenhuma das partículas da presença do Senhor na Eucaristia. De modo que, para viver a esperança é necessário cultivar o silêncio interior e, assim, discernir entre o que se tem que entesourar e o que merece perder-se no esquecimento.

À vida interior rica e profunda, nossa Mãe unia uma ação rápida e eficaz. Sua esperança fazia com que Ela “olhasse fixamente”[6] para seu Filho, e atuasse com a rapidez de quem foi iluminada pela “lâmpada que arde e ilumina”[7].

ALGUNS MEIOS PARA VIVER A ESPERANÇA

  1. Se a esperança requerer que tenhamos uma memória viva do Senhor, o lugar por excelência para isso é o memorial da Santa Eucaristia. Poder receber a Sagrada Comunhão é introduzir-nos na dinâmica da Virgem de aceitar e acolher o Senhor Jesus no próprio coração e poder caminhar com Ele.
    O que sentir frente à presença do Jesus em nós? Maria pode nos ensinar isso recordando a passagem da anunciação-encarnação quando vemo-la seguir pressurosa para compartilhar a alegria com sua prima Isabel. Cada vez que recebamos o Corpo e o Sangue de Cristo façamo-lo como Ela. Quando o sacerdote repete as palavras do Senhor Jesus: «Fazei isto em memória de Mim»[8], celebremos o memorial de nossa esperança.
  2. Pelo processo de amorização, aprendendo com nossa Mãe Santíssima, procuraremos também o Senhor Jesus na oração e na meditação da Sagrada Escritura. Aqui também se nutre nossa esperança. Os salmos, conhecidos como escolas de oração, apresentam-nos as palavras adequadas para educar nossa linguagem ao nos dirigirmos a Deus nas diversas circunstâncias da vida, como por exemplo, aquelas que dizem: «Minha alma espera no Senhor, espera em sua Palavra; minha alma espera no Senhor mais que o sentinela pela aurora»[9].
  3. Esta relação íntima e intensa acarretará o combate espiritual. Quanto esforço temos que fazer para não nos deixar vencer pela tristeza, depressão, frustração, desalento, desesperança? Quando avançamos em nossa luta contra o pecado, vamos acrescentando à nossa vida a luz da esperança porque Deus vai estando cada vez mais em nós: « Se alguém Me ama, guarda a minha palavra e meu Pai o amará. Eu e meu Pai viremos e faremos nele a nossa morada.»[10]
  4. Não há combate espiritual efetivo e fecundo sem a graça de Deus, cuja fonte está ao alcance da mão nos sacramentos e sacramentais que a Igreja nos oferece: ir à confissão renova nossa esperança; solicitar a unção dos doentes nos casos respectivos dá-nos novas forças; viver segundo nossa vocação seja no sacramento do matrimônio como no da ordem, capacita-nos para desdobrar essa dimensão de nossa vida; professar nossa consagração a Deus, alenta nossa esperança e a de outros; receber a bênção refresca nossa vida.
  5. Nossa esperança cresce quando anunciamos Cristo aos outros. Muitas pessoas confusas, desorientadas, sozinhas, vazias estão esperando que lhes falemos do Senhor Jesus; que levemos essa luz a suas vidas. E, ao fazê-lo e encontrar resposta é um alento e uma satisfação que fazem parte dessa comunhão que todos os homens estão chamados a viver.

PASSAGENS BÍBLICAS PARA ORAÇÃO E MEDITAÇÃO

Guia para a Oração

  • Temos que nos lançar ao cumprimento da missão com esperança, com a consciência de que Ele está conosco: Mt 28,19-20.
  • Estamos chamados a abundar em esperança: Rom 15,13; Devemos dar razão de nossa esperança: 1Pe 3,15; Pela esperança andamos contentes: Rom 12,12; Não temos que nos entristecer como quem carece de esperança: 1Tes 4,13; A esperança nos leva a atuar com confiança: 2Cor 3,12.
  • O testemunho de Maria alenta nossa esperança: Jo 19, 25; Jo 2, 1-5; At 1,14.
  • Maria sai ao encontro dos apóstolos, sua fortaleza e ardor nos ensinam a confiar e ter mais esperança, a pôr o olhar no horizonte de eternidade para o qual se dirigem cada um de nossos passos: At 1,14.

PERGUNTAS PARA O DIÁLOGO

  1. Você vive o exercício da presença de Deus?
  2. A esperança se expressa no desejo de viver com Deus. Você tem esta experiência?
  3. Você reza e medita com a Sagrada Escritura?
  4. Qual é sua experiência de comunhão com Cristo? Qual é o momento mais forte de sua relação com Ele durante a semana?
  5. Com que frequência você sente tristeza, frustra-se, desalenta-se? Quão prolongado é? O que você faz nestes casos?
  6. Com que frequência você vai ao sacramento da confissão?
  7. Você se entusiasma ao fazer apostolado? Você faz apostolado?

[1] Lc 1, 39-56

[2] Lc 1, 38

[3] Lc 2, 19

[4] Lc 2, 52 b

[5] Carta do Santo Padre João Paulo II aos sacerdotes por ocasião da Quinta-Feira Santa de 2005, nº 5.

[6] Hb 12, 2

[7] Jo 5, 35

[8] Lc 22,19

[9] Salmo 130, 6

[10] Jo 14, 23

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