Considerações sobre a morte

1489

Consideramos a morte como um mistério e não como um problema. Se a tomássemos como um problema, teríamos que assumir que a morte estaria diante de nós como um simples objeto, neutro, que pode me interpelar ou não, que permanece fora de mim e causa simples curiosidade e que, com certo esforço, eu poderia possuir uma resposta para ele, como diante de um problema matemático. Não percebemos a morte assim, mas sim como um mistério, porque o mistério nos interpela, não é alheio à minha experiência profunda, está dentro de mim. A morte como mistério revela todo o seu sentido maravilhoso e inefável, que nos abre à verdade sobre nós mesmos e nos faz valorizar a existência e os valores vitais em toda sua magnitude. Devemos nos aproximar dela com humildade, reverência e admiração para que ela nos ajude a encontrar a nós mesmos e a caminhar segundo o verdadeiro sentido da vida.

Existem muitas tentativas de defini-la: entendeu-se, classicamente, como a separação entre a alma e o corpo, também como ruptura final, parede final da vida e de qualquer plenitude; e também, descobrindo melhor seu sentido, definiu-se como última opção, última e máxima possibilidade e finalmente como “situação limite”. Especialmente as três últimas ajudam a compreendê-la não como um estorvo para a vida, mas sim como uma meta e uma possibilidade de plenitude, e ajuda a encarar a vida como uma peregrinação e uma aventura fascinante, a ser empreendida com toda a disposição do coração, da vontade e dos valores adquiridos e vividos.

Pensar na morte como a aniquilação do desejo natural de viver, seja em mim mesmo ou em meus seres queridos, poderia ser compreendido como algo mau. Mas esta compreensão é fruto de um entendimento horizontalista da morte. Se a entendermos como possibilidade, plenitude e passagem para a maior felicidade humana, não se pode, definitivamente, vê-la como algo mau, ao contrário, ela pode e deve ser compreendida como uma bênção e um bem. Por isso mesmo, embora a experiência pareça definitiva ou limítrofe, e por isso nos angustiamos, a consciência de transcendência e de imortalidade deve irromper, para lhe dar seu verdadeiro sentido e valor. A vida não acaba com a morte, transcende, mas a morte deve, de fato, levar-nos a pensar seriamente no rumo que estamos dando à nossa existência.

Pe. Andrés Echavarría Machado

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here