Como os livros da Bíblia Católica foram escolhidos?

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A história da formação da Bíblia é muito interessante porque mostra que a ação de Deus não é contraditória com a ação do homem. Podemos observar certa continuidade na forma de se revelar de Deus, desde Abraão até Jesus e os apóstolos. Deus escolheu entrar na história e se valer de homens para revelar-se. Assim, desde os inícios do povo judeu, o homem vem sendo uma ferramenta por meio da qual Deus realmente se faz presente e essa forma não foi diferente com relação às Sagradas Escrituras.

Deus poderia ter jogado do céu a sua Palavra Escrita já completamente formada. Mas o que Ele escolheu fazer foi inspirar homens tanto para que a escrevessem como para que entre os diversos escritos selecionassem aqueles que eram realmente inspirados. Assim, dessa cooperação entre homem e Deus, na qual Ele sempre tem a primazia, o cânon da Bíblia* foi sendo definido. O Catecismo confirma isso quando nos diz que “foi a tradição apostólica que fez a Igreja discernir que escritos deviam ser enumerados na lista dos Livros Sagrados” (#120).

Todos conhecemos mais ou menos os livros da Bíblia. São setenta e três no total, divididos em Antigo e Novo Testamento. Quarenta e seis no Antigo Testamento e vinte e sete no Novo Testamento. Sobre o Antigo Testamento, o catecismo nos diz que é “uma parte indispensável da Sagrada Escritura (…). A economia do Antigo Testamento estava ordenada principalmente para preparar a vinda de Cristo, redentor de todos”. Sobre o Novo Testamento ele diz: “Estes escritos fornecem-nos a verdade definitiva da Revelação divina”. Os quatro evangelhos são o coração de toda a Bíblia porque são o principal testemunho da vida e obras de Jesus, nosso Salvador.

É verdade que a Bíblia Católica possui em seu cânon alguns livros a mais que as bíblias protestantes. Essa diferença acontece porque os protestantes, em geral, não aceitam os livros deuterocanônicos* em seu cânon. O porquê pode variar em cada denominação, mas esses livros não eram aceitos já na Bíblia hebraica, porque não possuíam alguns critérios como o de ter sido escrito em hebraico ou em determinada época. Os católicos assumiram esses escritos como inspirados, enquanto os protestantes voltaram para a bíblia hebraica e colocaram os deuterocanônicos como apócrifos.

*Deuterocanônicos – Livros contidos na Septuaginta, primeira tradução da bíblia, do hebraico para o grego

Apócrifo é um escrito que pode até ter algum ensinamento útil, mas que não foi considerado inspirado por Deus e, portanto, não está na Bíblia.

Não é uma história fácil e ainda gera discussões entre católicos e protestantes. O importante aqui talvez seja voltar ao tema fundamental da confiança em Deus que age de verdade por meio de sua Igreja. Foi Ele mesmo, por meio das mãos e inteligências humanas, que nos conduziu a esse cânon, que devemos conhecer e respeitar como Palavra de Deus.

“As Sagradas Escrituras contêm a Palavra de Deus e, por serem inspiradas, são verdadeiramente Palavra de Deus”, nos diz o Catecismo. E ainda completa de forma mais simples e profunda: “Toda a Escritura divina é um único livro, e este livro único é Cristo, já que toda a Escritura divina fala de Cristo, e toda Escritura divina se cumpre em Cristo”.

É difícil entender porque Deus escolhe atuar por meio de mediações humanas. Parece que essa cooperação faz com que as coisas fiquem um pouco mais confusas do que precisariam ser. Mas se olhamos com outros olhos, podemos ver nessa mesma dinâmica de cooperação a grande responsabilidade e confiança que o próprio Deus deposita no homem. A confiança de que, com sua Graça, nós podemos livremente cooperar para o seu reino e dirigir a nossa vida a Ele de todo o coração. Se Deus não respeitasse nossa liberdade, não seríamos mais do que marionetes em suas mãos.

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